Censurado na República Popular da China, o romance distópico Os anos de fartura (2009), do autor chinês Chan Koonchung, apresenta críticas pungentes ao acelerado e, às vezes, contraditório processo de modernização socialista, instalado no país continental desde 1949. A fim de compreender como a nação chinesa é imaginada por Koonchung, o artigo objetiva analisar uma China ficcional relativamente futurista, ambientada no ano de 2013, na condição (aparente) de um país próspero e harmônico, cuja imagem otimista consolidou-se depois da ocorrência do “tsunami financeiro de 2008” que, exclusivamente, arrastara os países capitalistas liderados pelos Estados Unidos da América do Norte para uma grande crise. A investigação visa, também, debruçar-se sobre algumas questões geopolíticas sobre a China, cujo sistema político e econômico é pragmaticamente rotulado, pelo PCC, como “socialismo com características chinesas” e, por vozes discordantes ao Partido, como uma autocracia socialista, concepções que nutrem politicamente a discussão presente nas entrelinhas da ficção científica mencionada. Nesse sentido, o romance tensiona a qualidade democrática da China atual, fazendo menção aos desafios geopolíticos que interferem no crescimento econômico do país. Seria, então, a China na contemporaneidade, uma China do passado? Essa é a pergunta crucial que ecoa na mente dos leitores de Os anos de fartura e que este trabalho pretende discutir.