Violência doméstica contra mulheres e a atuação profi ssional na atenção primária à saúde: um estudo etnográfi co em Matinhos, Paraná, Brasil Domestic violence against women and professional intervention in primary healthcare: an etnographic study in Matinhos, Paraná State, Brazil Violencia doméstica contra mujeres y la actuación profesional en la atención primaria a la salud: un estudio etnográfi co en Matinhos, Paraná, Brasil
No ano de 2012, realizamos pesquisa etnográfica com travestis de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil, por meio de observação participante, entrevistas e acompanhamento de suas vidas cotidianas. Durante esse período, percebemos que as violências física e simbólica e o sofrimento delas decorrentes eram invariantes, condição com a qual tinham que lidar em seus itinerários, em suas práticas e afazeres diários. Este artigo discute as violências vivenciadas nas trajetórias percorridas pelas travestis (família, escola, delegacias, serviços de saúde), procurando, sobretudo, compreender como tais violências estão relacionadas às experiências nos serviços de saúde e como os serviços de saúde por elas acessados reagiram às violências.
Michel Taussig analisou, num artigo de grande influência na área de antropologia da saúde (1992), o denominado "processo de reificação da enfermidade". Reificação designa a coisificação do mundo, das pessoas e da experiência, e assinala o movimento pelo qual as relações entre pessoas se transformam em coisas. Nas sociedades contemporâneas tudo funciona de forma a negar as relações humanas encarnadas nos sintomas, signos e terapias. As doenças e as técnicas de cura, no entanto, não são apenas naturais, mas signos de relações sociais disfarçados em coisas naturais. Eis então o dilema moderno: sustentar exaustivamente e por todos os meios que os órgãos corporais são apenas coisas e, ao mesmo tempo, insistir sobre o significado social do mal-estar.As doenças como símbolos e os médicos como intérpretes desses sím-bolos são denegados por uma ideologia que considera a enfermidade como coisa e substância em si mesma. A prática médica é maneira importante de manter a negação das relações sociais e de operar a coisificação sob a égide da ciência.1 Essa negação produz "grotescas confusões" que transformam as relações sociais em coisas e retiram o caráter histórico e humano da enfermidade. Taussig discorre sobre: o sofrimento de pacientes; a leitura objetificadora dos médicos e demais profissionais de saúde; a incomunicabilidade originada da não percepção dos enunciados; o isolamento, a perda da autonomia dos pacientes nos hospitais. A internação hospitalar torna-se uma zona de combate onde se desenrolam disputas de poder e definições sobre a doença -processo que conduz à alienação do enfermo. A organização clínica canibaliza o potencial curativo que reside na intersubjetividade de paciente e curador. A realidade clínica mostra, enfim, a construção e a reconstrução clínica de uma realidade convertida em mercadoria. A medicina humanística é, portanto, um oximoro.Não obstante a força da poderosa narrativa de Taussig, que descreve a moderna coisificação e fetichização médica do corpo tomado como signo
A proposta geral deste texto é apresentar os itinerários terapêuticos percorridos por sujeitos soropositivos. Esses percursos, constituídos por inusitadas mesclas e composições, revelam caminhos complexos no enfrentamento do HIV/aids, de pessoas que transitam por terapias numa tentativa de restabelecerem ou preservarem a saúde. Admitindo a existência de numerosas terapias disponíveis, nos empenhamos em analisar os itinerários de terapias por elas denominadas de "tipo religiosa", na sua relação com o modelo biomédico. A etnografia revelou que as interlocutoras não separam a terapia biomédica da religiosa em planos distintos. O que sobressaía era a interação concomitante das duas soluções agenciadas com o mesmo propósito: a saúde. Foi possível observar um continuum terapêutico, ou seja, as opções não se isolam: antes, apresentam-se como partes consecutivas que fluem sem limites claramente delimitados.
Domestic violence against women, public policies and community health workers in Brazilian Primary Health CareViolência doméstica contra mulheres, políticas públicas e agentes comunitários de saúde na Atenção Primária Brasileira
Domestic violence has multiple repercussions on women's health and raises a challenging agenda for health professionals in Brazilian Unified National Health System (SUS). The aim of this study was to analyze how health professionals treat these women, problematizing the notion of acolhimento (receptiveness or openness to patients). A qualitative ethnographic research approach was used with health professionals from a primary care unit (PHU) in Matinhos, Paraná State, Brazil. The study revealed care that was focused on: (1) biologizing principles, with a focus on physical lesions and medicalization and (2) dialogue, active listening, psychosocial questions, and establishment of ties, especially featuring community health agents in this approach. The limited official local structure for handling domestic violence justifies treatment oriented by the grammar of acolhimento, recommended by the SUS, described in the literature, and verbalized in the PHU, but rarely problematized. This article thus proposed to contribute to this debate, not by establishing prescriptions for action, but by raising questions and mainly highlighting and translating the voices of those who deal with this challenge on a daily basis.
The general purpose of this paper is to present the health care of transvestites from Santa Maria, central region of Rio Grande do Sul, Brazil. Field research was conducted in 2012, between January and November, with transvestites originated from different cities of this State, who were living in Santa Maria at that time. Qualitative methodology was adopted through ethnographic research. The results showed that the interlocutors avoid the institutionalized health services, choosing other forms of care. The interlocutors indicated their choice for "houses of african religion" by identifying them as places that, without questioning the bodily changes and sexual orientation, were able to afford forms of care and protection. Therefore, this article can help to provide some visibility to care transvestites looking for health.
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