a. Não podemos ignorar as implicações das perdas sociais e afetivas, refletidas muitas vezes em um lugar de inexistência do sujeito na velhice, também presentes em um quadro demencial.
A partir de uma experiência concreta de pesquisa, este texto propõe um diálogo entre psicanálise e antropologia, particularmente no que se refere às relações entre pesquisador e pesquisado no trabalho etnográfico: na coleta, na análise e na interpretação dos dados. Essas relações foram pensadas com base na noção de transferência, o que evidenciou a possibilidade do diálogo, tanto no plano analítico quanto metodológico, entre disciplinas que pensam a realidade mediada pela linguagem.
This paper, which is an exercise in articulating anthropology and psychoanalysis to the study of care for elderly people, is based on an ethnographic case study of an institution caring for the elderly in the city of São Paulo. It seeks to understand the representations of old age, aging and care, and what motivates professionals who provide assistance to the aged. Love, care and attention, understood by professionals and staff as requirements for a good job performance, are designated as donation (gift), regardless of technical knowledge. Recurrent references to both charity (gift) and biomedicine (technique) models, have implications for caring for the aged. For different reasons, both management models converge in a practice in which the elderly appear submitted to the intentions of another. The idea of gift as a supposedly unintentional action reveals care as a power relationship.Keywords: Care, Old Age, Institutionalization, Biomedicine and Gift, Ethnography, Psychoanalysis. Amor demais: o cuidado institucional à velhice ResumoEste texto, um exercício de articulação entre antropologia e psicanálise para pensar o cuidado a pessoas idosas, baseia-se em um estudo de caso etnográfico numa instituição asilar no Município de São Paulo.Busca-se compreender as representações de velhice, envelhecimento, cuidado e o que move a assistência à velhice. Amor, carinho e atenção, entendidos pelos profissionais e funcionários como requisitos para o bom exercício da tarefa, são concebidos como doação (dom) e independem do saber técnico. Recorrentes referências aos modelos de gestão do trabalho com a velhice baseados tanto na noção de caridade (dom) quanto na biomedicina (técnica) têm implicações para o cuidado; por motivos diferentes, ambos convergem para uma prática em que o velho aparece submetido às intenções de um outro. A ideia do dom como uma suposta ação desinteressada evidencia o cuidado como uma relação de poder.
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