O câncer infanto-juvenil é um termo genérico para descrever diferentes malignidades que causam efeitos destrutivos no organismo devido a seu caráter invasivo e metastático, apresentando especificidades diferentes do câncer adulto. Considerando os aspectos emocionais de sobreviver ao câncer pediátrico, destaca-se que há um pequeno número de pesquisas qualitativas que investigam, em profundidade, a vivência do adulto sobrevivente e poucas no campo da Psicanálise. Este trabalho objetiva oferecer subsídios para a formulação de novas modalidades de tratamento pelos profissionais que lidam com pacientes com câncer infanto-juvenil. A concepção de investigação que embasa este trabalho é o modelo de pesquisa qualitativa em psicanálise, cuja preocupação essencial é com o sujeito do inconsciente e com suas vivências e representações singulares. Foram realizadas entrevistas abertas que investigaram os sentidos e significados que adultos, sobreviventes de tumor do sistema nervoso central na infância, atribuem às suas experiências de vida durante o adoecimento e após o término do tratamento oncológico; a análise delas assinala que o tema da vergonha aparece como queixa dos entrevistados, e ela norteia as discussões. A vergonha é decorrente de uma timidez excessiva, que leva a um medo exagerado de contato social e afeta o corpo. A psicanálise associa a vergonha à ferida narcísica e este artigo avança sobre as questões contemporâneas do corpo, apresentando discussões e propostas para novas modalidades de tratamento. Essas, ao serem ofertadas pelo psicanalista, podem contribuir para a assistência desses casos no âmbito da saúde pública, tanto nos ambulatórios como nos hospitais.