resumoEste artigo analisa ideais de prática religiosa, perfis humanos e vivências que emergem de escritos versando sobre vida monástica feminina do ramo clariano em Portugal, nos séculos XVII e XVIII. O quadro de comportamentos tidos como exemplares pelas religiosas, nas crônicas conventuais e nos textos de aconselhamento, é aqui comparado com as prescrições constantes nos regulamentos, concebidos sob o controle da instituição eclesiástica. Considera-se que as diferenças entre os modelos criados pelas monjas e o mais institucional da Igreja expressam as formas particulares de apropriação, por estas, das regras a que estavam submetidas. palavras-chavesModelos de vida religiosa • experiência conventual feminina • Portugal nos séculos XVII e XVIII. abstractThis article is concerned with models of religious practice, human profiles and experience that emerge from writings on Franciscan women's monastic life in seventeenth and eighteenth-century Portugal. The behaviour regarded as exemplary by the cloistered women, in chronicles of monasteries and in counselling texts addressed to the sisters, is compared with prescriptions from the rules conceived under Church control. We consider that the differences between the models created by the nuns and the more institutional paradigm that is found in Church regulations express the particular forms of interpretation, by the sisters, of the rules to which they were submitted. KeywordsModels of religious life • women's experience in convents • Seventeenth and eighteenth-century Portugal.1 O presente artigo foi escrito com base em investigação que recebeu apoio financeiro do CNPq, com bolsa de produtividade em pesquisa.
Em meio a uma irrupção da cronística franciscana nas primeiras décadas do século XVII, fr. Manuel da Ilha, cronista da província de Santo Antônio de Portugal, produziu uma narrativa sobre a trajetória histórica da custódia de Santo Antônio do Brasil. Este artigo busca localizar este relato em meio a tendências que então orientavam a historiografia franciscana, como a adequação a um crescente afã documentalista, que exigia que relatos dessa natureza fossem afiançados em papéis e arquivos, e a preocupação com rivalidades que grassavam entre as ordens religiosas. No centro da análise, estão as conexões estabelecidas entre a atuação da ordem e os desígnios da Coroa portuguesa, tanto num plano identitário mais abstrato e conceitual quanto na realidade experimentada nas fronteiras do império.
This article aims to examine the attitudes of friar Masseu de São Francisco, of the Order of Friars Minor of Portugal, before the Holy Office of Lisbon between 1700 and 1701. He was prosecuted for obstructing the work of the court and for continuing to give credit and making public the visions and revelations of the recently deceased Maria de Jesus, who had been previously convicted for fraud by the Holy Office. Friar Masseu opted for a line of argument that linked his defense to the defense of the memory of that beata. To this end, instead of answering the questions given by the inquisitors, he turned over notebooks in which he described and justified Maria de Jesus’ virtues. By doing so, he continued his old plan of writing the life of Maria de Jesus, in which the visions that for decades she said she had received from Heaven would be recognized as true
O artigo examina vínculos envolvendo conventos, famílias nobres e a Corte em Portugal, que emergem do estudo de crônicas monásticas datadas dos séculos XVII e XVIII. Tais vínculos incluem o ingresso de membros dessas famílias nos mosteiros, manifestações de fi delidade política por parte das comunidades religiosas e favores da nobreza a elas, entre outras práticas. A partir das crônicas, é possível explorar os modos como as comunidades se posicionaram com respeito a transformações nas esferas de poder. Palavras-chave: memória conventual, política, Portugal, séculos XVII e XVIII. Monastic memory and politics in Portugal in the Ancien RégimeThe article examines links involving Portuguese convents, noble families and the court, which emerge from the study of chronicles of these monastic houses written in the seventeenth and eighteenth centuries. Such links include the presence of members of these families in the monasteries, demonstrations of political allegiances by the religious communities, as well as favours from the nobility to them, among other practices. Monastic chronicles are suitable sources to investigate the ways in which the communities positioned themselves as regards changes in the political sphere.
O século XVII português assistiu ao florescimento de uma escrita conventual feminina concentrada majoritariamente na epistolografia, na lírica e na elaboração de registros de cariz biográfico sobre religiosas crescidas em virtude. Defendida em setembro de 2013, “A magoa de ver hir esquecendo...” se dedica a estudar outra fração dessa produção, mais intimamente ligada a registros memorialísticos de tipo institucional. No centro da análise estão o Tratado da antiga e curiosa fundação do Convento de Jesus de Setúbal(redigido entre 1630 e 1644) e a Notícia da fundação do Convento da Madre de Deus das religiosas descalças de Lisboa(1639-1652). Amparando-se em obras coevas e de perfil semelhante, a investigação lança luz sobre alguns dos modelos que influenciaram suas autoras, mas sem descurar dos diálogos que elas estabelecem com outras modalidades de escrita conventual feminina – incluídas aí aquelas de tipo administra-tivo, ligadas à governança dessas instituições. Este estudo também indica que, por comando ou moto próprio, mulheres de vida consagrada do Portugal Moderno empunharam penas e escreveram livros, manejando a memória de suas comunidades. Na tarefa, elas seguiram modelos mais ou menos conformados de uma escrita histórica e confessional, mas também souberam inserir discussões que lhes interessavam ou mesmo vergar esses formatos para que servissem a outros propósitos. Por fim, os destinos desses livros de fundação também servem para perceber os múltiplos agenciamentos que interferiam no caminho das religiosas modernas até o prelo, assim como iluminar de que maneira as zonas de interação entre as culturas do impresso e do manuscrito ofereciam um caminho para evitá-los.
RESUMO O artigo examina trajetórias de mulheres que, no Portugal dos séculos XVII e XVIII, alcançaram certa distinção social a despeito de seu pertencimento a setores subalternos, no que se refere especificamente a hierarquias de gênero ou origem social. A análise funda-se em processos do Santo Ofício relativos aos crimes de molinosismo e fingimento de êxtases, visões e revelações, em livros de fundação de conventos, e em tratados voltados para a discussão de assuntos morais e vidas santas. As táticas e competências de que as mulheres enfocadas lançaram mão para alcançar posições ou papéis distintos dos originalmente destinados a elas não se relacionam à linhagem, à administração do reino ou às atividades econômicas de prestígio, mas à performance religiosa. Entretanto, observam-se homologias entre as ideias enunciadas para descrever e/ou validar os casos aqui estudados e as categorias associadas a processos mais institucionalizados nas instâncias jurídica e de governo.
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