RESUMOOs últimos anos testemunharam um aumento na entrada de migrantes africanos no Brasil e na América do Sul em geral. Senegaleses e ganeses representam dois dos maiores grupos desse novo movimento migratório. A literatura sugere ser o desenvolvimento de novos corredores de migração intercontinental sul-sul, por um lado, resultado do desenvolvimento econômico e geopolítico na região; por outro, as dificuldades para entrar na Europa conduzem os africanos a buscar alternativas e expandir seu horizonte migratório para outros continentes. As dimensões espaciais e temporais da migração tornam-se cada vez mais não lineares, e a distinção entre "país de trânsito" e "de destino" fica menos evidente no contexto de mudanças rápidas e transformações globais, o que torna difícil categorizar esses fluxos. Os imigrantes recentes no Brasil devem se adaptar às mudanças das condições durante a migração; eles precisam refletir constantemente sobre as circunstâncias que encontram, identificar novas oportunidades e obstáculos, e reagir a eles. Este artigo tem o intuito de compreender como os senegaleses e ganeses navegam por estruturas em mudança durante a migração para e dentro do Brasil. Os dados foram coletados a partir de pesquisa etnográfica com realização de observação participante e relatos orais de migrantes senegaleses e ganeses nas cidades de Caxias do Sul e Passo Fundo (RS) e Criciúma (SC), que reconstruíram suas trajetórias, a importância das redes sociais e os deslocamentos dos migrantes dentro do país, evidenciando suas estratégias migratórias no território.
Neste primeiro número do décimo volume da Revista Desenvolvimento Socioeconômico em Debate, do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico da Universidade do Extremo Sul Catarinense, apresentamos um dossiê temático composto por seis artigos que visam problematizar alguns fenômenos singulares de deslocamento migratório e as múltiplas implicações destes fluxos internos e transnacionais nas sociedades de origem, passagem e recepção. Os artigos aqui apresentados partem da interpretação que a decisão de migrar é socialmente construída e apresenta dinâmicas diversas. Projetos migratórios englobam e relacionam múltiplos elementos da constituição dos sujeitos, o que inclui contextos sociais, econômicos, culturais e territoriais do migrante, bem como a percepção construída de si mesmo e dos “outros”, em diferentes conjunturas e lugares. A migração, portanto, é aqui interpretada como prática construída socialmente, e discutida – entre vetores e implicações - de forma interseccional, multifatorial e interdisciplinar. Trata-se de um processo historicamente configurado e que exige olhares multidisciplinares também, como o que se apresenta nesta edição. No primeiro artigo, Comportamiento de la migración interna: la variabilidad climática y la formación de asentamientos en la ciudad de Guantánamo-Cuba (2015-2021), de autoria da doutoranda em Ciências Ambientais Anaily Muños Padilla (Universidade do Oriente – Cuba); da doutora em História Mariurka Maturell Ruiz (Universidade Federal de Santa Catarina); e, do doutorando em História Lisandro René Duvergel Smith (Universidade Federal de Santa Catarina), debruça-se sobre o panorama, ainda pouco abordado pelos estudos migratórios, das migrações climáticas em Cuba. Em particular, o artigo analisa, de forma multicausal, o fluxo interno de deslocamento na provincia de Guantánamo e ressalta de que forma os fatores econômicos, políticos e sociais influenciam os processos migratórios, especialmente em momentos de crises econômicas. Utilizando métodos comparativos e descritivos, a pesquisa destaca a complexidade das migrações climáticas e seus impactos no despovoamento das comunidades cubanas. O segundo artigo, Dinâmica espacial do envelhecimento em grandes aglomerações urbanas, escrito por Ednelson Mariano Dota, doutor em Demografia, (Universidade Federal do Espírito Santo); André Luiz Nascentes Coelho, doutor em em Geografia (Universidade Federal do Espírito Santo); Rennan Moraes Rodrigues, doutorando em Geografia (Universidade Federal do Espírito Santo) e por Marcone Henrique Freitas, mestre em geografia (Instituto Federal do Espírito Santo), discute a relação entre o envelhecimento populacional e os movimentos migratórios nas grandes aglomerações urbanas. Os autores analisam a importância da relação entre migração e envelhecimento na conformação dessa dinâmica espacial, tendo como foco a Região Metropolitana da Grande Vitória, Espírito Santo. Por sua vez, o terceiro artigo intitulado Territorialização e migração: um breve estudo demográfico sobre o processo de litoralização em Balneário Camboriú/SC, escrito pelos doutorandos em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental (Universidade do Estado de Santa Catarina), Tafarel Cassaniga e Júlia Teixeira Lahm Dametto, explora a relação entre as teorias do território e a dinâmica da migração em Santa Catarina, com foco no processo de litoralização na cidade catarinense de Balneário Camboriú. O estudo utilizou dados demográficos dos censos do IBGE e do SIDRA/IBGE para analisar a evolução demográfica da cidade, demonstrando como ela se tornou um polo de atração populacional impulsionado economicamente pelo turismo, comércio e construção civil. O próximo artigo do dossiê é assinado por Renato Conrado Lopes, mestre em Gestão Integrada do Território; Mauro Augusto dos Santos, doutor em Demografia. (Universidade Vale do Rio Doce); Haruf Salmen Espindola, doutor em História Econômica (Universidade Vale do Rio Doce) e por José Luiz Cazarotto, doutor em Psicologia (Royal Anthropological Institute - Londres). O estudo apresentado se intitula Do Nordeste para Minas: a reterritorialização de imigrantes cearenses em Governador Valadares-MG e intenta analisar a migração de cearenses para o município de Governador Valadares, em Minas Gerais, cidade reconhecida nacionalmente por ser