RESUMO: Embora não tenha sido consagrado como crítico literário, Albert Camus apresentou alguns elementos básicos para a criação artística em diálogo com os intelectuais de sua época, como Jean-Paul Sartre e Roland Barthes. Para apresentar tais noções e suas mutações ao longo da carreira do escritor, o presente artigo propõe explorar o ato de escrever como resistência à condição absurda, presente em "A inteligência e o cadafalso" e posto em prática em O estrangeiro. Em seguida, analisa-se como essa concepção aparece no segundo ciclo de obras do escritor, quando a noção de absurdo se estende à coletividade em A peste e em O homem revoltado.PALAVRAS-CHAVE: Albert Camus. Crítica Francesa. Literatura de Engajamento. THE RECOMMITTED LITERATURE NOTES ABOUT CREATION AND COMMITMENT IN ALBERT CAMUSABSTRACT: Although Albert Camus has not been consecrated as a literary critic, he presented some basic elements to the artistic creation in dialogue with Jean-Paul Sartre and Roland Barthes. In order to present these notions and its mutations in Camus' career, this article proposes to explore the act of writing as a resistance to the absurd condition present in "The intelligence and the Scaffold", and put into practice in The stranger. Afterwards, we will investigate how this conception appears in the second circle of the writer's works, when the notion of absurd is extended to the collectivity in The plague and The rebel.
resumo: Partindo das teorias de Antoine Berman em A prova do estrangeiro, o presente artigo tem como objetivo introduzir uma discussão acerca da tradução dos primeiros cadernos de Albert Camus. A proposta de uma tradução da letra do original permite que se conserve a natureza própria dos cadernos que é de ser fragmentário, íntimo e inacabado, evitando, assim, processos como o de clarificação e o de enobrecimento. Essa postura tradutória se coaduna com a temática camusiana do silêncio e do estranhamento, que podemos observar ao longo de toda sua obra, e particularmente nos cadernos. palavras-cHave: tradução; cadernos; silêncio, Albert Camus; Antoine Berman abstract: From Antoine Berman's theories in L'épreuve de l'étranger, this article aims to introduce a discussion about the translation of Albert Camus' first notebooks. The proposal of a translation from the letter of the manuscript allows maintaining the proper nature of the notebooks that is the feature to be fragmented, innermost and unfinished avoiding the some processes such as the clarification and the ennoblement. This manner of translate combines the camusian themes of the silence and the estrangement which we can observe through his whole work and particularly in the notebooks. KeY-Words: translation; notebooks; silence; Albert Camus; Antoine Berman 1. "escrever minHa alegria profunda": tradução e Heterogeneidade nos carnetsConsiderando que aventurar-se em uma operação tradutória compreende submeter-se a um trabalho de intermediação entre duas culturas a partir de um objetivo ideológico, no presente artigo é proposta uma possibilidade de tradução para o português brasileiro dos cadernos do escritor argelino Albert Camus sob uma abordagem que defende tal processo enquanto "(...) um gesto de abandono do mesmo, do conhecido, a ida de encontro ao outro, que resultaria em um espaço de mestiçagem no qual seriam valorizadas as especificidades e diferenças das culturas e das línguas de cada povo". (Chanut, 2012, p. 164). Para se inserir no espaço silencioso e íntimo dos cadernos de forma ética a tradução transforma-se não somente em gesto técnico, mas em movimento crítico que ultrapassa o julgamento de valor sobre a obra e reflete sobre a experiência que resultou a sua criação.Dos vinte e dois anos até a sua morte, Camus deixou anotações em nove pequenos cadernos escolares de folhas quadriculadas. Tais escritos são de cunho diverso, abrangendo notas de leitura, relatos cotidianos, diários de viagens, projetos de obras, gênese de textos que 1 Mestrando em literatura francesa junto ao Departamento de Letras Modernas da USP. E-mail: raphael.araujo@usp.br. 2Doutoranda em literatura francesa junto ao Departamento de Letras Modernas da USP.
RESUMO Este texto pretende fazer uma introdução ao livro A queda, de Albert Camus, levando em conta considerações suscitadas por Jacquéline Lévi-Valensi e Anne Coudreuse, duas especialistas da obra. Escrita nos primeiros anos do pós-guerra, A queda se constitui como um monólogo híbrido que se subdivide em encenações teatrais, anedotas romanescas e máximas moralizantes. Essa estrutura adéqua-se inteiramente à concepção ideológica da obra, que busca questionar os discursos tradicionais, revelando a decadência do sentido atribuído à linguagem. A derrocada dos valores humanos reflete-se no protagonista por meio da sua hipocrisia-oscilante entre maldade e culpabilidade-que o leva a dividir-se em confissões duplas, pois também são acusações. Indiretamente, tal postura remete-se ao intertexto baudelairiano, que por meio do conceito do riso, é capaz de sintetizar essa denúncia ao julgamento universal. ABSTRACT This text intends to do an introduction to the Albert Camus' The fall, counting on the considerations that Jacquéline Lévi-Valensi and Anne Coudreuse, two specialists in this title, have brought up. Written in the postwar first years, The Fall is a hybrid monologue subdivided into theater's mise en scene, romantic anecdotes and moral maxims. This structure is completely appropriate to its ideological propose of critic that searches to contest the traditional discourses, showing the decadence of the language's sense. The human value's crisis reflect in the protagonist by his hypocrisy-oscillating between badness and culpability-that makes him to divide himself in double confessions that are also accusations. Indirectly, this posture refer to the baudelairian's intertext that, through his laugh's concept, is able to do a universal judgment denounce synthesis. Introdução: construir a partir de ruínas Segundo Adorno, em seu texto "A educação após Auschwitz", o homem do pós-guerra vivenciou um processo histórico que criou um coletivo sem resistência, passivo ao realismo determinado pela manipulação da autoridade. O indivíduo desse período estaria desprovido de emoções e de autonomia reflexiva, constituindo-se como consciência coisificada-parte de uma massa amorfa e indiferente. Essa indiferença se faz risco iminente de um retorno ao terror dos campos de concentração, pois é a essência do silêncio daquele que ignora as injustiças para se poupar e proteger seus interesses individuais. Diante disso, cabe ao esclarecimento levar o homem a uma autorreflexão, não só para perceber sua frieza, mas também para notar as razões que a 1 Estudante de Letras com habilitação em francês e português pela USP. Atualmente, faz iniciação científica como bolsista da Fapesp, pesquisando a relação entre Charles Baudelaire e Albert Camus.
