ESTE TRABALHO trata de um aspecto da diversidade cultural do caboclo amazônico, isto é, a religião. Esta se constitui numa espécie de catolicismo popular, que mantém relações com o xamanismo nativo - a pajelança cabocla -, e que se originou de antigas práticas e crenças dos índios Tupinambás, que habitaram parte da região amazônica no período colonial, bem como de influências portuguesas e africanas.
HIS PAPER deals with a particular aspect of the Amazon caboclo's cultural diversity, namely, religion. Caboclo religion represents a form of folk Catholicism, witch is related to native shamanism - pajelança cabocla -, originating from practices and beliefs of the Tupinambá Indians, who inhabited part of the Amazon Region in colonial times, and cultural influences from Portuguese colonialists and African slaves
O estudo sobre novos movimentos eclesiais na Igreja Católica, desenvolvido na Amazônia Oriental brasileira, permite uma reflexão sobre a influência dessa Igreja em duas áreas rurais do estado do Pará: a Transamazônica e a microrregião de Tomé Açu. Em ambas, sua atuação, através das chamadas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), muito ativas, desempenha papel relevante entre as populações dessas áreas. O artigo se propõe a analisar a condição social dessas populações que, em função de suas vivências e práticas, incorporando criticamente a influência de agentes de pastoral, assumem novas identidades e novas práticas de natureza política e religiosa, antes não existentes em seu meio.
The study about new ecclesial movements in the Roman Catholic Church, in Oriental Brazilian Amazon, has allowed a reflection on the influence of that Church in two rural areas of the State of Pará: the Transamazônica Highway and the Tomé Açu micro-region. In both, the so-called Ecclesial Base Communities, very active, play important role between the populations of these areas. The article proposes to examine the social condition of those people who, according to their experiences and practices, incorporating critically the influence of pastoral agents, take on new identities, and new political and religious practices, not present before in their territory
Trata-se, aqui, de duas metáforas bastante apropriadas no âmbito da peregrinação: a Mãe e o Filho. Ao abordá-las, pretendo comparar dois estilos de romarias bem características do catolicismo brasileiro. Em ambos os casos, delas participei, com uma diferença: da do Bom Jesus de Pirapora, somente uma vez, em 1983, juntamente com Rubem César Fernandes, que publicou dois artigos sobre ela (cf. Fernandes 1990(cf. Fernandes e 2000. Na época, ocupado com outro trabalho, guardei e quase esqueci as anotações que fiz sobre essa romaria. A outra romaria de que trato neste artigo foi parcialmente abordada em minha tese de doutorado, publicada em livro (Maués 1995), mas dela tenho participado tantas vezes, quase anualmente, em Belém, cidade onde moro. Não obstante, aqui, sigo também formulações de ex-aluna, em sua dissertação de mestrado (Ximenes Ponte 2011), que a aborda bem mais especificamente do que o fiz na tese e em trabalhos posteriores.Neste artigo, levo em conta importante tradição antropológica e histórica sobre o tema, que inclui estudos clássicos e modernos, entre os quais devo, desde logo, mencionar os trabalhos de Victor Turner de que me vali: O Processo Ritual (Turner 1974) e Dramas, campos e metáforas (Turner 2008), em suas traduções para o português, e, no original, o livro em parceria com Edith Turner sobre peregrinações (Turner e Turner 1978). Além deles, dois outros trabalhos menos conhecidos, sobre a peregrinação medieval no referencial Caminho de Santiago (Singul 1999) e sobre peregrinações 122 Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 33(2): 121-140, 2013 no presente e no passado nas diversas "religiões mundiais" (Coleman e Elsner 1995). Destaco também o precioso estudo de Pierre Sanchis sobre as romarias portuguesas (Sanchis 1983). E, entre outros, referentes ao Brasil, privilegio o trabalho de Alfred Métraux (dedicado a Marcel Mauss) sobre a religião dos Tupinambás, onde, entre vários aspectos, o autor trata do mito da "terra sem mal" (Métraux 1979). Três estudos dos quais igualmente me vali são os livros de Ralph Della Cava, sobre o Padre Cícero, de Candace Slater, a respeito das romarias a Juazeiro, e de Carlos Steil sobre o santuário do Bom Jesus da Lapa (Della Cava 1977; Slater 1986; Steil 1996) 2 . Lembro, porém, desde agora, minha preocupação de estabelecer relação da temática das peregrinações não somente com questões já tratadas por Marcel Mauss e Henri Hubert (Mauss 2003; Mauss e Hubert 2003), sobre magia e técnicas corporais, mas também o estabelecimento de relações entre a temática principal deste artigo e o clássico estudo sobre o sacrifício de Mauss e Hubert (2005).Sem fazer, aqui, uma longa exposição teórica abarcando as formulações de todos esses autores, desejo, no entanto, destacar alguns pontos que devem ser ressaltados inicialmente. Em primeiro lugar, o âmbito das peregrinações ou romarias. As peregrinações existem em muitas versões religiosas, e esse termo, abrangente, pode aplicar-se a todas elas. Não estão presentes somente nas manifestações religiosas estruturadas como i...
