Abordar a história, os compromissos e as perspectivas da Psicologia Escolar e Educacional significa tratar de três dimensões fundamentais de seu estatuto como área de conhecimento articulada a um campo de prática social. A natureza dessa relação se expressa, pelo menos, em duas dimensões: a psicologia educacional como um dos fundamentos científicos da educação e da prática pedagógica e a psicologia escolar como modalidade de atuação profissional que tem no processo de escolarização seu campo de ação, com foco na escola e nas relações que aí se estabelecem. Dada a complexidade e a multiplicidade dessas questões, seu estudo comporta um amplo espectro de focos possíveis, tornando necessária uma delimitação que implica a opção por alguns caminhos em detrimento de outros, que podem ser abordados em outras oportunidades.Numa perspectiva mais ampla, poder-se-ia tratar a Psicologia Escolar e Educacional por algumas de suas articulações mais antigas. A Grécia Antiga, entre outras civilizações, constitui-se numa rica fonte de estudos, por sintetizar, em sua produção filosófica, a teoria do conhecimento, as idéias psicológicas e as propostas sistemáticas de educação da juventude e sua correspondente ação pedagógica. É possível, nessa perspectiva, estudar Protágoras e os sofistas, Pitágoras e a escola pitagórica, Sócrates e a maiêutica, Platão e a Academia, Aristóteles e o Liceu, entre muitos outros. Por esse mesmo foco é possível estudar o pensamento medieval, em que filosofia/teologia, educação/pedagogia e idéias psicológicas permaneceram intimamente articuladas. A modernidade trará uma complexidade que amplia muito o espectro de análise dessas relações, proporcionando um campo quase incomensurável de estudos, que estende para a contemporaneidade suas determinações e nela se faz presente. Em última análise, pode-se afirmar que a relação entre psicologia e educação, sobretudo em suas mediações com as teorias de conhecimento, é algo que acompanha a própria história do pensamento humano e constitui-se como complexo e extenso campo de estudo. Esta não é a perspectiva que será aqui tratada, mas reiterá-la é necessário para indicar a complexidade e a totalidade da qual faz parte o foco sob o qual a Psicologia Escolar e Educacional será abordada neste texto, qual seja, a Psicologia Escolar e Educacional no Brasil.O presente texto compõe-se de uma discussão inicial sobre alguns pressupostos do estatuto da Psicologia Escolar e Educacional, uma breve história das relações entre psicologia e educação no Brasil e um ensaio sobre os compromissos e as perspectivas colocadas para a construção de uma Psicologia Escolar e Educacional comprometida socialmente com os interesses da maioria da população. Estatuto da Psicologia Escolar e Educacional: alguns pressupostosEssa discussão exige, antes de mais nada, a explicitação de alguns conceitos presentes nos termos da expressão Psicologia Escolar e Educacional.Entendemos educação como prática social humanizadora, intencional, cuja finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pel...
Este artigo tem a finalidade de expor o percurso histórico da Psicologia no Brasil na perspectiva da tridimensionalidade do tempo, entendendo que a apreensão de sua concreticidade implica a compreensão do passado, que estrutura o presente e se projeta para o futuro. A compreensão da historicidade da Psicologia no Brasil como construção social, neste texto, tem como foco a análise das contradições que estiveram presentes nos diversos períodos, como condição para a compreensão das possibilidades de superação que permitiram saltos de qualidade no desenvolvimento da Psicologia, quer como conhecimento, quer como prática. Serão apresentadas, para cada período da história da Psicologia no Brasil, uma breve descrição de suas características e a análise de algumas produções, sejam elas teóricas, sejam práticas, que revelam suas contradições, sobretudo o confronto das concepções coexistentes em um mesmo tempo histórico, que demonstram o processo constitutivo dos saberes psicológicos e da Psicologia no Brasil a partir de distintos posicionamentos sociopolíticos e epistemológicos. Busca-se contribuir para a compreensão da constituição da Psicologia no Brasil a partir da dinâmica engendrada pelas e nas contradições históricas dessa área do saber, entendida como construção eminentemente social.
