Estudos relacionados à configuração do trabalho industrial têm se multiplicado nos últimos anos em virtude, principalmente, da instabilidade econômica surgida a partir de meados de 2008. A instabilidade de segmentos importantes para a indústria – como o setor automotivo – tem despertado o interesse de diversos pesquisadores acerca dos seus impactos sobre as condições de vida dos trabalhadores. Sendo assim, o presente artigo buscou analisar as relações existentes entre a importância do trabalho e as perspectivas de trabalho decente para os engenheiros de uma montadora de veículos, identificada pelo nome ALFA. Ao longo de quatro meses foram entrevistados doze engenheiros de processos deste grupo automotivo por meio de um roteiro semiestruturado. Os resultados da pesquisa mostraram como a vida dessas pessoas tem sido afetada em termos de escolhas, representação social e, em alguns casos, internalização de culpas pelo aparente fracasso vigente. Também foi possível verificar dilemas na relação entre indivíduos e organização, especialmente quanto à falta de expectativa profissional e desilusões com a empresa; sinalizando assim a relevância da discussão sobre o trabalho decente no setor automotivo.
A região sul fluminense inserida na guerra fiscal na década de 1990 assume, nos anos seguintes, importante participação na indústria automotiva nacional. As expectativas quanto aos investimentos externos e empregos em massa geram otimismo, enquanto o desenvolvimento regional repercute em mídia nacional. Desde o início dos anos 2000, pesquisadores têm se dedicado a descrever antecedentes históricos da guerra fiscal e da conformação do trabalho nessa região. Este artigo recupera as principais discussões teórico-empíricas para problematizar as condicionantes da produção flexível após quase duas décadas de investimentos externos no setor automotivo. A revisão da literatura aborda, inicialmente, o panorama do setor automotivo com o argumento da dispersão para novas regiões produtivas e, posteriormente, organiza pesquisas focadas em montadoras instaladas na região sul fluminense. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas que ocorreram entre julho de 2016 e setembro de 2017 com pesquisadores da indústria automotiva e praticantes. Nos resultados foram apresentadas as contradições na retórica das montadoras, que delineiam ampliação da guerra fiscal direcionada pelo capital privado estrangeiro, e situam o sindicato regional em condição de enfraquecimento no curso das transformações nos processos automotivos.
The auto industry has historically been characterized as an benchmark industry in the discussion on the application of new technologies and different structural arrangements along the production chain. Faced with a series of transformations in the world of work and the organization of production of contemporary organizations, the debate about the daily work has become increasingly complex. From this problem, this article aims to present a reflection on the job settings in the auto industry from a contemporary theoretical discussion. Theoretical indications show that flexible work organization, more automated and consisted of larger number of outsourcing and subcontracting, has redefined the role of man in the automotive system, generating increasingly precarious working conditions and harmful consequences on the lives of workers.
RESUMO O artigo aprofunda estudos acerca da produção flexível em montadoras no sul fluminense. A revisão da literatura está focada nos papéis dos múltiplos atores - governos locais, sindicatos e trabalhadores -, e no impacto da flexibilidade nas condições de trabalho no setor automotivo. A abordagem interdisciplinar adotada busca desvelar vozes dos trabalhadores que contestam marcas da produção flexível no sul fluminense quanto ao ideal discursivo do encadeamento produtivo, do desenvolvimento regional ou da gestão da produção nas montadoras. A metodologia qualitativa está fundamentada em abordagem discursiva com distintos níveis de análise. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com 38 participantes que representam prefeituras, sindicato regional e trabalhadores das montadoras. Da análise dos resultados depreende-se contradições da qualidade e quantidade do emprego de massa, das políticas públicas defasadas e instrumentalizadas pelas montadoras Jaguar Land Rover, MAN, Nissan e PSA Peugeot Citroen, e o retrocesso das condições de trabalho no nível operacional. Ao privilegiar as vozes dos trabalhadores, foi possível desvelar dos elementos retóricos de maior apelo da produção flexível automotiva as contestações em face dos discursos historicamente acoplados aos agentes econômicos e políticos no sul fluminense.
