Neste artigo, apresentamos um debate sobre a relação entre gênero e trabalho de campo, formulado a partir de nossas experiências na Bolívia e buscando consolidar uma crítica ao machismo na academia. Com trajetórias disciplinares distintas (antropologia, ciência política, relações internacionais e sociologia), apresentamos relatos sobre como ser mulher marcou diversos momentos da nossa pesquisa, desde escolhas de lugares nos quais trabalhar e nossos acompanhantes durante o campo a que fontes iríamos consultar. O ponto central deste trabalho é o entendimento de que a suposta “neutralidade acadêmica” vigente, que tem o masculino como norma, ignora o assédio e a violência sexual como problemas do campo e da produção acadêmica como um todo, isolando-os como problemas da mulher. Pretendemos, assim, contribuir com o desenvolvimento de um léxico comum que permita a outras mulheres pesquisadoras abordar suas problemáticas em campo sem se sentirem menos capazes ou marcadas por sentimentos de culpa e vergonha.
No momento em que Evo Morales tenta concorrer ao seu quarto mandato presidencial, busca-se lançar luz sobre o progressivo afastamento entre seu governo e parte dos setores subalternos que contribuíram para a sua ascensão e consolidação. Apenas é possível entender a eleição de Morales em 2005 e o crescimento do Movimiento al Socialismo (MAS) tendo em mente o ciclo de protestos populares contestadores do modelo político-econômico adotado pelos governos bolivianos a partir de 1985, caracterizado pelo pacto entre elites políticas e a adoção de políticas neoliberais. No primeiro mandato de Morales houve uma reorientação da economia nacional e a construção de um novo modelo de Estado. Progressivamente apareceram as contradições ligadas a dois objetivos desse projeto político: o reconhecimento da diversidade social e política existente na Bolívia e a expansão estatal. O debate acerca da consolidação de governos autônomos indígenas ilumina os embates no que tange à distribuição de poder político para setores subalternos – protagonistas do ciclo de protestos e das mudanças dele decorrentes –. e à adoção pelo governo central de um modelo econômico qualificado de neoextrativista.
Resumo Este artigo apresenta uma reconstituição do último ciclo de crises políticas vividas pela Bolívia (2000-2008), a partir, notadamente, da ação de três organizações sociais: a Confederación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Bolivia (CSUTCB), a Confederación de los Pueblos Indígenas de Bolivia (Cidob) e o Consejo de Ayllus y Markas del Qullasuyu (Conamaq). Na primeira fase do ciclo, a forte mobilização social rompeu com as fronteiras do campo político institucional; na segunda, a crise política adquiriu novas características à medida que atores deslocados do controle do poder político nacional buscaram a desestabilização institucional. Com a superação da crise e o retorno à “conjuntura ordinária”, as fronteiras do campo foram redefinidas, excluindo parte daqueles atores indígenas que haviam atuado na construção de um novo Estado.
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