Considerando o período anterior, pode-se dizer que tal relação foi essencial para o processo de autonomização da Psicologia no Brasil, de tal maneira que se pode dizer que a Educação foi o terreno fértil no qual a Psicologia se desenvolveu. Essa relação permaneceu forte nos anos subseqüentes, podendo-se dizer que foi no campo da Educação que a Psicologia mais efetivamente encontrou as bases para seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, que foi na Psicologia que mais o campo da Educação fundamentou suas teorias e práticas. Dando seqüência ao processo de reconhecimento da autonomia da Psicologia como área específica do saber, segue-se um período no qual ela se consolida, ampliando sua produção nas esferas do ensino, da pesquisa e da prática, gerando as condições para o reconhecimento legal da profissão de psicólogo.Assim, faz-se necessário o empreendimento de pesquisas que procurem demonstrar mais analiticamente a natureza dessas relações, como esforço para compreender o processo histórico de construção da Psicologia no Brasil e, concomitantemente, as características específicas que tal relação produziu no âmbito da educação brasileira. Este trabalho pretende contribuir para a compreensão desse período por meio do estudo de publicações em periódicos, considerando que esses são privilegiados meios pelos quais se expressam as principais produções da área. MÉTODOO presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de parte de uma pesquisa 2 produzida no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo -PUCSP, cuja finalidade foi a de contribuir para a compreensão das relações que se estabeleceram entre Psicologia e Educação no Brasil, no período que vai de 1930 à regulamentação da profissão de psicólogo (1962). Mais especificamente, este trabalho trata das publicações nos principais periódicos de Psicologia e de Educação, compreendendo o período que vai de 1944 (data da publicação do primeiro número da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos -RBEP) até 1962 (data -limite deste estudo). Pretende-se aqui apresentar um estudo quantitativo dos dados obtidos, cuja finalidade é demonstrar as tendências gerais que caracterizam a produção em foco.Este estudo faz parte de um projeto mais amplo, que visa a uma sistematização da história da Psicologia no Brasil, enfocando particularmente os anos que vão da década de 1930 à Lei 4119/62, considerando que esse período 3 tem carecido de síntese, tal como já se tem disponível para períodos anteriores 4 . Isso se deve ao fato de que a quantidade, a diversidade e a amplitude das produções nesse momento histórico exigem estudos mais extensos, não sendo possível dar conta de sua complexidade num único projeto de pesquisa, além do que a envergadura da tarefa não possibilita que ela seja empreendida por um pesquisador solitário. Faz-se necessário empreender pesquisas mais pontuais, abordando facetas específicas do período, cuidando de priorizar as questões que são mais fundamentais. Nesse sentido, as articulações entre P...
ResumoEste artigo é parte dos resultados obtidos em uma pesquisa de mestrado em Educação: Psicologia da Educação, pela PUC--SP, que teve por objetivo compreender a constituição da identidade do aluno mutilado pelo câncer infantil, com foco no processo de inserção e reinserção escolar, com base nos pressupostos da educação inclusiva. A perspectiva teórica que fundamenta a categoria Identidade, nesta pesquisa, foi elaborada por Ciampa, que, no âmbito da Psicologia Social, estuda a Identidade como síntese de múltiplas determinações. A identidade é entendida como metamorfose, expressão que utiliza para dar a ideia de movimento e contínua transformação como constituintes desse processo. O sujeito desta pesquisa foi sobrevivente do câncer infantil, com mutilação física aparente, que viveu seu processo de reinserção escolar regular, após o término do tratamento. Trata-se de uma pesquisa qualitativa. Foi realizado um estudo de caso, utilizando a narrativa da história de vida, buscando compreender as transformações na identidade do sujeito, considerado emblemáti-co, no processo de inclusão escolar. Os dados demonstram que, do ponto de vista da escolarização, não houve inclusão, mas um processo de integração; entretanto, o sujeito não sofreu exclusão; para ele, a inclusão em atividade esportiva foi o que determinou o processo de superação de suas condições, em direção à metamorfose emancipatória. Palavras-chave:Neoplasias. Pisicologia Social. Identidade Própria. AbstractThis article is part of the results of a Master in Education research (Psychology of Education) in PUC-SP, which aimed to understand the constitution of the identity of pupil mutilated by childhood cancer, with a focus on the process of school placing and re-placing on the basis of inclusive education guidelines. The theoretical perspective that bases the category of Identity in this research was that of Ciampa, which, in the field of Social Psychology, studies Identity as a synthesis of multiple determinations. Identity is understood as metamorphosis, an expression used to suggest the idea of movement and continuous transformation as a constituent of this process. The research subject was a survivor of childhood cancer, with a visible physical mutilation, that that passed by a process of re-insertion to the school environment after the end of treatment. This is a qualitative research characterized as a case study using the technique of life history narrative, seeking to understand the transformations in the identity of a subject considered emblematic in the process of school inclusion. Data demonstrate that, from the point of view of schooling, no insertion have happened, but rather an integration process. However, the subject did not suffer exclusion; for him, inclusion in a sport activity determined the process of overcoming his condition towards emancipatory metamorphosis.
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