RESUMO:O artigo examina a crítica da razão governamental moderna efetuada por Foucault sob dois aspectos fundamentais: em primeiro lugar, analisa a noção de crítica a partir de uma certa leitura que faz de Kant, articulada a uma ontologia do presente. Em segundo lugar, investiga o lugar ocupado pelo liberalismo neste procedimento crítico. Procura enfim mostrar que a crítica de Foucault escapa à imputação de reformismo. uma conferência pronunciada em 1979 nos Estados Unidos, Foucault explicava o que era, a seu ver, a tarefa da filosofia: efetuar uma "crítica da razão política". "(...) depois de Kant, o papel da filosofia tornou-se o de impedir a razão de ultrapassar os limites daquilo que é dado na experiência; mas, a partir desta época, (...) o papel da filosofia tornou-se também o de vigiar os abusos de poder da racionalidade política (...)" (Foucault, 1994e, p. 181).Ele opõe à ilusão, que é própria da razão, de dizer o que deve ser o poder, a função, aparentemente negativa, de um contrapoder permanente 1 . De que modo, contudo, ela poderia exercer este papel? Não apenas pela vigilân-cia em relação às práticas efetivas do poder -tarefa que é de responsabilidade de todos os cidadãos -mas pela desmontagem de seus mecanismos e pela análise da racionalidade à qual obedecem. Esta racionalidade, nas sociedades ocidentais modernas, caracterizava-se por apresentar duas faces, uma individualizante e outra totalizante. Tinha sua origem na idéia cristã de um N UNITERMOS: Foucault, razão governamental, a atitude crítica, poder, liberalismo.