Nos anos 1940, Wittgenstein aprofunda a expansão do campo criterial dos conceitos e da sua análise possível e desejável, na direção de uma maior inclusão, no formal, do vivido. O presente artigo examina algumas questões relativas à acusação de que, ao ampliar o âmbito de análise conceitual à prática (ou, como dizia o filósofo, ao "comportamento ritual"), Wittgenstein teria extraviado a sua sensibilidade filosófica em investigações estritamente empíricas, ou seja, filosoficamente irrelevantes. PALAVRAS-CHAVE: Linguagem ordinária. Comportamento linguístico. Pragmática. Autonomia do Sentido. Austin. Wittgenstein.Quando pedíamos por uma distinção entre o que é importante e o que não é importante (com isso, é claro, nos referíamos a uma distinção entre dados linguísticos que são e, novamente, que não são filosoficamente importantes), não raro éramos confrontados com a afirmação (também avançada ao final do artigo de Austin "Pretending") de que ele, Austin, não era muito bom em distinguir entre o que era e o que não era importante. (Paul Grice, 1987, p. 182)
Abstract:The notion of intermediate links, which reveal themselves through comparisons between language games, indicates the very objects of incidence of conceptual investigation -whose context of pertinent elements is continuously expanded by Wittgenstein. In its negative operation, such notion is prophylactic against the philosophical attitude of searching for an ultimate and definitive ground for the problem of the form of presentation. In its negative operation, it is the conceptual tool that will allow for the crucial step of relativising the closed propositional systems. But perhaps the full reach of the use of 'intermediate links' is shown when we inquire whether the diversity of panoramic scenes of the perspicuous mode of presentation of concepts -whose outline makes up the bulk of the philosophical "new method" proposed by Wittgenstein -more than including intermediary cases, in an adventitious fashion, is constituted by these. Key-words: Intermediate cases, perspicuous presentation, analysis (Philosophy), use, concept, Wittgenstein.Resumo: A noção de ligações intermediárias de sentido, que se revelam através de comparações entre jogos de linguagem, indica os objetos excelsos de incidência de uma investigação conceitual -cujo contexto de elementos pertinentes é progressivamente ampliado por Wittgenstein. Na sua operação negativa, tal noção é profilática contra a atitude filosófica de se buscar um solo último e definitivo para o problema da forma de apresentação. Na sua operação positiva, é a ferramenta conceitual que permitirá o passo crucial de se relativizar os sistemas proposicionais fechados. Mas talvez o pleno alcance do uso de 'ligações intermediárias' se revele ao nos perguntarmos se diversidade de cenas panorâmicas da forma perspícua de representação de conceitos -cerne do "novo método" filosófico proposto por Wittgenstein-não apenas inclui casos intermediários, de forma acessória, mas, mais do que isso, é constituída por esses. Palavras-chave: Ligações intermediárias, representação perspícua, análise (Filosofia), uso, conceito, Wittgenstein.
Na investigação acadêmica/científica, o vago é usualmente tratado como desvio do exato. Na teoria da tradução, isso toma corpo no conceito tradicional de ‘equivalência’ como igualdade a priori e no nível do sistema linguístico. Contra essa visão, retomamos aqui uma aproximação entre o conceito de ‘normas tradutórias’ de Gideon Toury e a concepção de linguagem do Wittgenstein tardio, orientando-nos também pelos comentários do filósofo brasileiro Arley Moreno. Defendemos que o vago tem precedência lógica ante o preciso, na linguagem tout court e na tradução de modo específico. Isso se aplica particularmente aos vetores ‘adequação’ e ‘aceitabilidade’ que Toury apresenta em seu “kit do tradutor” — a partir do conceito de ‘semelhança de família’ do Wittgenstein tardio.
Literatura e arte, por um lado, e discurso argumentativo, por outro, soem situar-se em campos opostos, de tal maneira que maximizar um é minimizar o outro. Mais ainda se restringimos os conceitos a poesia e lógica. Quando ensaiamos contrastar esses campos do discurso, listas de atributos distintivos necessários e suficientes, ou mesmo a noção de função, parecem recursos pobres para dar conta do papel que esses conceitos desempenham. Pensamos, com isso, no que Wittgenstein gostava de chamar de rituais de uma forma de vida – os quais haveria que descrever com mais perspicuidade para fazer justiça ao contraste sugerido, se quisermos ser mais prudentes com tal oposição. O texto é um chamado a essa prudência. Abstract: Literature and art, on the one hand, and argumentative discourse on the other are usually placed opposite to each other, in such a way that to maximize the one is to minimize the other. Even more so if we restrict the relevant concepts to those of poetry and logic. When we try to contrast these fields of discourse, lists of distinctive, necessary and sufficient attributes – or even the notion of function – seem to be poor instruments to describe the role played by those concepts. We think here of what Wittgenstein liked to call rituals of a form of life – which one should describe more perspicuously in order to do justice to the suggested contrast, if prudence shoud preside over such opposition. This paper is a plea to this prudence. Keywords: Argument; Rhetoric; Narratology; Wittgenstein; Theory of Literature; Aesthetics
resumo Este artigo investiga alguns usos da metáfora da linguagem como cálculo em Wittgenstein. A metáfora do cálculo emerge, nos anos 30, numa interlocução com o referencialista, e é ali instrumental na recondução do olhar filosófico para os usos efetivos do simbolismo linguístico. Contudo, foi levada longe demais, ao sugerir uma imagem da linguagem composta apenas de inferências à maneira dos sistemas de regras fechados. Isto embargaria certa expansão pragmática do contexto criterial da análise conceitual. Mas a aplicabilidade do símile do cálculo não é invalidada. A metáfora será reativada em manuscritos posteriores, sempre e quando puder servir aos mesmos propósitos do período intermediário, à medida que o ambiente dialógico convoque novas vozes dogmaticamente referencialistas. Ainda assim, é nos manuscritos intermediários que melhor se esclarece o seu funcionamento. Tal movimento exemplifica, por fim, um método filosófico que não procede por meio da superação de problemas à maneira científica. palavras-chave regras; cálculo; análise; uso; Wittgenstein; pragmática O recurso ao campo semântico do termo Kalkül por Wittgenstein, no início dos anos 1930, é um bom exemplo de um seu traço de estilo não muito glosado pelos comentadores: a antiga virtude da prudência. 'Cálculo' é usado em diferentes sentidos; não por inconsistência, e sim porque cada uso serve a diferentes finalidades, conforme o filósofo queira ressaltar este ou aquele aspecto do seu tema, e, em particular, consoante o interlocutor visado na passagem. 1 O nosso objetivo será investigar este movimento do uso da metáfora da linguagem como 125
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