Os textos sobre a globalização costumam pintar um mundo totalmente dominado pelo fluxo do capital global, que nega a grandes setores da humanidade um papel na divisão internacional do trabalho. Passando dessa análise econômica à política e à cultural, alguns teóricos concluem que todo o sentido evaporou dos contextos locais, deixando os habitantes isolados, incapazes de articular suas próprias alternativas às agendas globais. No entanto, um trabalho de campo com um movimento de mulheres rurais brasileiras em um desses lugares "estruturalmente irrelevantes" encontra uma outra face da globalização, com efeitos potencialmente positivos. Essas ativistas locais criam sentidos numa rede transnacional de relações político-culturais que traz benefícios e riscos ao movimento delas. Ali, as mulheres rurais se envolvem com uma gama de militantes feministas, de localizações diversas, em relações constituídas tanto pelo poder quanto pela solidariedade. Elas defendem sua autonomia em relação às imposições dos financiadores internacionais, negociam recursos políticos com feministas brasileiras, apropriam-se dos discursos feministas transnacionais e os transformam. Nesse processo, as mulheres rurais se utilizam de seus próprios recursos, com base exatamente no caráter local do movimento, caráter cujo desaparecimento é lamentado pelos teóricos da globalização.
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