Este artigo discute as particularidades e possíveis relações entre educação, cultura, identidade negra e formação de professores/as, tendo como enfoques principais a corporeidade e a estética. Para tal, apresenta a necessidade de articulação entre os processos educativos escolares e não-escolares e a inserção de novas temáticas e discussões no campo da formação de professores/as. Dando continuidade às reflexões realizadas pela autora na sua tese de doutorado, discutem-se as representações e as concepções sobre o corpo negro e o cabelo crespo, construídas dentro e fora do ambiente escolar, a partir de lembranças e depoimentos de homens e mulheres negras entrevistados durante a realização de uma pesquisa etnográfica em salões étnicos de Belo Horizonte. Para essas pessoas, a experiência com o corpo negro e o cabelo crespo não se reduz ao espaço da família, das amizades, da militância ou dos relacionamentos amorosos. A escola aparece em vários depoimentos como um importante espaço no qual também se desenvolve o tenso processo de construção da identidade negra. Lamentavelmente, nem sempre ela é lembrada como uma instituição em que o negro e seu padrão estético são vistos de maneira positiva. O entendimento desse contexto revela que o corpo, como suporte de construção da identidade negra, ainda não tem sido uma temática privilegiada pelo campo educacional, principalmente pelos estudos sobre formação de professores e diversidade étnico-cultural. E que esse campo, também , ao considerar tal diversidade, deverá se abrir para dialogar com outros espaços em que os negros constroem suas identidades. Muitas vezes, locais considerados pouco convencionais pelo campo da educação, como por exemplo, os salões étnicos.
O trabalho estabelece uma articulação entre os processos educativos escolares e não-escolares e a construção da identidade negra. Discutem-se as representações e as concepções semelhantes, diferentes e complementares sobre o corpo negro e o cabelo crespo, construídas dentro e fora do ambiente escolar, a partir de lembranças de adolescentes e jovens negras entrevistadas durante a realização de uma pesquisa etnográfica sobre corpo e cabelo como ícones identitários em salões étnicos. Pretende-se compreender o significado social do cabelo e do corpo e os sentidos a eles atribuídos pela escola e pelos sujeitos negros entrevistados. O entendimento desse contexto revela que o corpo como suporte de construção da identidade ainda não tem sido uma temática privilegiada nos estudos sobre relações raciais e educação.
Este artigo discute o papel do movimento negro brasileiro na ressignificação e politização da ideia de raça. A raça é aqui entendida como construção social que marca, de forma estrutural e estruturante, as sociedades latino-americanas, em especial, a brasileira. Ao refletir sobre a atuação do movimento negro, parte-se da premissa de que este movimento social, por meio de suas ações políticas, sobretudo em prol da educação, reeduca a si próprio, o Estado, a sociedade e o campo educacional sobre as relações étnico-raciais no Brasil, caminhando rumo à emancipação social. A ideia de raça analisada no presente artigo se assenta na reflexão realizada pelos estudos pós-coloniais, que discutem a sua centralidade nos países com passado colonial e a sua operacionalidade nas relações de poder, as quais têm sido mantidas e subsistem no pensamento moderno ocidental, inclusive, no educacional.
Denys Cuche (1999, p. 9), ao discutir a noção de cultura nas ciências sociais, destaca que o problema da cultura ou das culturas passa por um processo de atualização tanto no plano intelectual, quanto no plano político. O autor inicia essa discussão já na Introdução do seu livro, com uma epígrafe do antropólogo Marc Augé (1988). Nela, Marc Augé argumenta que, nos últimos anos, na França, a cultura tem sido bem mais destacada do que há tempos atrás. Segundo ele, esse uso da palavra cultura, por mais descontrolado que possa parecer, constitui por si mesmo um dado etnológico.Guardadas as devidas proporções, podemos observar que um fato semelhante vem ocorrendo nos últimos anos no Brasil, e mais especificamente no campo da educação. Também entre nós, educadores e educadoras, nunca se falou tanto em cultura quanto hoje: cultura escolar, cultura da escola, diversidade cultural, multiculturalismo, interculturalismo, sujeitos socioculturais, cultura juvenil, cultura indígena, cultura negra...Por mais que tal apelo à cultura possa significar um modismo pedagógico, ou o mais novo jargão da nossa área, ou uma mudança de paradigmas, acredito que só o fato da palavra cultura começar a fazer parte (ou voltar a fazer parte) do vocabulário educacional já constitui um dado pedagógico que merece nossa atenção. Constitui uma inflexão no pensamento educacional, fruto das mudanças ocorridas em nossa sociedade devido às ações e demandas dos movimentos sociais, dos grupos sociais e étnicos.Mas se a ênfase na discussão da cultura no campo educacional se restringir ao simples elogio às diferenças ou ficar reduzida aos estudos do campo do currícu-lo e da cultura escolar, corremos o risco de não explorar toda a riqueza que tal inflexão pode nos trazer.A cultura, seja na educação ou nas ciências sociais, é mais do que um conceito acadêmico. Ela diz respeito às vivências concretas dos sujeitos, à variabilidade de formas de conceber o mundo, às particularidades e semelhanças construídas pelos seres humanos ao longo do processo histórico e social.Os homens e as mulheres, por meio da cultura, estipulam regras, convencionam valores e significações que possibilitam a comunicação dos indivíduos e dos grupos. Por meio da cultura eles podem se adap-
Este artigo discute os procedimentos metodológicos e os resultados da pesquisa nacional "Práticas Pedagógicas de Trabalho com Relações Étnico-Raciais na Escola na Perspectiva de Lei 10.639/2003". Esta investigação, apoiada e financiada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI/MEC), em parceria com a Representação da UNESCO no Brasil e coordenada pelo Programa de Ações Afirmativas na UFMG, envolveu cinco Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros de universidades públicas federais brasileiras e apresenta os dilemas, desafios e limites do processo de implementação do ensino de História da África e das Culturas Afro-Brasileiras nas escolas públicas e privadas da educação básica brasileira. De maneira irregular e muito complexa, o processo de implementação dessa legislação - uma alteração da LDB - torna-se imprescindível para compreender os desafios da política pública em educação e a diversidade, bem como novos elementos de análise para a pesquisa educacional.
