RESUMOO presente estudo teve por objetivo analisar os desafios e percalços vivenciados por casais de mulheres para a concretização da maternidade biológica, com o auxílio das novas tecnologias reprodutivas. Foram discutidas as motivações para a utilização de sêmen de doadores anônimos, assim como as razões pela opção por certas características dos referidos doadores. Foram entrevistadas nove mulheres, que vivem em coabitação com outras mulheres e que planejaram a maternidade conjuntamente. A concretização da maternidade por meio de laços biológicos apareceu como prioridade para as mulheres entrevistadas, reproduzindo, de certa forma, um modelo idealizado e tradicional de família. Contudo, a maternidade realizada ao lado de outra mulher originou uma configuração familiar controversa e perturbadora, uma vez que a homoparentalidade, de qualquer tipo, subverte noções prontas de parentesco e, quando atravessada pelas novas tecnologias de reprodução, constituiu-se, necessariamente, como algo inovador.Palavras-chave: homossexualidade; heteronormatividade; relações familiares; técnicas reprodutivas. RESUMENEl presente trabajo tuvo como objetivo analizar los desafíos y percances vividos por parejas de mujeres para la concretización de la maternidad biológica, con el auxilio de las nuevas tecnologías reproductivas. Fueron discutidas las motivaciones para la utilización del semen de donadores anónimos, así como las razones por la opción por ciertas características de los referidos donadores. Fueron entrevistadas nueve mujeres, que viven en cohabitación con otras mujeres y que planearon la maternidad conjuntamente. La concretización de la maternidad a través de lazos biológicos apareció como prioridad para las mujeres entrevistadas, reproduciendo, de cierta forma, un modelo idealizado y tradicional de la familia. Sin embargo, la maternidad realizada al lado de otra mujer originó una configuración familiar controvertida y perturbadora, una vez que la homoparentalidad, de cualquier tipo, subvierte nociones preconcebidas de parentesco y, cuando atravesada por las nuevas tecnologías de reproducción, se constituye, necesariamente, como algo innovador.Palabras-clave: homosexualidad; heteronormatividad; relaciones familiares; técnicas reproductivas. ABSTRACTThe present study aimed at analyzing the challenges and difficulties experienced by female couples to materialize biological motherhood, with the support of new reproductive technologies. The motivations to use semen from anonymous donors, as well as the reasons to choose for certain characteristics in the referred donors were discussed. Nine women who live with other women and who had jointly planned motherhood were interviewed. The concretion of motherhood through biological bonds appeared as a priority to interviewed women, reproducing, in some ways, an idealized model of family. However, motherhood performed alongside other woman resulted in a controversial and disturbing family configuration, once homoparenthood of any kind subverts consolidated notions of kinship. When ho...
This article aimed to study the dynamic of same-sex parenting families formed by two women with children who have a biological bond with only one of them. We interviewed nine women -eight of them formed four couples and one was divorced -with ages ranging between 33 and 45 years, with children aging from 2 to 8 years, who were middle-class residents of the state of Rio de Janeiro, and had planned motherhood together using new reproductive technologies with semen from an anonymous donor. The following evaluation categories were discussed: kinship and affective relationship terminology; division of childcare related tasks; and the search for legitimacy. We observed that in the family settings studied, the children, in fact, identified both women as mothers, when both assume the role, demonstrating that the affective bond fulfilled its binding role.
O presente artigo tem o objetivo de pensar as famílias compostas por mães lésbicas e filhos/as, apontar e discutir como as mesmas reproduzem, inovam e produzem formas de ser família, uma vez que são atravessadas por desdobramentos provenientes de direitos adquiridos, avanços das tecnologias reprodutivas, entre outros, em sociedades pautadas pela heteronormatividade. Foi realizada uma revisão bibliográfica que compreendeu estudos desenvolvidos no Reino Unido, na Bélgica, na Espanha, na França e no Brasil, com filhos/as criados/as por mães lésbicas, a partir dos anos 1980 até os dias de hoje. As pesquisas envolvendo filhos/as de mães lésbicas foram iniciadas na década de 1970 e impulsionados por argumentos relacionados ao prejuízo psicológico que essas crianças sofreriam ao serem criadas por mães homossexuais. Os resultados dos estudos apontaram, desde o início de sua realização, não haver distinções relevantes entre filhos/as criados/as em lares homoparentais e em lares heteroparentais. Após anos de estudos desenvolvidos, de lutas dos movimentos sociais, de busca por reconhecimento e igualdade que resultaram em conquistas de direitos, a afirmação da inexistência de diferenças significativas imperou. Será que nos dias de hoje, aproximadamente quarenta anos após os primeiros estudos sobre homoparentalidade, diferenças e singularidades ainda serão vistas como inferioridades? Entre a acomodação e a invenção, as famílias homoparentais femininas não perturbariam certas bases do modelo de parentesco euro-americano. Contudo, mais do que pensar somente em termos de reprodução ou inovação de um tipo de família dita tradicional, pode-se pensar em produção.
