21QUESTÃO RACIAL parece um desafio do presente, mas trata-se de algo que existe desde há muito tempo. Modifica-se ao acaso das situações, das formas de sociabilidade e dos jogos das forças sociais, mas reitera-se continuamente, modificada, mas persistente. Esse é o enigma com o qual se defrontam uns e outros, intolerantes e tolerantes, discriminados e preconceituosos, segregados e arrogantes, subordinados e dominantes, em todo o mundo. Mais do que tudo isso, a questão racial revela, de forma particularmente evidente, nuançada e estridente, como funciona a fábrica da sociedade, compreendendo identidade e alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e hierarquização, dominação e alienação.Vista assim, em perspectiva ampla, a história do mundo moderno é também a história da questão racial, um dos dilemas da modernidade. Ao lado de outros dilemas, também fundamentais, como as guerras religiosas, as desigualdades masculino-feminino, o contraponto natureza e sociedade e as contradições de classes sociais, a questão racial revela-se um desafio permanente, tanto para indiví-duos e coletividades como para cientistas sociais, filósofos e artistas. Uns e outros, com freqüência, são desafiados a viver situações e/ou interpretá-las, sem alcançar sua explicação ou mesmo resolvê-las. São muitas e recorrentes as tensões e contradições polarizadas em termos de preconceitos, xenofobias, etnicismos, segregacionismos ou racismos; multiplicadas ou reiteradas no curso dos anos, décadas e séculos, nos diferentes países.Esse é o dilema envolvido na polêmica entre Bartolomeu de Las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda, na época da conquista do Novo Mundo, repetindo-se e desenvolvendo-se nas vivências e ideologias, teorias e utopias de muitos, no curso dos tempos modernos. Essa é uma história na qual entram Herbert Spencer, Conde de Gobineau e Georges Lapouge, tanto quanto o evolucionismo e o darwinimo social, o nazismo e o americanismo 1 . Em certa medida, o debate relativo ao "choque de civilizações" implica xenofobia, etnicismo e racismo. Ao hierarquizar as "civilizações", hierarquizando também povos, nações, nacionalidades e etnias, é evidente que se promove a classificação, entre positiva, negativa, neutra ou indefinida, de uns e de outros. Quando Samuel P. Huntington classifica as "civilizações contemporâneas" em chinesa, japonesa, hindu, islâmica, ocidental e latino-americana, está, simultaneamente, estabelecendo alguma relação entre etnia, ou raça, e cultura, ou civilização; uma relação cientificamente insustentável, desde Fraz Boas, mesmo quando dissimulada. Essa é, obviamente, uma implicação da sua "teoria", ao priorizar a 22"civilização ocidental", por sua escala de "modernização", "tecnificação", "produtividade", "prosperidade", "lucratividade". Aliás, esse contrabando etnicista, xenó-fobo ou racista está presente em diferentes pensadores empenhados em "explicar" o mundo em termos de "modernização", "racionalização", "tecnificação" e outros emblemas ideológicos do "ocidentalismo" 2 . É evidente que Huntington "esquece" a pr...
As ciências sociais estão sendo desafiadas a pensar a globalização do mundo. No fim do século XX, quando se anuncia o XXI, elas se defrontam com os dilemas que se abrem com a globalização das coisas, gentes e idéias. Há processos e estruturas sociais, econômicos, políticos, culturais e outros que apenas começam a ser estudados. Além do que é local, nacional e regional, colocam-se problemas novos e fundamentais com a emergência da sociedade global. As fronteiras geográficas e históricas, culturais e civilizatórias parecem modificar-se em direções e formas surpreendentes. Indivíduo, grupo, classe, coletividade e povo são colocados diante de outros horizontes. O próprio pensamento científico é desafiado a elaborar conceitos e interpretações para dar conta de realidades pouco conhecidas. As teorias da globalização, que começam a ser esboçadas, revelam o empenho das ciências sociais em explicar o que há de novo no que vai pelo mundo.
Social sciences are now being challenged to think on the world's globalization. At the end of the twentieth century and dawn of the twenty first, they are faced with the dilemas that open up with the globalization of things, people and ideas: There are social, economical, political, cultural and other processes and structures that are just begining to be studied. Besides what is local, national and regional, new and fundamental problems appear with the rising global society. The geographic, historical, cultural and civilizatorian limits seem to change in surprising ways and directions. The individual, group, class, colectivity and people are put before other horizons. The scientific thinking itself is called upon to elaborate concepts and interpretations to account for little known realities. The globalization theories that are just being sketched show the efforts of Social Sciences to explain what is new going on in the world
Tendências do pensamento brasileiroRESUMO: Ao longo da história do Brasil, intérpretes brasileiros e estrangeiros interrogam continuamente a sociedade nacional, construindo e reconstruindoproblemas históricos e teóricos. Apesar da diversidade das análises, é possível ordená-las segundo orientações, linhagens ou "famílias"de intelectuais delineando, assim, temas e perspectivas de futuro que se revelam recorrentes na história das interpretações sobre cultura, sociedade, economia e política no Brasil. Finalmente, considerado de uma perspectiva ampla, o diversificado conjunto de interpretações pode ser visto como uma complexa narrativa ficcional que combina a busca de esclarecimento e a criação de significados.
Octavio Ianni: o preconceito ra ENTREVISTA CHAMADA ESCOLA de sociologia paulista abriu um caminho novo na análise das questões relacionadas com a situação dos negros e os preconceitos raciais na vida brasileira. Para registrar essa importante contribuição teórica, ESTUDOS AVANÇADOS entrevistou Octavio Ianni, professor emérito da Universidade de São Paulo, que teve uma participação destacada nessas pesquisas, como um dos principais colaboradores de Florestan Fernandes e Roger Bastide.
Desde que se iniciaram as pesquisas e os debates sobre a globalização, vista como um processo histórico-social de amplas proporções, multiplicaram-se as interpretações mais ou menos abrangentes. Ao lado do contraponto de micro e macro teorias, surgem metateorias que se polarizam principalmente em duas direções: sistêmicas e históricas. Umas e outras começam não só a desenhar o novo mapa do mundo, como também a recriar o mapa das ciências sociais.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.