Este artigo analisa as leituras de Homero e de Aristóteles feitas por Hannah Arendt. Partindo das reinterpretações do conceito de coragem, phrônesis e política feitas pela filósofa, apontamos naquelas leituras indícios das definições arendtianas do ethos do homem político e do surgimento do espaço público. O artigo também discute dois paradoxos no pensamento de Arendt: o paralelo entre a coragem guerreira do herói homérico e a virtude sagaz da phrônesis aristotélica, por um lado, e, por outro, a ação política enquanto reveladora do agente no espaço público e atividade coletiva voltada para a criação e manutenção de instituições. Sustentamos, como conclusão, que a releitura de Homero e Aristóteles, por mais paradoxal que seja, constitui a fonte teórica para a separação radical entre violência e política, realizada por Arendt.
Não tenho a obrigação de resolver as dificuldades que crio. Talvez minhas ideias sejam sempre um tanto díspares, ou até pareçam se contradizer entre si, basta que sejam ideias onde os leitores encontrem material que os incite a pensar por eles mesmos. Gotthold Lessing Recebido em 31 de maio de 2013. Aprovado em 20 de agosto de 2013.
8 cf. citação completa na nota 30. 9 cf. breve introdução que fizemos sobre o tema do lúdico na nota 2. 10 Para Arendt, há o homem, que ela percebe como "ser racional, sujeito às leis da razão prática que ele dá a si mesmo, autônomo, um fim em si mesmo" e há a pluralidade dos homens, entendidos como "criaturas limitadas à Terra, vivendo em comunidades, ditadas de senso comum, sensus communis, um senso comunitário; não autônomos, cada qual precisando da companhia do outro mesmo para o pensamento". cf. ARENDT, Hannah. Lições sobre a filosofia política de Kant. p. 37.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.