This article examines the construction of parenthood, drawing on Brazilian cisgender, heterosexual, and homosexual couples' experiences in using assisted reproduction technologies (ART), particularly the surrogacy. For that purpose, we interviewed: 1) a lesbian woman who had her daughter through her partner's pregnancy, using ART with anonymous donor semen; 2) a gay man who, together with his partner, used a surrogacy service under contract via a specialised offshore agency; 3) a woman who was a surrogate, in Brazil, for her sister-in-law and brother who lived abroad and, from abroad, sent an embryo fertilised for surrogacy; 4) a woman who resorted to her sister-in-law in order to be a mother by surrogacy, with ovules from the woman herself fertilised with semen from her husband; and 5) the sister-in-law mentioned in 4), who acted as surrogate for her brother and his wife. These interviews made it possible to think about the discursive construction of the legitimacy of such parenthoods, as it is produced by access to, and manipulation and circulation of, reproductive technologies and persons. This biomedical management of bodies sets up a material and discursive circuit that, in turn, produces a complex web of personal, normative, legal, professional and market relationships, particularly with a view to construction of a parenthood anchored in a notion of biologically-constituted origin. In this respect, biological, affective and social bonds merge to produce a precise placement of who is the father and/or who is the mother, as well as who are the important others and how they are linked to the child in a broader web of parenthood.
De um dia para o outro, compulsoriamente, passamos a atender nossos pacientes através de um computador ou de um telefone, devido a pandemia do novo coronavírus. Desafios de um contexto inédito se impuseram no campo da psicologia clínica e da psicanálise. Adentrávamos um tempo e espaço desconhecidos e, ao caminhar, construíamos outros caminhos. Pistas cartográficas ofereceram elementos para pensar as relações psicoterápicas num novo momento e o num novo espaço. Assim, a partir das vivências nos contextos da clínica psicológica privada e dos acolhimentos psicológicos institucionais, realizados de forma online, este texto tem o objetivo de apontar e discutir inquietações por mim experimentadas, bem como questões suscitadas durante o período de quarentena. Através do que chamei de “cronologia das novidades, da resistência às surpresas” abordo os impactos sentidos no modo de trabalho online, constato horizontalidades nas relações marcadas pela assimetria do encontro psicoterapêutico e reconheço presença corporal nas conexões virtuais.
De setembro de 2012 até maio de 2013, quando houve a promulgação da lei de abertura do casamento e de adoção pelos casais do mesmo sexo (lei Taubira) na França, o debate em torno do assunto se intensificou, com a homoparentalidade tornando-se tema central numa polêmica que dividiu o país.Compromisso de campanha do atual presidente da República francesa, François Hollande, em 2012, a referida lei foi promulgada apesar da forte oposição de membros da Igreja Católica, representantes do judaísmo e do islã e de alguns psicanalistas. Esses opositores tentaram alarmar a opinião pública sobre o que consideravam um atentado maior à família. Aqueles que eram favoráveis ao projeto de lei se apoiaram no princípio da igualdade de todos perante a instituição do casamento civil, na necessidade de se trazer uma verdadeira proteção jurídica aos filhos de famílias homoparentais e nos numerosos estudos que demonstram bom desenvolvimento psicológico das crianças criadas em famílias homoparentais. É neste cenário de recente aprovação da referida lei na França que Martine Gross, na obra intitulada Parent ou homo, faut-il choisir?Sexualidad, Salud y Sociedad
A maioria das pesquisas e trabalhos realizados sobre famílias homoparentais são baseados naquilo que pessoas adultas relatam. Sejam profissionais da Medicina e da Psicologia, pensadores da Sociologia, da Antropologia e do Direito, sejam os próprios pais e mães. Filhas e filhos raramente fazem parte das produções sobre o assunto. O presente texto, no entanto, foi pensado e produzido a partir das narrativas de onze filhas e dois filhos de mães lésbicas naquilo que elas e eles enxergam de ordinário e extraordinário em suas famílias. A partir da cartografia realizada, serão discutidos alguns aspectos do que vem a ser “famílias como as outras”, no contexto das homoparentalidades em sociedades heteronormativas, brasileira e francesa. Os relatos obtidos nas entrevistas apontam um cotidiano familiar feito de encontros, desencontros, desafios e trocas afetivas, ou seja, como ocorre nas múltiplas configurações familiares. Contudo, as semelhanças entre as famílias começam a borrar a partir das interações sociais dessas filhas e filhos, à medida que a vida privada se mistura com a pública. Assim, percebem que, aos olhos sociais, há diferenças nas semelhanças, há desigualdades entre suas famílias e a de colegas. No banal do dia-a-dia em família emerge o extraordinário da homoparentalidade. Nas entrevistas foram observadas repercussões distintas relacionadas aos caminhos percorridos, na busca por aquisição de direitos LGBT, judiciário no Brasil e legislativo na França. Assim, entre o ordinário e o extraordinário, essas/es filhas/os confrontam adversidades e as transformam em potência de reinvenção.
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