O presente artigo tem como principal propósito apresentar os resultados de uma pesquisa com oito entrevistados, realizada com profissionais do Direito, cuja característica principal é a ausência de antecedentes familiares em profissões com curso superior. Primeiramente buscou-se uma definição conceitual e metodológica da pesquisa qualitativa, bem como seu enquadramento amostral, e em seguida adentrou-se na caracterização dos perfis encontrados a partir de suas trajetórias. A pesquisa delineou três variáveis de interesse dentro do questionário semiestruturado utilizado: a dimensão familiar, a educacional e a profissional. Na seara familiar, investigou-se como o acesso ao curso e às profissões com nível superior comumente envolve certo distanciamento em relação à trajetória dos pais. Também pesquisamos as principais dificuldades educacionais narradas pelos entrevistados. Em seguida, perquirimos suas trajetórias no ensino superior, procurando entender de maneira articulada os obstáculos materiais e culturais narrados. Assim, tentamos desenhar os limites e possibilidades dos ingressantes dentro das profissões jurídicas. Conclui-se que o conjunto de dificuldades narradas não pode ser compreendido de maneira fragmentada, uma vez que produzem efeitos agregados para o público. Por fim, procuramos compreender as maneiras de inserção profissional. Encontramos duas maneiras gerais: o autônomo, que congrega tanto os que abrem seus próprios escritórios quanto os assistentes jurídicos paralegais, e os empregados de carteira assinada em órgãos privados e públicos. Verificou-se que não há uma única forma de inserção profissional, uma vez que os ingressantes não se encontram necessariamente em condição de precariedade laboral. Não que ela não exista, mas não se configura uma condição geral de todos os entrevistados e parece estar mais próxima dos assistentes jurídicos paralegais, que ainda buscam passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Embora os perfis não esgotem esse estrato social, o intento foi desenhar suas principais dificuldades e conquistas, demonstrado o acesso estratificado às carreiras jurídicas no Brasil.
Versão original: Este texto é uma tradução, revista e modificada, de nosso artigo original em alemão, intitulado "Bedeutung und Wandlung der Kapitalformen", publicado como parte do livro coletivo intitulado "Reproduktion sozialer Ungleichheit in Deutschland" (Reprodução da desigualdade social na Alemanha), organizado por Boike Rehbein (Konstanz; Munique: UVK Editora, 2015). O livro é resultado de uma longa e produtiva cooperação entre pesquisadores brasileiros e alemães, liderada pelos professores Jessé Souza (UFF) e Boike Rehbein (Humboldt Universität zu Berlin), o que gerou uma pesquisa teórica e empírica, de natureza qualitativa e quantitativa. A preocupação geral da pesquisa foi compreender a reprodução da desigualdade social na Alemanha, a partir da observação, naquele país, da especificidade de formas universais da desigualdade contemporânea.Tradução de Fabrício Borges, doutor em filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
o artigo faz uma análise de oito entrevistas semiestruturadas com advogados empregadores e com rendimentos de alto volume. A investigação focaliza em três principais eixos: a) a origem social e ingresso na advocacia; b) o perfil da clientela e formas de inserção profissional; c) prestação de serviços e passagem por carreiras de Estado. No primeiro quesito, delimitou-se três padrões de influência familiar: a direta, na qual o contexto familiar define as possibilidades de carreira do entrevistado; indireta, na qual há influência, mas o entrevistado se coloca como independente; e a reprodução de um contexto familiar favorável ao sucesso escolar, mas sem uma ingerência específica. No que concerne ao perfil da clientela, observamos que nessa predomina clientes empresariais. Neste âmbito, foi possível detectar a mobilização de capitais políticos e sociais, além da competência jurídica. Por fim, foram analisadas passagens por cargos em órgãos estatais. Ainda que não constitua regra geral entre os entrevistados, sua ocorrência também é acidental.
Neste artigo, comparam-se duas escolas de pensamento da teoria social a partir do conceito de trabalho. Estendem-se, então, suas contradições internas. De um lado, a teoria do reconhecimento comporta um conceito de trabalho que se deixa definir por seu valor sociocultural e simbólico, inserido na hierarquia moral ocidental. Seu paradigma é a sociedade salarial e a regulação estatal da paridade das relações profissionais. Já o construtivismo institucional entende o conceito de trabalho como atividade produtiva destinada à inovação. Seu enquadramento teórico visa a recuperar a aliança entre progresso técnico-material com o incremento da experiência social dos indivíduos.
Resumo: O intento de adentrar algumas das premissas teóricas contidas nos escritos econômicos de Pierre Bourdieu e Georg Simmel tem como base a compreensão da importância da investigação sobre práticas e condições econômicas. Ao invés de pressupor, de um lado, que práticas são apenas reflexos inerciais de condições econômicas, e, de outro, que práticas determinam as condições, mobiliza-se a ideia de uma dinâmica de condicionamento mútuo. Assim sendo, o acesso ao comportamento prospectivo com o dinheiro depende de condições prévias mais ou menos estáveis, permitindo ao agente perceber o uso potencial do dinheiro, não mais circunscrito ao imediato. A reconstrução dos dois autores tem essa preocupação como pano de fundo, buscando contribuir à renovação da teoria de classes. Abstract:The analysis of some theoretical arguments in the economic writings of Pierre Bourdieu and Georg Simmel assumes the importance of the investigation on economic practices and conditions. Instead of presupposing, on one hand, that practices are a mere reflex of economic conditions and, on the other, that practices determine conditions, we adhere to the idea of mutual conditioning. In this sense, the access to prospective economic practices depend on relatively stable conditions in which the potential usage of money flourishes. The reconstruction of the works of both mentioned authors follows this path by trying to contribute to the renewal of class theory.
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