Durante o stalinismo tardio, 1945-53, marcado pelo pós-guerra e o início da Guerra Fria, os filmes de época soviéticos se debruçaram sobre temas e episódios relacionados com a marinha czarista e a Guerra da Crimeia. Ao guiar o país na corrida armamentista, na luta pela divisão dos impérios coloniais em desintegração, na projeção do poder marítimo e na confrontação com os ex-aliados por esses mesmos objetivos, o regime precisava disseminar sua versão da história e suas mensagens de união nacional e combate ao inimigo externo, reproduzindo a narrativa da traumática Segunda Guerra. A sócio-história cinematográfica de Ferro permite perceber esse entrelaçamento de narrativas e objetivos em seus filmes de época.
Por meio do levantamento bibliográfico das historiografias dos aliados ocidentais e a historiografia oficial soviética procurou-se evidenciar as transformações e interpretaçõescontenciosas proporcionadas por ambos os lados durante a Guerra Fria e além desta para um dos episódios que anunciavam a nova realidade de uma Guerra Fria interaliada substituindo o conflito em curso. A troca de acusações e inversões de narrativas, se contidas a princípio, conduziram os trabalhos historiográficos das décadas subsequentes. Sua condução permitiu a elaboração de justificativas para o quadro geopolítico dominante. O destino da Polônia permaneceu incontestável pela realidade da disposição das forças, mas não em sua moralidade. Permitiu a acusação da natureza traiçoeira e autoritária formulada por ambos os lados ao rival político- econômico-ideológico, dissimulando os interesses mutuamente imperiais.
Resumo: Os filmes soviéticos ambientados durante a Revolução de Outubro e a Guerra Civil, ao longo de sete décadas, passaram por inúmeras transformações: de gênero predominante, de escola artística, das representações feitas sobre a Revolução e o conflito armado que se seguiu. Essas alterações devem ser primordialmente encontradas no próprio desenvolvimento da URSS: político, social e econômico. Apesar da influência de correntes artísticas externas e do trabalho interno de cineastas, o sistema soviético se mostrou mais sensível a essas forças. Palavras-chave: Cinema; Revolução de Outubro; Guerra Civil Russa. Abstract:The Soviet films set during the October Revolution and the Civil War, over seven decades, underwent numerous transformations: the predominant genre, the artistic school, the representations made about the Revolution and the armed conflict that followed. These changes must be primarily found in the very development of the USSR: political, social and economic. Despite the influence of external artistic currents and the internal work of filmmakers, the Soviet system was more sensitive to these forces. Keywords: Cinema; October Revolution; Russian Civil War.Marc Ferro (1992Ferro ( , 1976) apresenta um método de análise fílmica que parte do contexto para a película, e não o contrário. Reconhece que os filmes possuem códigos próprios, como o gênero, e que seu público, a partir disso, possui expectativas de uma narrativa típica. Apesar da possibilidade de múltiplas leituras (por diferentes plateias distribuídas no espaço, no tempo e condições sociais), subjaz ao filme um campo visível e outro latente, que pode revelar a mentalidade de uma época, de um determinado grupo, as motivações de seus produtores. A análise fílmica, realizada por historiadores, não deve ficar restrita ao mundo da cinematografia. Constitui um meio único para a abordagem da história de uma sociedade. Nenhuma outra fonte possui suas mesmas possibilidades. Ao longo de 74 anos, os soviéticos produziram filmes transcorridos na Revolução de 1917 e na Guerra Civil. Sua sociedade não esteve congelada -ao contrário do que afirmam os sovietólogos ligados à corrente de interpretação do totalitarismo. As transformações
Resumo: Ao utilizar as técnicas de análise de discurso sobre o texto jornalístico, o artigo aborda o impacto no Brasil do cinema bélico soviético sobre a Segunda Guerra. O contato com esse cinema se dava de várias formas. Os membros e simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro detinham acesso a jornais diários ou semanais que, entre suas matérias, conferiam algum destaque ao cinema soviético. Os jornais replicavam a informação emitida pelas agências de notícias de Moscou, ou produziam seu próprio material. Os filmes concorriam (e as vezes venciam) em festivais internacionais. Em algumas ocasiões, foram exibidos oficialmente no próprio território brasileiro (durante os anos em que se procurou reatar as relações diplomáticas e comerciais entre o Brasil e a URSS). Esses jornais permitem apreender tanto a visão dos militantes sobre a Segunda Guerra quanto as variações dessa visão, provocadas pelas subsequentes fissuras no antigo monólito partidário. O que deixará marcas nas sinopses dos filmes ou nas colunas dedicadas às películas e sua produção, publicadas nos jornais Novos Rumos e Voz operária, entre 1949 e 1964.
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