No final do século XX, a recente emigração de brasileiros para o exterior inseriu o Brasil nos novos fluxos da população mundial. Uma das características desses fluxos é o crescimento da participação feminina. Pesquisas recentes têm demonstrado a importância das mulheres nos fluxos migratórios contemporâneos como articuladoras de redes sociais na migração. Essas redes familiares e de parentesco são fundamentais tanto para aqueles que pretendem empreender a aventura de migrar quanto para auxiliar nos momentos da chegada ao local de destino. Este artigo pretende demonstrar que a migração não é resultado apenas de uma escolha racional, mas de estratégias familiares nas quais homens e mulheres estão inseridos. Para percorrer a trajetória dos emigrantes o trabalho de campo se realizou em dois lugares: a cidade de Criciúma (SC) e a região de Boston, nos Estados Unidos. Os dados coletados a partir de entrevistas e de observação participante têm revelado que as mulheres não apenas esperam por seus maridos ou filhos, mas participam efetivamente do processo, integrando e articulando redes de migração. Os dados também sugerem que a migração provoca rearranjos familiares e de gênero ao longo do processo. Abstract The recent emigration of Brazilians, in late XXth century, has inserted Brazil into the new worldwide population flow. One characteristic of these flows is the growth of women in international migration. In the migration literature women participation in international flows has long been analyzed as subordinated to man, but recent research has illustrated the importance of women in migration flows. This paper intends to demonstrate that migratory process is resulted not only the individual choice, but also social networks (family, kingship, friendship), in which men and women are inserted. The work discusses data from fieldwork in Criciúma (SC) and in the Boston area, in United States. The data emerged from the interviews and participant observation showing that women not only wait for their husbands or children, but also participate in the process integrating and articulating migration networks. The data also made evident the changes in the family and gender relationships, suggesting that the migratory process rearticulate these relationships. This study therefore evidences that other factors, along with the ones of economics nature, contribute for the decision of migrating and make the history of this flow.
Este artigo discute as experiências de homens e mulheres brasileiros, que tentam cruzar a fronteira México-Estados Unidos em viagens não-autorizadas no mundo global. São viajantes clandestinos que, com a ajuda dos coiotes, tentam entrar na "América". Na produção sobre tráfico de pessoas e "contrabando" ou tráfico de migrantes (smuggling), as questões relativas a gênero tendem a ser tratadas considerando-se que os homens brasileiros estão predominantemente vinculados ao tráfico de migrantes, enquanto as mulheres são vítimas de tráfico de pessoas para exploração sexual. Neste texto mostro que homens e mulheres estão envolvidos no tráfico de migrantes e ambos enfrentam os riscos, a aventura ou desventura de cruzar a fronteira ou de ser deportado.
Our objetive is to analyze, springing from an historiographic and ethnographic perspective, some situations involving Italian-Brazilians (from Rio Grande do Sul and Santa Catarina) who migrated to Italy (since the nineties of the twentieth century). We intend to understand how this process was driven by the expectation of "return" to the land of the ancestors and the symbolic aspects associated and to analyze, too, as the source category (Italian) has been thrown by the descendants migrants and the importance it played in their trajectories
Resumo No século XXI, o fluxo emigratório internacional de brasileiros se modificou quanto a sua direção, intensidade e natureza. Nesse cenário, ocorreu um incremento significativo da participação das mulheres. Diferentemente dos movimentos migratórios que desde a segunda metade do século XX se dirigiam majoritariamente para Estados Unidos, Japão e Paraguai, há, mais recentemente, uma intensificação do movimento rumo ao continente europeu. O presente artigo propõe analisar a mobilidade entre o Brasil e a Europa das mulheres brasileiras que estabelecem relações de afeto com homens europeus nos países de imigração e como negociam gênero e raça nas representações sobre a “mulher brasileira”. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa que, a partir de dois bancos de dados de pesquisas realizadas com 46 mulheres, selecionou quatro entrevistas semiestruturadas para refletir sobre os processos de transnacionalização e percepção das marcas da racialização e exotização que as mulheres brasileiras vivenciam ao longo de suas experiências migratórias. Essa reflexão permitiu considerar que as mulheres participantes deste estudo, quando estabelecem relações de conjugalidade com portugueses, alemães ou italianos, repensam seus projetos migratórios em função das condições que as relações de afeto estabelecem, negociam posições de gênero, enfrentam os processos de racialização e sexualização e constroem outros significados para imaginários associados à “mulher brasileira”.
A proposta de organizar essa seção temática sobre Gênero e Migrações Contemporâneas surgiu durante o Seminário Internacional Fazendo Gênero 7 e significou para nós um grande desafio. Na segunda metade do século XIX e ao longo do século XX, homens e mulheres cruzaram o mundo em busca de uma vida melhor. No final do século XX, os novos movimentos internacionais de população, iniciados no final dos anos 1950, caracterizam-se pela maior diversidade étnica, de classe e de gênero, bem como pelas múltiplas relações que se estabelecem entre a sociedade de destino e a de origem dos fluxos-o que aponta para as características transnacionais desses fluxos que se conectam aqui e lá numa intricada rede de relações. Dessa forma, não são apenas os europeus brancos partindo da Europa para "fazer a América" (cerca de 90% dos fluxos do século XIX), mas também trabalhadores imigrantes não-brancos partindo dos países periféricos e dirigindo-se para os Estados Unidos, Canadá e países da Europa. Além dessa maior diversidade étnica e de classe, há um aumento significativo da participação de mulheres. Numa coletânea de artigos sobre gênero e migração, Mirjana Morokvasic afirmava que "Os Pássaros de Passagem também são mulheres", 1 sugerindo que a participação das mulheres nas migrações internacionais tem sido negligenciada por pesquisadores e formuladores de políticas públicas, ou que estas têm sido representadas de maneira estereotipada como "dependentes passivas". Assim, embora muitas vezes os dados sobre os contingentes de mulheres aparecessem nos estudos, suas experiências, vivências, trabalhos, ficavam encobertos na categoria "migrante", considerada gender-blind. 2 De fato, até recentemente, a migração internacional era majoritariamente tratada como um fenômeno que envolvia particularmente os homens. Essa maior visibilidade numérica das mulheres contribuiu para questionar sua invisibilidade enquanto sujeito nos movimentos populacionais e, a partir das críticas das teóricas feministas, estudos recentes buscam
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