Agnès Spiquel apresenta grande simplicidade ao responder nossas questões e se revela uma pessoa bem disposta a contribuir com as manifestações camusianas ao redor do mundo. Sua famosa frase "Eles não leem Camus, eles o usam!" 3 em uma entrevista concedida ao jornal francês Le monde em 2012 ilustra uma das grandes preocupações dessa leitora apaixonada pelo trabalho de Albert Camus: defender a leitura da obra do "menino de Belcourt" antes de qualquer uso ou julgamento prévio. Dentre os estudos que contam com sua contribuição e autoria, que servem de exemplo do seu amplo domínio ao longo de mais de vinte anos de inclinação sobre a obra de Camus, poderíamos mencionar Lire les Carnets d'Albert Camus, Lectures d'Albert Camus, Albert Camus: l'exigence Morale: homenagem à Jacqueline Lévi-Valensi e Camus et de Gaulle.É com grande entusiasmo que a revista Criação & Crítica apresenta a seus leitores esta entrevista com um dos ícones dos estudos camusianos e da crítica francesa atual. Qual a importância do colóquio de 1982, em Cerisy-la-Salle, para os estudos camusianos?Até aquele momento, grandes pesquisadores se interessavam por Camus, na França, nos Estados Unidos e em vários países estrangeiros; eles trabalhavam com seus estudantes e formavam "discípulos"; mas só estabeleciam vínculos por meio de relações bilaterais, frequentemente por relações de amizade. Ao reuni-los durante uma semana, o colóquio de Cerisy lhes permitiu trocar ideias, projetos; isso deu a eles vontade de unir as forças, criando contatos regulares e menos informais. Você poderia nos contar um pouco sobre o contexto de criação da SEC?De início, gostaria de deixar claro que não faço parte dos fundadores da SEC; mas já me contaram muitas vezes sobre essa fundação. Foi Raymond Gay-Crosier que, em uma conversa com Jacqueline Lévi-Valensi no colóquio de 1982, evocou a possibilidade de se criar uma associação em torno da obra e do pensamento de Camus. Mas, como ele mesmo morava nos Estados Unidos, foi decidido que Lévi-Valensi, acadêmica francesa, presidiria essa associação.
Eu havia acabado de ler mais uma vez o velho pedaço de jornal com o caso que se passara na Tchecoslováquia. Continuo achando-o ora natural, ora inverossímil. Minha única leitura nos últimos anos. Eu me acostumei com ele. Quando lemos o mesmo texto inúmeras vezes é como se vivêssemos dentro de um tronco oco de árvore. Só podemos olhar para o alto. Às vezes chove, às vezes faz sol. Mas o céu permanece o mesmo. Foi quando meu novo advogado veio me visitar em minha cela. Após discorrer por mais de meia hora, da qual só prestei atenção os cinco primeiros minutos, ele me encarou com um brilho irônico nos olhos e disse:-Meu senhor, posso oferecer-lhe meus préstimos, sem correr o risco de ser inoportuno? Em meu cartão de visita está escrito: Jean-Baptiste Clamence, ator. Não confie! Verifiquei que o meu caro compatriota tem se enfadado com esse mesmo texto nos últimos tempos. Albert Camus já fez uso dele. Criou a peça O malentendido. Gostaria de oferecer-lhe algo novo. A homenagem que a revista Criação & Crítica número 10 faz aos seus cem anos. Sem dúvida, pode lhe interessar.
Ao longo da carreira de Albert Camus, é possível identificar diversos momentos de intervenção nos assuntos políticos da Argélia. Seus principais escritos sobre a questão foram reunidos em Crônicas argelinas, obra na qual se encontram mais de vinte anos de luta por uma relação de justiça, dignidade e paz entre metrópole e colônia. Esse seu posicionamento se alinha a uma proposta mais recente presente em alguns ensaios do filósofo martinicano Édouard Glissant. Sua concepção a respeito da função do artista ante os conflitos do mundo encontra em Camus uma de suas inspirações, como ele mesmo afirma na entrevista “Solitário e Solidário”. O presente artigo propõe portanto uma leitura de Crônicas argelinas a partir de um diálogo com o pensamento de Glissant, com maior enfoque para sua aproximação entre o político e o poético.
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