O texto trata das intersecções entre literatura e artes visuais em The Illogic of Kassel de Enrique Vila-Matas e Leaving the Atocha Station de Ben Lerner. Ambos autores são “aliados da arte contemporânea”, como o próprio Lísias confessa ser, e seus livros considerados romances, assim como obras plásticas.
[1] Este texto desenvolve muitos pontos do meu ensaio "Outras arrebentações",publicado como posfácio a Notas da arrebentação.Marcelo Mirisola.São Paulo:Editora 34,2005. ❙❙ CRÍTICA 289 Dos autores que constituíram uma obra recentemente, Marcelo Mirisola está entre os que criaram os narradores mais relevantes.Talvez seja por aí -sempre pela forma -que se enxergará uma tendência nascente na literatura brasileira contemporânea.As obras mais importantes apostam tudo no narrador.A pequenina novela "Acaju (a gênese do ferro quente)", publicada primeiro sob a forma de folhetim na revista Cult e depois recolhida no volume de esparsos Notas da arrebentação, é um bom exemplo dos procedimentos formais adotados por Mirisola. 1 Já na primeira página,o narrador inicia seu hábito de escarnecer todo e qualquer detalhe que constitua a vida da personagem que será seu alvo, uma companheira de relacionamento, um amigo, vizinhos ou seja lá quem for. Aparece então uma listagem de mesquinharias, normalmente do gosto da nossa classe média. Em seguida o narrador desiste da crítica, sucumbe e admite desejar tudo o que estava criticando. A chave é clara: cria-se um universo de ridicularidades e quando ele está muito bem esquematizado,o narrador se alia a ele.De imediato,é desfeito o suposto ambiente de crítica que havia:o narrador é fraco a ponto de capitular perante toda a sordidez que ele mesmo revelava. Em "Acaju", a personagem Ana g. é o protótipo de tudo o que há de mais kitsch e boçal entre nós, no entanto o narrador a escolheu (dona de "brotoejas encantadoras") para ser a potencial mãe de sua filha.A propósito,uma das imagens mais recorrentes na obra de Marcelo Mirisola é a singela figura de uma filha que o narrador,a todo instante, reitera nunca ter tido. Em diferentes situações, aparece uma criança bonita e doce que a covardia dos pais nunca deixa nascer.A outra ima-CRÍTICA CAPITULAÇÃO E MELANCOLIA
Neste diálogo inimaginável, colocamos frente a frente o escritor Ricardo Lísias, o editor Gabriel Nascimento e dois nomes emergentes na literatura brasileira contemporânea que publicam suas obras sob pseudônimo, como forma de ocultarem seus ortônimos: Messias Botnaro e Joanim Pepperoni, PhD. Embora o tom desejado da matéria fosse, inicialmente, o acadêmico, de acordo com os princípios internacionais de conduta e prática editorial, os escritores enveredaram pelos caminhos da galhofa e do humor, de modo que o texto final embaralha as fronteiras entre ficção e realidade, assumindo contornos satíricos.
Se eu tivesse mais coragem, voltaria ao pátio só para ver se aquele homem estava mesmo com um relógio de bolso pendurado no colete. Mas agora que eu já cheguei até aqui, acho melhor não voltar para trás: tenho medo de perder a coragem e não conseguir falar tudo para ela. Dessa vez, prometo, vou ter coragem. Ela merece. Por isso, inclusive, resolvi vestir a minha melhor roupa. Eu me sinto mais corajoso assim. A minha melhor roupa me deixa mais forte. Mais seguro. Um relógio de bolso, pensando bem, me daria mais controle. Forte, seguro e controlado, certamente eu teria coragem para falar tudo o que eu sempre quis. Só que eu precisaria de um bolso no colete para pendurar o relógio. Modelos de bolso ficam elegantes apenas no bolso. Um bolso me deixaria mais controlado, e um relógio, pois eu teria onde esconder as mãos se ficasse com vergonha.
RICARDO LÍSIAS UMA CRÍTICA PESSOALPubliquei minha primeira resenha no início de 1999, acho que no jornal O Globo. Meu primeiro romance saiu no final do mesmo ano. Na década seguinte, dividi meu tempo entre a redação de uma boa dissertação de mestrado, uma tese de doutorado mediana, um conjunto numeroso de resenhas para a grande imprensa, alguns ensaios de maior fôlego para revistas especializadas e a produção de outros dois romances e um livro de contos. No sentido amplo do termo, vivi de literatura.Naquela época, jamais pensei em separar o trabalho de criação do que pode ser algo mais propriamente reflexivo. Até hoje, inclusive, não me sinto muito confortável fazendo isso: há algum tempo tenho tentado incluir na ficção uma análise sobre o seu próprio estatuto.Ainda assim, percebo agora que cumpri um percurso quase oposto no que diz respeito a essas formas diferentes de se aproximar da literatura. Em 2005, quando publiquei o romance Duas praças, eu era um crítico popular e, ao mesmo tempo, um ficcionista conhecido apenas por um certo grupo de leitores. Hoje, oito anos depois, publico quase apenas ficção e meus livros, guardadas as proporções da realidade brasileira, são bem conhecidos e discutidos. Enquanto parei de falar dos outros, estão cada vez mais falando de mim.Não quero, porém, deixar a impressão de que existe necessariamente uma relação de causa e consequência no que estou levantando. Trata-se de outra coisa: na verdade, perdi o ânimo para escrever textos críticos. Espero que seja passageiro.Minha colaboração mais estreita, no que diz respeito aos grandes jornais, deu-se em O Estado de S. Paulo. Colaborei eventualmente com os outros, mas foi no tradicional diário paulistano que publiquei a maioria
Sociólogos que se debruçaram sobre o período final da última ditadura militar, conhecido como redemocratização, observaram que a narrativa da “violência urbana” começou a aparecer com cada vez mais força no discurso político da população. O medo do terrorismo, incutido pelos ideólogos do regime militar, estava sendo substituído por outro, o receio de que a bandidagem se tornava cada vez mais ameaçadora. Alguns ficcionistas colaboraram para o crescimento e a fixação desse novo medo. Esse ensaio procura apresentar o papel nessa transformação de um dos principais autores do período: Rubem Fonseca.
Nos anos que antecederam o golpe militar de 1964, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês) realizou diversas atividades de propaganda com o intuito de desestabilizar o governo de João Goulart e com isso ajudar no estabelecimento de condições que possibilitariam a ruptura democrática. Entre as atividades do instituto estava o financiamento, supervisão de criação e distribuição de uma série de documentários que, exibidos no país inteiro, tinham como intenção propagar a ideologia liberal e, ao mesmo tempo, fortalecer as correntes que queriam, a qualquer custo, a saída de Goulart. A autoria dos roteiros desses documentários é controversa: alguns pesquisadores a atribuem ao escritor Rubem Fonseca, apoiados em alguns documentos e testemunhos, enquanto outros recusam essa hipótese. Algo ainda não realizado é a comparação formal entre os documentários e a obra que Fonseca produziu nesse período. Este ensaio esboça, nos seus limites, uma comparação.Palavras-chave: golpe de 1964; Ipês; Rubem Fonseca.
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