O câncer infantil é considerado uma doença crônica associada a sofrimento e possibilidade de morte. Nesse contexto, sabe-se que a comunicação é uma das principais mediadoras do cuidado em oncologia. Comunicar notícias é algo além da mera transmissão de informações, sendo considerada uma das atividades mais delicadas da prática clínica do profissional de saúde. Diante disso, este trabalho tem o objetivo de discutir o câncer infantil e os aspectos relacionados às emoções envolvidas diante da comunicação de notícias, principalmente as más notícias, decorrentes do diagnóstico e tratamento realizado, utilizando contribuições oriundas da psicanálise. O trauma e a angústia decorrentes de situações inesperadas e difíceis podem acarretar sentimentos de impotência e desamparo, promovendo sofrimento, atitudes passivas ou fuga. Nesse sentido, os médicos, sensíveis a isso, podem adotar atitudes que minimizem tais sentimentos. Este artigo reflete ainda sobre algumas dificuldades enfrentadas pelos médicos quando se deparam com um diagnóstico grave ou um prognóstico ruim. Para além da comunicação da notícia, discute-se sobre o momento em que o profissional descobre a notícia: O que passa pela cabeça deste profissional? Quais expectativas ele lança para o paciente? Atualmente a comunicação é considerada um dispositivo fundamental no alcance de metas terapêuticas e formação do vínculo da tríade paciente, família e equipe de saúde.
Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou sabe. Perigo de mexer no que está ocultoe o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidade do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outrasquais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no fundo do poço. Clarice Lispector (1999, p. 15).
O câncer infanto-juvenil é um termo genérico para descrever diferentes malignidades que causam efeitos destrutivos no organismo devido a seu caráter invasivo e metastático, apresentando especificidades diferentes do câncer adulto. Considerando os aspectos emocionais de sobreviver ao câncer pediátrico, destaca-se que há um pequeno número de pesquisas qualitativas que investigam, em profundidade, a vivência do adulto sobrevivente e poucas no campo da Psicanálise. Este trabalho objetiva oferecer subsídios para a formulação de novas modalidades de tratamento pelos profissionais que lidam com pacientes com câncer infanto-juvenil. A concepção de investigação que embasa este trabalho é o modelo de pesquisa qualitativa em psicanálise, cuja preocupação essencial é com o sujeito do inconsciente e com suas vivências e representações singulares. Foram realizadas entrevistas abertas que investigaram os sentidos e significados que adultos, sobreviventes de tumor do sistema nervoso central na infância, atribuem às suas experiências de vida durante o adoecimento e após o término do tratamento oncológico; a análise delas assinala que o tema da vergonha aparece como queixa dos entrevistados, e ela norteia as discussões. A vergonha é decorrente de uma timidez excessiva, que leva a um medo exagerado de contato social e afeta o corpo. A psicanálise associa a vergonha à ferida narcísica e este artigo avança sobre as questões contemporâneas do corpo, apresentando discussões e propostas para novas modalidades de tratamento. Essas, ao serem ofertadas pelo psicanalista, podem contribuir para a assistência desses casos no âmbito da saúde pública, tanto nos ambulatórios como nos hospitais.
Este trabalho tem como o intuito de discutir sobre os sentidos e significados que a criança com câncer tem para os profissionais da atenção primária à saúde, porta de entrada dos usuários do sistema público brasileiro. Foram realizadas entrevistas individuais de questões abertas com quatro profissionais, atuantes na atenção primária de municípios baianos e teve como embasamento o método clínico-qualitativo. As categorias de análise foram identificadas a posteriori e divididas em: afetos mobilizados pela criança com câncer e os conflitos gerados neste encontro; dificuldades e desafios no funcionamento do sistema público e formas de resolução para a autonomia da profissional. As profissionais relatam insegurança em lidar com a criança com câncer: identificam comoção e afetos como tristeza, desesperança, pena e angústia, referem não ter preparo emocional para lidar com o sofrimento da criança e da família, sentem-se impotentes pelas barreiras impostas no sistema público para cumprir com o encaminhamento, a continuidade do cuidado e a integralização da assistência e narram iniciativas individuais para lidar com essas dificuldades. Os profissionais não querem apenas discutir sobre o tema, mas também conhecer e se aprofundar no que diz a respeito da criança e adolescente com o câncer atendidos pela atenção básica, como funciona a referência e sua contrarreferência, como é realizado o acompanhamento do paciente em outros serviços e sobretudo o seu acolhimento.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.