RESUMO:O período da ditadura militar brasileira foi um dos mais sombrios de nossa história oficial. Este artigo pretende analisar a obra Prova Contrária, do autor paulistano Fernando Bonassi, publicada em 2003, que tematiza, de alguma maneira, tal episódio histórico. A intenção é perceber como o trato literário é empregado na revisitação do fato. Para tanto, faremos um apanhado do que foi o período militar, além de apresentaremos algumas questões teóricas sobre o romance histórico contemporâneo e um panorama sobre a literatura pós-64 será traçado, a fim de compreender a obra de Fernando Bonassi inserido das prerrogativas que alicerçam esse subgênero e como ele sinaliza um conjunto subjetivo de restos e cicatrizes dos "anos de chumbo".Palavras-chave: literatura brasileira contemporânea; ditadura militar; Fernando Bonassi. I.Você morre apenas uma morte. Mas a revolução morre várias mortes Mauser, Heiner Müller O regime militar brasileiro foi um dos períodos mais sombrios de nossa história oficial. Instaurado pelo golpe que depôs o então presidente João Goulart, em abril de 1964, durou 25 anos. Não há ainda hoje, passados 50 anos do fato, consenso sobre as motivações que levaram à consolidação do regime totalitário. No cenário paranoico criado pela Guerra Fria e com um governo de esquerda em seu comando, o Brasil encontrava-se cortado por diferentes conflitos e linhas de força: pressões sociais, a alta da inflação, greves crescentes, a incompatibilidade do governo com os Estados Unidosuma das forças mobilizadoras do golpe, na figura de Lincoln Gordon, embaixador americano no Brasil -as mudanças de base defendidas por Jango, que atingiam interesses constituídos e desagradavam a classe média mais conservadora, formavam o cenário que propiciou bruscas e autoritárias intervenções.Com os militares no poder, as reações contrárias ao regime se intensificaram no ano de 1968. Os delitos avalizados pelos atos institucionais, que feriram princípios fundamentais de liberdade e legalidade nos primeiros
O presente trabalho tem por objetivo analisar a tessitura de um caminho de intertextualidade na literatura brasileira. Para a realização de tal propósito, três foram os nomes eleitos: o escrivão português Pero Vaz de Caminha, em A Carta, o escritor modernista Oswald de Andrade, no poema Pero Vaz Caminha e o contemporâneo Fernando Bonassi, em duas minificções extraídas de Passaporte. Para concretizar esta análise, tem-se como aporte teórico as considerações de Mikhail Bakhtin, sobre a responsividade presente no discurso; de Oswald de Andrade, com seu conceito de antropofagia; de Linda Hutcheon e sua Teoria da Paródia e de Julia Kristeva, em texto de Introdução à Semanálise; além dos comentários de Leyla Perrone-Moisés, sobre algumas práticas de Literatura Comparada e antropofagia. Procurou-se pensar em como as possibilidades dialógicas desses textos se engendraram e como o trato com o referencial alterou-se de época para época. Buscou-se também, mirando o seu caráter dialógico, perceber a presença de um tópico recorrente nas manifestações artísticas e culturais em nosso país: quem somos. Ou ainda, quem nos tornamos.
A literatura contemporânea brasileira tem se configurado como território que congrega disputas e jogos de poder, espaço de produção de contradições e desconstruções constantes. Assim, destaca-se o fato de que o monopólio da produção artística não se encontra mais estritamente ligado a grandes padrões econômicos – se, por um lado, a literatura, em sua maioria, ainda é produzida pelos mesmos rostos/experiências, por outro, a nova literatura procura ser democrática e “aposta na instituição de um sistema literário partilhado, que reconhece novas subjetividades e novos atores no mundo da cultura, e na reconfiguração do próprio termo literatura” (RESENDE, 2014). O presente artigo, entretanto, objetiva andar à margem do tapete vermelho do cânone para esquadrinhar identidades silenciadas: a mulher negra, enquanto produtora de arte, e as sexualidades não hegemônicas, enquanto representação literária. Para tanto, parte-se da análise de dois contos contidos no livro Olhos d’água (2014), da escritora Conceição Evaristo. Pode-se observar, ao final, que há uma produção de resistências discursivas e corporais à noção de campo literário brasileiro ainda como um lugar reservado à branquitude, ao falocentrismo e à heterossexualidade, – e que essa resistência literária se presta, nesse sentido, como força política que coloca em cheque a manutenção de um poder estabelecido. *** Experience and re(existence) outside the canon: Olhos d’água, from Conceição Evaristo ***The contemporary Brazilian literature has been configured as a territory that congregates disputes and games ofpower, space for the production of contradictions and constant deconstructions. Thus, the fact that the monopoly of artistic production is no longer strictly linked to high economic standards – if, literature, on the other hand, is still produced by the same faces/experiences, on the other hand, the new literature seeks to be democratic and “focuses on the institution of a shared literary system that recognizes new subjectivities and new actors in the world of culture, and in the reconfiguration of the term literature itself” (RESENDE, 2014). The present article, however, aims at walking away from the red carpet of the canon to search for silenced identities: the black woman as an art producer, and non-hegemonic sexualities, as a literary representation. To do so, we start with the analysis of two short stories contained in the book Olhos d’água (2014), by Conceição Evaristo. In the end, it can be observed that there is a production of discursive and corporal resistances to the notion of the Brazilian literary fieldas a place still reserved for whiteness, phallocentrism and heterosexuality – and that this literary resistance provides itself, in this sense, as a political force that puts in check the maintenance of an established power.Keywords: Afro-Brazilian literature; female authorship; contemporary literature.
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