s conteúdos de ensino de administração implicam, penso eu, na problemática dos fins da administração, de sua dimensão ideológica e, mesmo, de sua definição. Penso que, antes de nos debruçarmos sobre a questão do conteúdo, devamos em primeiro lugar nos perguntar se a formação de administradores deve atender à mudança das coisas ou à sua reprodução. É mais frequente que ela se centre na lógica da reprodução, já que as escolas de gestão são ambientes conservadores e elitistas que formam administradores e teóricos que tenderão a reproduzir os mesmos modelos, os mesmos modos de pensar. Desde o primeiro ano, já no discurso de boas vindas, os estudantes são tratados como a elite, como os futuros líderes da sociedade. A falta de humildade parece-me perfeitamente fora de lugar e contradiz o ensino, nessas escolas, que afirma, e com razão, que de fato não se pode formar líderes. Aliás, muitos dirigentes considerados líderes o são, na verdade, por hereditariedade de pai para filho. Essa lógica de reprodução exprime-se também pela origem social dos estudantes. Mais de 90% dos estudantes das escolas de administração são filhos de famílias abastadas e mais de 50%, filhos de homens de negócios, dirigentes ou altos funcionários de empresas. O elitismo em uma democracia não tem sentido, pois não há respeito à igualdade de oportunidades; tornase, dessa forma, a tirania de uma minoria sobre a maioria. Observamos, igualmente, contradições entre o conservadorismo do conteúdo da formação em administração e um certo discurso que apela para a mudança, o questionamento e uma lógica dita de «desconstrução». Penso que, para resolvermos essas contradições, deveríamos formar futuros administradores e futuros pesquisadores em administração que fossem verdadeiros agentes de mudança. E, mais, deveríamos deixar de considerar que para aprender administração deve-se observar o que fazem os dirigentes para fazer como eles. A lógica de reprodução é absurda, porque se queremos que a administração do futuro seja radicalmente diferente da de hoje, não serão certamente os dirigentes de hoje que deverão servir de modelo para os nossos estudantes. Há, evidentemente, exceções: administradores futuristas que souberam conciliar exigências ecológicas, sociais, o serviço prestado à comunidade, o respeito aos trabalhadores, os competidores, o mercado do tipo ganhador/ganhador (em vez do tipo ganhador/perdedor) etc. Eles são raros, entretanto, salvo nos países em que se pratica um capitalismo diferente daquele que nós constatamos na América do Norte, como o do Japão, da Alemanha e da Escandinávia 1. Na América do Norte e na maioria dos países da Europa, a pesquisa e a definição do conteúdo de ensino nas escolas de administração dependem, em grande parte, do dinhei