O livro de Laura Moutinho, que foi sua tese de doutorado em Antropologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2001, é leitura obrigatória para aqueles que se interessam pelo estudo das relações raciais no Brasil. Com toda certeza agradará aos leitores porque, ao eleger como tema os casais inter-raciais ou heterocrômicos, aborda-o a partir de diferentes fontes e enfoca demografia, literatura e pesquisa de campo comparativa, no Brasil e na África do Sul. O estudo é, portanto, exaustivo e tem a pretensão, acredito, de atingir o tema por várias perspectivas de análise, esmiuçando uma discussão tão antiga quanto a da idéia de nação brasileira construída a partir da miscigenação. Como diz Peter Fry no prefácio, um tema do qual muito se fala mas que pouco se conhece, efetivamente, através de pesquisa e análises sociológicas.O estudo começa pelas estatísticas, mostrando como os dados de cor dos censos demográficos -os primeiros estudos datam do censo de 1980 -abalaram as convicções, com base na própria historiografia brasileira, a respeito da magnitude da miscigenação racial. As estatísticas mostraram que as uniões inter-raciais (ou heterocrômicas) são, na verdade, mais reduzidas do que se imaginava, e que o nosso padrão de casamento é endogâmico (em torno de 80 por cento das uniões acontece dentro dos mesmos grupos de cor). São essas estatísticas que irão fornecer os subsí-dios para as questões cujas respostas a autora vai buscar.Em primeiro lugar está a constatação de que o superávit de mulheres brancas no mercado matrimonial faz que o casamento inter-racial destas com os homens pretos e pardos seja um pouco mais freqüente que o contrário (uniões de mulheres pretas e pardas com homens brancos). As estatísticas também oferecem 'pistas' indicando que o mercado matrimonial sofre influências das posições de classe social, já que os padrões de endogamia racial são mais elevados à medida que a posição social dos indivíduos se eleva. Também é verdade que esses padrões de endogamia são relativamente estáveis ao longo do tempo, uma vez que suas proporções têm se mantido, através dos censos dos últimos cinqüenta anos, praticamente inalteradas. Laura Moutinho cita os estudos da professora Elza Berquó sobre o estado conjugal das mulheres segundo a cor, que apontam para o "alto celibato entre as mulheres pretas" porque estas se apresentam num percentual mais elevado entre as solteiras. Nesse sentido seria interessante que a autora também tivesse observado os dados sobre os arranjos familiares, que a meu ver estão mais próximos da condição 'real' de conjugalidade das mulheres, uma vez que aquelas que se declaram 'solteiras' podem, de fato, estar
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