Resumo A relação estabelecida numa das mais importantes festividades religiosas brasileiras – o Círio de Nazaré, em Belém do Pará – entre religião, festa e comida permite refletir sobre esse banquete sacrificial, tomando como mote o “paticídio”, que nos leva a pensar em sacrifício nas práticas religiosas contemporâneas. Trata-se de ritual dentro do ritual, representando momento de confraternização entre famílias. O artigo reflete sobre esse ritual à luz da teoria antropológica, analisando-o como sacrifício, cujas celebrantes são as donas de casa. Assim, esse ritual doméstico se torna quase obrigatório, ocasião de marcar a identidade paraense, invocando a “fábula das três raças”, representadas na origem dos alimentos rituais tradicionais que são o pato no tucupi (indígena), a maniçoba (africana) e o bacalhau (portuguesa).
Este artigo trata de algumas técnicas corporais na Renovação Carismática Católica, partindo clássica definição de Marcel Mauss a respeito dessas técnicas: “as maneiras como os homens, sociedade por sociedade e de maneira tradicional, sabem servir-se de seus corpos” (“Les façons dont les hommes, societé par societé, d’une façon traditionnelle, savent se servir de leur corps”). O trabalho de campo foi feito em Belém, Pará, Brasil, em quatro paróquias católicas. As técnicas descritas e interpretadas foram, entre outras: o toque corporal, a imposição de mãos, a dança, a glossolalia (orar em línguas) e o repouso no Espírito. Foi feita uma comparação com as técnicas corporais utilizadas numa espécie de culto xamanístico muito popular entre habitantes rurais (“caboclos”) da Amazônia Brasileira chamada “pajelança cabocla”. Embora muitas das técnicas sejam as mesmas, enfatiza-se que a diferença reside na maneira pela qual as pessas as concebem, isto é, em seus significados diversos.
Resumo:Discuto um aspecto das várias manifestações religiosas que têm sido pesquisadas no Brasil, que é a mística e, mais especificamente – em meu caso particular –, na Amazônia Oriental. A mística está presente em todas as formas de religião, mas restrinjo estas reflexões a determinados cultos e igrejas. Começo tratando de cultos xamânicos que estudei mais particularmente numa parte da Amazônia brasileira, passando em seguida ao importante fenômeno do pentecostalismo, que estudei, por vários anos, no âmbito da Arquidiocese de Belém, através da Renovação Carismática Católica. Analiso ainda a mística das aparições marianas, a presença da mística de matriz africana e, também, no xamanismo urbano, em algumas manifestações da nova era, bem como a mística das plantas e de outras substâncias de poder. Estes últimos tópicos, com base na literatura disponível. Todas essas questões serão discutidas tendo como pano de fundo teórico a temática da secularização, do desencantamento do mundo e, também, de um possível reencantamento, em que as igrejas estabelecidas perdem seus adeptos, enquanto outras formas religiosas se mantêm ou se multiplicam.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.