Por meio da análise de obras acadêmicas produzidas por filósofos naturais no século XVIII, pretendemos discutir algumas ideias recorrentes acerca da Grande Cadeia do Ser. Para tal, analisamos as relações entre filosofia e teologia natural no período. Reavaliamos ainda alguns elementos da Cadeia do Ser, investigando autores que discorreram sobre o tema em seus escritos. Por fim, elencamos um ponto específico das discussões setecentistas sobre a scala naturae, qual seja, as diversas e nem sempre convergentes ideias de que, a partir de características específicas, haveria diferenças entre os homens, bem como seu consequente lugar na Cadeia do Ser.
Foi em plena zona mineira do Mato Grosso setecentista que o advogado licenciado José Barbosa de Sá afirmou que o ouro não era o minério mais importante para a economia colonial. Sua obra Dialogos Geograficos (1769) constitui uma das maiores cosmologias já escritas na América Portuguesa. No referente às descrições e relatos mineralógicos concebidos por este homem de Colônia, pretendemos analisar os preceitos filosófico-naturais, técnicos e tecnológicos que nortearam as teorias e critérios empregados na mineração colonial, bem como a atividade letrada colonial frente o estudo e exploração do mundo natural americano. Analisaremos também em que medida a obra pode contribuir à discussão da produção intelectual colonial acerca de uma atividade que não envolvia somente a prospecção e mineração de metais preciosos.
Durante o século XIX, as sociedades científicas iriam se multiplicar por todo o Brasil. Nesse contexto, pretendemos analisar que fatos históricos e fenômenos naturais eram por elas considerados como plausíveis para uma investigação. Assim, elegemos artigos e notas de pesquisa veiculados na segunda metade do século XIX pela Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia que noticiaram, por exemplo, a descoberta de homens com rabo no Oriente e de plantas carnívoras gigantes na América Central. O que intentamos discutir é não somente o quão verídicas essas notícias podiam ser consideradas, mas também as teorias e concepções que na época as endossavam.
resumo Este artigo visa discutir elementos filosóficos presentes na obra de José Barbosa de Sá (?-1776). Buscamos analisar o sistema de classificação botânica do autor, observando a relação com a construção de analogias e similitudes, avaliando em que medida tais ideias se coadunavam com concepções religiosas. Procuramos ainda discutir o conhecido debate sobre a reprodução vegetal no século xviii, analisando concepções não acadêmicas.Palavras-chave • Barbosa de Sá. Filosofia natural. Historia natural. Século xviii. Iluminismo. Plantas. Deus. Similitudes. Classificação. Reprodução.2 Rudwick realizou uma instigante distinção entre história e filosofia naturais. Esse especialista em história da mineralogia defende que não havia uma distinção hierárquica entre ambas, sendo que à história natural cabia a exclusiva descrição do mundo natural, enquanto a filosofia natural estaria encarregada não só de descrever, mas também de explicar as informações apresentadas (cf. Rudwick, 2005, p. 52-5). Na Encyclopédie de D'Alembert e Diderot, essa distinção é marcada por meio da separação entre a história e a filosofia. Segundo os autores, a compreensão humana seria essencialmente formada por três faculdades principais, a saber, memória, razão e imaginação, onde a memória simplesmente enumeraria suas percepções, a razão as examinaria, compararia e sintetizaria e, por fim, a imaginação, que imitaria e "forjaria" [contrefaire] a compreensão humana. Desse modo, como a história seria marcada por fatos, aos fatos naturais deveriam reportar-se à história natural, enquanto que a razão, a explicação, marcaria a filosofia e, assim, a filosofia natural deveria ser responsável pela explicação dos fatos naturais (cf. D'Alembert & Diderot, 1751). 3 Apesar de o termo designar aspectos mineralógicos, no século xviii, erário também era uma forma de descrever algo importante, grandioso. Como notou Muzzi (2002, p. 35), o termo foi utilizado por Luís Gomes Ferreira para atrair o leitor. As citações estão conforme o manuscrito e, portanto, foram registradas pela ordem dos fólios do manuscrito (recto; verso). Assim, onde se lia 402 recto, ler-se-á 402r, ou 33 recto; verso, será 33v. 4 O conceito de caleidoscópio foi empregado por Júnia Furtado (2002) a fim de compreender o complexo contexto de Luís Gomes Ferreira. De acordo com essa concepção, fontes primárias como o Erário mineral de Ferreira, ou os Diálogos geográficos de Barbosa de Sá fornecem informações ricas e variadas de modo a produzir interesses e preocupações diversas entre os leitores atuais, impossibilitando, desse modo, a expectativa de uma única leitura daquele documento, mas sim leituras específicas daquele documento/contexto.
Em meio ao conturbado contexto político de fi ns do século XVIII, um número considerável de luso-americanos embarcaram com destino à Europa, a fi m de cursarem Filosofi a Natural 3 e Teológica, Medicina, Direito e Matemática na Universidade de Coimbra, então reestruturada por Sebastião José de Carvalho e Melo. Em meio a este marcante processo para o período, os intelectuais, assim que formados, passavam a participar das políticas públicas, ocupando cargos burocráticos de relevo, atuando em instituições decisivas para a economia imperial portuguesa, além de liderarem expedições fi losófi co-naturais pelo interior das colônias. A conjuntura destes homens, que tinham Coimbra por meta, todavia, foi compartilhada por outros destinos. Uma parcela pouco conhecida acabou preferindo se encaminhar à região do Languedoc francês, a fi m de cursar Medicina na secular Universidade de Montpellier.Esta nota de pesquisa buscará demonstrar como as ideias médicas vigentes na Europa do século XVIII acerca da erisipela, varíola e tuberculose, ao serem relacionadas com as concepções médicas de corpo e saúde da época, exigem uma compreensão global das teorias que infl uíam nestas concepções. A historiografi a destas doenças compõe elemento teórico singular no auxílio à capacidade crítica da leitura documental.Partimos do suposto que Portugal não estava atrasado na corrida das ciências naturais setecentistas (Cardozo, 1971;Moraes et al., 2012). A análise das fontes é feita a partir de uma perspectiva atualizada do Iluminismo, o que nos permite observar como estes ilustrados portugueses construíram concepções acerca das referidas doenças. Este fenômeno acadêmico, que se inicia na metrópole portuguesa, estava integrado a uma rede de conhecimentos acerca do mundo natural. Uma dinâmica que possuía, como principal meta, a prestação de Notas de Pesquisa Doutores da devassa: sedição e teses médicas de luso-brasileiros em Montpellier
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