um pólo de saída de migrantes os Estados Unidos. Para os autores, no processo de reterritorialização de cearenses na cidade de acolhimento, é possível identificar a conformação de um novo território, com características híbridas e multiterritoriais, que são abordadas neste estudo. Nesta edição da RDSD também publicamos o artigo Sem vacina, sem impostos e sem muçulmanos: o paraíso verde dos alemães, de autoria Sindy Gabrielly Holanda Oliveira, doutoranda em Sociologia (Universidade Federal do Ceará). O texto de Oliveira aborda um fenômeno de migração recente de alemães para a região das Colônias Unidas no Paraguai. Em especial, o artigo sugere que os principais vetores dos projetos migratórios contemporâneos de alemães para o país apresentam motivações antissemitas, islamofóbicas e de negacionismo científico. Fechamos este dossiê com o artigo intitulado Os projetos migratórios de Brasileiras/os na Alemanha no século XXI, de autoria de Gláucia de Oliveira Assis, doutora em Ciências Sociais (Professora da Universidade do Vale do Rio Doce e Universidade do Estado de Santa Catarina); Francisco Canella, doutor em Ciências Sociais (Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina) e Lais Martendal, mestranda em História (Universidade do Estado de Santa Catarina). O presente texto, fruto de uma pesquisa de campo realizada com vinte e duas mulheres migrantes para a Alemanha, discute como estas migrantes brasileiras (re)construíram seus projetos migratórios e laços sociais com o Brasil, configurando famílias transnacionais, e enfatiza as implicações destes arranjos transnacionais nas relações familiares e de gênero no tempo presente. Por fim, esta edição da RDSD ainda conta com o artigo livre Avicultura e Sistemas Integrados: Cenário Brasileiro e Catarinense da Produção de Aves de Meline Vitali Duminelli, doutora em Desenvolvimento Socieconomico (Universidade do Extremo Sul Catarinence); Giovana Ilka Jacinto Salvaro, doutora Ciências Humanas, (Professora na Universidade do Extremo Sul Catarinense) e Dimas de Oliveira Estevam, doutor em Sociologia Política (Professor na Universidade do Extremo Sul Catarinense). O artigo destaca a importância socioeconômica da avicultura no Brasil e em Santa Catarina, a relação entre produtores e indústria no modelo de integração; e, a necessidade de equilíbrio nos custos de produção, considerando os investimentos e os desafios enfrentados pelas famílias produtoras, no contexto da produção avícola em sistemas integrados. Agradecemos as autoras e autores, bem como a equipe editorial da Revista Desenvolvimento Socioeconômico em Debate, que oportunizaram a publicação desta edição da revista e do dossiê temático: Migrações e Deslocamentos Contemporâneos. Desejamos uma ótima leitura. Organizadoras: Michelle Maria Stakonski Cechinel – Doutora em História (Obmigra/SC) Gláucia de Oliveira Assis – Doutora em Ciências Sociais (UNIVALE/UDESC/Obmigra-SC) Maria Catarina Chitolina Zanini – Doutora em Ciências Sociais – Antropologia Social (UFSM)
O presente artigo analisa os recentes fluxos migratórios de ganeses que se deslocaram de zongos, assentamentos étnico-religiosos na região de Gana, para a cidade de Criciúma, na região Sul do Brasil, entre 2014 e 2020. Intenta-se compreender, com base na ideia de uma “cultura da itinerância”, as dinâmicas migratórias forjadas no contexto histórico de deslocamento desses sujeitos e a forma como os migrantes ganeses reconstituem suas identidades étnicas em trânsito. A hipótese defendida é a de que o modo como esses migrantes se inserem na cidade – formando, de um lado, espaços tensionados próprios para ganeses provenientes de zongos, logo fiéis ao islã e falantes da língua hauçá, e, de outro, para ganeses não zongorianos, especialmente da etnia axânti – representa uma extensão das tensões de organização social e histórica do local de origem: Gana. Assim, o artigo procura apontar como, em deslocamento, ganeses zongorianos de diversas etnias e ganeses axântis reforçam e ressignificam suas identidades, reproduzindo em trânsito dinâmicas sociais de separação espacial e cultural na sociedade de acolhimento – no caso estudado, Criciúma.
RESUMO:O presente artigo propõe-se a defender o argumento de que, ao contrário do que a breve história de sua recepção nos diz, não há "formação" alguma em jogo no romance Sozaboy, do escritor e ativista político e ambiental nigeriano Ken Saro-Wiwa, ao menos não segundo os termos da Bildung ou do Bildungsroman. Para apresentar o argumento em questão, o texto divide-se em dois momentos fundamentais: primeiramente, realiza uma rápida introdução ao significado histórico dos conceitos que aqui nos cabem, "formação" (Bildung) e "romance de formação" (Bildungsroman); a seguir, tomando como pano de fundo a exposição realizada, o artigo analisa o romance Sozaboy, assinalando que, menos que um "romance de formação", Saro-Wiwa descreve um processo deformativo singular, que, como tal, pede do leitor uma outra epistemologia, uma epistemologia negativa da destruição do sujeito. PALAVRAS-CHAVE: Ken Saro-Wiwa; Sozaboy; Bildung; deformação. ABSTRACT:This article intends to defend the argument that there is no "formation" at stake in Sozaboy, novel by writer and political and environmental activist Ken Saro-Wiwa, at least not according to the terms of the Bildung or the Bildungsroman. In order to present this thesis, the text is divided into two fundamental parts. First, it presents a brief introduction to the historical meaning of the concepts here discussed, "formation" (Bildung) and "novel of formation" (Bildungsroman). After that, the article analyzes the novel Sozaboy, noting that, less than a "novel of formation," Saro-Wiwa describes a singular deformative process, which, as such, requires from the reader another epistemology, a negative epistemology concerning the destruction of the subject.
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