UFMG R R R R RESUMO ESUMO ESUMO ESUMO ESUMOO objetivo deste artigo é discutir as particularidades e possíveis articulações entre educação e identidade negra enquanto processos construídos histórica, social e culturalmente. Considera-se que essa discussão não pode prescindir do debate político sobre as reais condições sociais e educacionais da população negra na sociedade brasileira, apontando para a necessidade de construção de políticas públicas específicas voltadas para esse segmento étnico/racial.educação, identidade negra, escola, diversidade cultural.Pretendo, neste artigo, focalizar o tema educação e identidade étnica/racial a partir de um recorte específico. Refiro-me aos negros e às negras, os principais sujeitos das pesquisas por mim realizadas até o momento. Nessa perspectiva, faço a opção por me referir à construção da identidade negra e não da identidade étnica/racial, como está no título original deste texto. 1 Essa opção decorre do entendimento de que, ao falarmos em identidade negra, encontramo-nos mais próximos dos processos sociais, políticos e culturais vivenciados historicamente pelos negros e negras na sociedade brasileira.Como vejo, então, a articulação entre educação e identidade negra? Ambas mantêm entre si uma relação complexa. Uma relação que nos fala de dois processos que apresentam aproximações e distanciamentos, semelhanças e diferenças, avanços e recuos. Processos desenvolvidos pelo homem e pela mulher negra nos diferentes contextos históricos, sociais, políticos, econômicos e culturais.A educação pode ser entendida como um amplo processo, constituinte da nossa humanização, que se realiza em diversos espaços sociais: na família, na comunidade, no trabalho, nos movimentos sociais, na escola, dentre outros. Como nos diz Brandão: 2 A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas 1 O presente artigo é resultado da palestra Educação e identidade étnico/racial, que proferi no dia 18 de dezembro de 2001, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, durante o I Colóquio NEIA, Alteridades em Questão, promovido pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade. Para um estudo mais profundo das discussões apresentadas, recomendo a leitura de outros artigos de minha autoria que constam nas referências bibliográficas. 2 BRANDÃO. O que é educação, p. 10-11.
RESUMO: A juventude negra é o foco central do artigo. Para compreendê-la buscou-se analisar a relação entre juventude, desigualdade, raça e racismo na conformação da situação de extermínio da juventude negra. O texto apresenta e discute dados estatísticos sobre homicídios da juventude negra e os interpreta à luz das discussões sobre a branquitude e o racismo. Compreendendo a violência como um fenômeno multicausal discute ainda o racismo como a macrocausa dessa situação, fruto da ideia de raça que se construiu desde os tempos coloniais no Brasil. Raça e racismo se tornaram ideias e práticas ainda mais complexas após a abolição da escravatura possibilitando a política de branqueamento. Elas fazem parte da estrutura de desigualdade vivida pela população negra brasileira. A análise também aponta o protagonismo da juventude negra na denúncia da situação de violência por ela vivida, indo além da ideia de extermínio e politizando-a como genocídio.
The black movement in Brazil: the absent, the emergent and the production of knowledge This article provides reflections on the experience and knowledge built by the Black Movement in Brazil, through a focus on the struggle for education in racial-ethnic diversity and affirmative action. The black movement is understood here as a political subject with a historical trajectory, belonging to the current context of social movement organization and participant in transnational articulations together with other social movements and NGOs that seek to build a democratic society. Education is understood as part of a process of human development, adopting here Paulo Freire's perspective according to which schools, and educational processes developed within other social institutions, are considered as formative (and sometimes, deforming) experiences that constitute subjects.
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