As redes de trocas rituais dos Yuhupdeh no igarapé Castanha, através dos benzimentos (mihdɨɨd) e das flautas Jurupari (Tí') São Paulo 2010 RESUMO Este trabalho decorre de uma experiência etnográfica entre os Yuhupdeh, na região do alto rio Negro (ou Noroeste Amazônico). Essa região se caracteriza por possuir um sistema social que abarca três grandes famílias lingüísticas: Tukano Oriental, Aruak e Maku. Os Yuhupdeh (Maku) ocupam no sistema regional a posição de mais baixa hierarquia. A experiência buscou compreender aspectos do xamanismo, através de práticas relacionadas à doença e ao ritual. Para tanto, adotou dois focos etnográficos. O primeiro, dirigiu-se a situações em que os benzimentos de cura e de proteção são executados, e o segundo, às situações em que se realizou o dabucuri (festa de oferta de alimentos) com uso das flautas Jurupari (Tí'). Os benzimentos de cura e proteção são fórmulas verbais onde o trabalho do benzedor se revelou como sendo o de composição de pessoas. O dabucuri com o uso das flautas Jurupari (Tí) é um ritual conduzido pelo benzedor, que pode incluir a iniciação masculina ou simplesmente a exibição das flautas. Nesse rituais, o trabalho do benzedor se apresenta como sendo o de composição de grupos. Em ambos os casos, os procedimentos são análogos.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8034.2016v18n2p177A região do Alto Rio Negro é reconhecida como uma área habitada por uma diversidade de grupos sociais. A literatura aponta a existência de 21 nomes distintos para grupos divididos a partir de três grandes famílias linguísticas:Aruak, Tukano e Maku. O objetivo do artigo é problematizar o nome Maku de forma a examinar quais as escalas de atuação desse nome dentro dessa rede regional de nomes coletivos. Em que sentido pode-se dizer que alguém é Maku? Quem o pode dizer? Em quais situações? Como experimento para desenvolver tais questões propõese examinar as imagens dos Maku fornecidas por escritos de viajantes e cientistas do século XIX e analisar os seus desdobramentos em monografias etnográficas realizadas ao longo do século XX e que se referem aos Maku. Por fim, reflete-se sobre o problema de se tomar o nome Maku como uma unidade sociológica e/ou linguística.
PreâmbuloEste texto propõe desenvolver a relação entre ações xamânicas e mitos, mais especificamente a relação entre fórmulas verbais usadas em ações rituais e mitos que se referem ao uso delas. Adoto como ponto de referência etnográfica o povo indígena que se autodenomina Yuhupdeh 1 e vive no igarapé Castanha, afluente do médio Tiquié, localizado na região do Alto Rio Negro.A região é conhecida por sua diversidade multiétnica e multilinguís-tica. Em território brasileiro existem 21 povos indígenas divididos em três famílias linguísticas: Tukano Oriental, Maku e Aruak. Essa diversidade conforma uma rede social hierarquizada integrada por circuitos de trocas matrimoniais, rituais e de mercadorias. Dentro dessa armação hierárquica, os povos da família Maku, na qual os Yuhupdeh estão incluídos, ocupam posições de inferioridade. Se, por um lado, isto contribui para que as trocas matrimoniais entre os Maku, os Tukano e os Aruak sejam raras, por outro, não cria impedimento quanto às trocas rituais.É o que acontece, por exemplo, com os Yuhupdeh que vivem no igarapé Castanha. Eles integram com seus vizinhos Desana, Tukano e Yeba Masa um circuito de trocas rituais que tem as realizações das festas de Dabucuri, de Jurupari e de santo como seus momentos mais intensos. 2 Contudo, se esses eventos, que podemos chamar de grandes festas, são momentos privilegiados, isto não significa que o circuito se restrinja a eles. Há situações não festivas em que também ocorrem ações rituais. É o caso da execução das fórmulas verbais de cura e proteção que ocorre tanto nas grandes festas quanto no dia a dia.Estamos aqui no campo que Monod Becquelin e Erikson (2000:17) denominaram microrritual, no qual os "diálogos cerimoniais" e os "diálogos cotidianos" se interpenetram. De fato, a maior parte das fórmulas verbais são executadas em situações cotidianas e envolvem tanto relações intracomunitárias como intercomunitárias. Nesse sentido, há na área do igarapé
O artigo pretende revisar a dualidade índio do mato e índio do rio atribuída ao sistema social da região do Alto Rio Negro, a partir da posição dos Yuhupdëh, comumente referidos como Makú e índios do mato. Para tanto, será problematizada a distinção de duas figuras sociais que emergem dessa dualidade na qual, de um lado, encontra-se o hierárquico, o sedentário, o rígido, o fechado, o exogâmico, o horticultor, o ‘civilizado’; e de outro, o igualitário, o nômade, o fluido, o aberto, o endogâmico, o caçador, o ‘primitivo’. O experimento desse artigo é tratar a questão da hierarquia e da igualdade que subjaz à distinção índio do mato e índio do rio a partir de dois deslocamentos. O primeiro deslocamento consiste em examinar o problema da hierarquia e da igualdade a partir da perspectiva específica de alguns grupos yuhupdëh. O segundo deslocamento consiste em analisar e revisitar criticamente o modelo da teoria da dominação pressuposta na relação assimétrica entre os grupos yuhupdëh.
Partindo de uma experiência etnográfica específica na região do Noroeste Amazônico, entre os Yuhupdeh, comumente referidos como Maku, pretendo refletir sobre uma questão de ordem geral – as ações de cura xamânicas ameríndias e sua relação com a composição e decomposição de pessoas. Devido à amplitude dessas práticas, o presente texto se restringe a acompanhar e analisar dois momentos etnográficos: a execução de fórmulas verbais, conhecidas regionalmente como benzimentos, e a sua transformação na forma escrita.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.