O vírus SARS-CoV-2 foi detetado pela primeira vez em Portugal a 2 de março de 2020. De 18 de março a 2 de maio, o país viveu em confinamento, sob estado de emergência, sempre reportado pelos media noticiosos, que assumiram claramente uma orientação dos cidadãos, procurando constituir-se como uma frente de combate à pandemia. A velocidade do vírus intensifica-se, a noticiabilidade diminui, mas o jornalismo vai sempre dando destaque à Covid-19. A cobertura noticiosa da pandemia provocada pelo SARS-CoV 2 foi ocasião para alguns sinais de mudança no jornalismo? Esta é a pergunta que conduzirá um inquérito feito à classe jornalística e uma análise à imprensa diária, que envolveu o estudo de 2933 textos noticiosos e 6350 fontes de informação. Os resultados dessa investigação salientam mudanças que levam a pensar numa alteração substancial dos processos de seleção das fontes de informação, o que pode contribuir para um reajustamento do espaço público jornalístico.
During the COVID-19 pandemic, the Portuguese media seemed to contribute to the symbolic annihilation of women. In spite of the fact that women play leading political roles as the Minister of Health and the Directorate-General of Health, women were almost mute in the COVID-19 news that was published in the Portuguese daily national press. In a sample of more than 6000 news sources, women account for less than 20% of them. Their lack of visibility in the news deepens the existing asymmetries of gender and amplifies the glass ceiling. The aim of this study was to analyze the media coverage of COVID-19 through a content analysis of the news that was published in two Portuguese daily newspapers with different editorial lines. Our period of analysis corresponds to the emergency-state periods (18 March to 2 May 2020; 9 November to 23 December 2020; 15 January to 28 February 2021).
A Covid-19 constitui um desafio societal total. Os media e o jornalismo estão no centro dos acontecimentos na medida em que desempenham várias funções consideradas vitais na gestão da crise pandémica. Entre elas, destaca-se a função facilitadora que constitui o jornalismo como canal privilegiado de comunicação entre poder político e autoridades de saúde e a população. Este desafio acontece num momento em que, também fruto da própria pandemia, se registam mudanças significativas na própria atividade jornalística: na forma como os jornalistas encaram a profissão, na configuração da agenda noticiosa e nos critérios de escolha das fontes de informação. O presente artigo dá conta de alguns resultados obtidos a partir de um inquérito a jornalistas e da análise de conteúdo de 2933 peças noticiosas publicadas no Público e no Jornal de Notícias. Em linhas gerais, destacam-se a emergência de um jornalismo que orienta comportamentos, mas que apresenta oscilações no acompanhamento da doença, uma maior atenção à promoção da literacia em saúde e um acrescido cuidado com as questões éticas e uma procura acentuada de especialistas, escolhidos por critérios que se afastam da notoriedade prévia.
A pandemia por covid-19 tem colocado complexos desafios às instituições governamentais e de saúde em todo o mundo. Para além da dificuldade em controlar a disseminação da infeção, as instituições têm de encetar um processo de comunicação de saúde particularmente difícil de gerir, por causa do elevado grau de incerteza associado à informação de que dispõem, do aumento da desinformação resultante de um ambiente mediático pulverizado (e, muitas vezes, sem mediador) e da resistência de alguns grupos da sociedade em aderir às medidas preventivas recomendadas. A vacinação surge, pois, como um tema que alimenta posições extremas — desde a ânsia pela sua disponibilidade (que potencia tentativas ilícitas de obtenção da vacina) até à sua recusa intransigente (baseada em teorias sem fundamentação médico-científica). Neste enquadramento, pretendemos avaliar a forma como as fontes oficiais — as principais instituições governamentais e de saúde portuguesas — comunicam com os seus públicos em ambiente digital, nomeadamente através dos websites e das redes sociais online. Para isso, foram recolhidos os conteúdos sobre vacinação publicados em cinco sites e quatro páginas nas redes utilizadas pelas fontes analisadas, no período compreendido entre o anúncio da autorização da primeira vacina e o arranque da administração da segunda dose aos profissionais de saúde. O material em estudo foi examinado através de técnicas de análise de conteúdo. Os resultados revelaram que as principais fontes oficiais portuguesas chamam a si o protagonismo em torno da vacinação contra a covid-19, que declinam em três temas fundamentais — administração, definição de grupos prioritários e abordagens genéricas, através de conteúdos com um enquadramento maioritariamente informativo. Atendendo a que a comunicação de saúde tem como objetivos envolver, capacitar e influenciar os indivíduos, concluímos que as fontes oficiais promoveram formas de comunicação conservadoras, perdendo potencialmente a oportunidade de fomentar uma comunicação em ambiente digital mais pedagógica e personalizada.
É comentadora residente da RTP para os temas de comunicação e colunista semanal do Jornal de Notícias e mensal do Correio do Minho. Desenvolve investigação nas áreas do jornalismo televisivo, cobertura mediática em temas de saúde e a relação entre jornalistas e as fontes de informação.
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