RESUMO Os sindicatos dos trabalhadores do setor automotivo protagonizam, nas últimas décadas, discussões sobre a expansão do modelo de produção flexível e, concomitantemente, a ampliação de condições de trabalho desregulamentadas em subsidiárias de montadoras no sul fluminense. Pesquisas sobre a fragmentação institucional das centrais sindicais, a influência do lobby corporativo e a cooptação dos sindicalismos regionais em arranjos políticos, têm possibilitado um diálogo transversal entre pesquisadores de países anfitriões do regime automotivo da segunda metade do século XX. Delimitado a uma região distanciada dos maiores centros industriais brasileiros, o artigo tenciona aprofundar discussões sobre atuação dos sindicatos em regiões industrializadas a partir da redistribuição espacial das montadoras em território nacional. Os resultados produzidos por entrevistas com profissionais da subsidiária estão organizados em três subcategorias fundamentadas na revisão de literatura: (a) relação entre atuação sindical e recorte regional; (b) divergência de pautas entre sindicato metalúrgico e temas específicos da montadora, e (c) uso político do sindicato por meio de cooptação. Os resultados mostram, predominantemente, prejuízos para acordos coletivos e condições de trabalho; impressão de perfil profissional do sindicato desalinhado das demandas na subsidiária; e, desconfianças quanto a tratativas entre sindicato e empresa. Esses aspectos sugerem generalizações analíticas da pesquisa qualitativa no sul fluminense para outras subsidiárias em greenfields automotivos; sobretudo na identificação de mecanismos que dispersam a representação institucional dos sindicatos na indústria automotiva.
ResumoDevido à abrangência da cadeia produtiva, montadoras são rotuladas em algumas publicações como a indústria das indústrias ou carro-chefe da indústria. Entretanto, o cenário econômico instável dos últimos anos tem implicado a reconfiguração estrutural de grandes multinacionais do setor instaladas no Brasil. Tendo isto em vista, a investigação em uma montadora buscou analisar os impactos da reconfiguração estrutural adotada entre os anos de 2008 e 2014 sobre o trabalho de engenheiros lotados no setor de processos industriais. A pesquisa qualitativa foi conduzida por meio de entrevistas semiestruturadas com membros das equipes de trabalho do setor. Os resultados mostraram que as mudanças na linha de montagem têm ocorrido, especialmente, em função da intensificação da automação dos processos e do repasse contínuo de etapas de produção para fornecedores e subcontratados. Também foi verificado um reposicionamento do papel humano dentro do sistema de produção, o que tem acentuado o sentimento de instabilidade na montadora. Palavras-chave:Trabalho; Estrutura Organizacional; Indústria Automotiva. AbstractDue to the extent of the supply chain, automakers are labeled in some publications as the industry of industries or flagship of industry. However, the unstable economic environment of recent years have involved the structural reconfiguration of large multinational in the sector installed in Brazil. With this in view, research on an automaker sought to analyze the impact of structural reconfiguration adopted between the years 2008 and 2014 on the work of engineers in the industrial processes sector. The qualitative research was conducted through semi-structured interviews with members of industry working teams. The results showed that the changes in the assembly line have occurred, especially due to the increased automation of processes and the ongoing transfer of production steps for suppliers and subcontractors. Also, was checked a repositioning of the human role at production system, which has accentuated the feeling of instability in the automaker.
A fragmentação da concorrência e a busca por resultados de curto prazo no contexto da indústria automotiva têm reforçado práticas organizacionais em prol da alta performance nos processos produtivos. Diante disso, a temática da alta produtividade tem ocupado um espaço cada vez mais significativo em discussões acerca das relações de trabalho estabelecidas no sistema industrial automotivo. Tendo isso em vista, esse artigo busca analisar de que maneira as relações de poder e controle tem se configurado na estrutura de trabalho dentro do setor de processos industriais da montadora ALFA. Este estudo foi conduzido a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas com engenheiros na unidade produtiva do Grupo no Brasil. Os resultados da pesquisa de campo mostraram que a fragmentação do senso de coletividade na rotina industrial e o maior rigor na cobrança por resultados cada vez mais desafiadores têm acentuado a precarização das condições de vida dos trabalhadores
A Análise de Conteúdo, dentre as técnicas de tratamento de dados, está entre as mais utilizadas nos estudos organizacionais. Este ensaio teórico tem como objetivo ampliar a discussão sobre esta temática, abordando seu histórico, conceitos, procedimentos, discussões e perspectivas futuras. As indicações teóricas sinalizam que a condução da Análise de Conteúdo de forma coerente, ética, reflexiva e crítica torna-se imprescindível num contexto acadêmico que tem valorizado a sistematização, a neutralidade e a objetividade na busca pela garantia da legitimidade e rigor metodológico nos resultados produzidos. Apesar das elaborações ocorridas em seu contexto histórico, críticas são feitas e a Análise de Conteúdo tem se configurado como uma técnica em busca de consenso entre os pesquisadores, principalmente no que se refere à proteção contra os riscos da parcialidade e perda de neutralidade científica.
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