Este artigo discute as concepções de saúde expressas nos documentos curriculares oficiais brasileiros para a área das Ciências da Natureza, considerando como elementos centrais os conhecimentos científicos (K), os valores (V) e as práticas sociais (P) apresentados nos textos. Trata-se de uma análise documental, que utilizou a Análise de Conteúdo como principal referencial metodológico e saúde como unidade temática. Os resultados apontaram que um conceito mais amplo de saúde é pouco explorado nos documentos referenciais. Ou seja, o entendimento sobre saúde abordado nos diferentes documentos está fortemente relacionado ao conhecimento do corpo humano e aos comportamentos saudáveis, as práticas propostas direcionam para os cuidados pessoais e os valores mais prevalentes correspondem à noção de autonomia e protagonismo. Observa-se que predomina uma concepção de saúde pautada no funcionamento do corpo humano, na doença, nos hábitos e comportamentos considerados adequados para manter a saúde. O “direito à saúde” e “políticas públicas de saúde” são categorias pouco manifestas, o que demonstra a necessidade de ampliar a concepção de saúde nos documentos analisados.
Este trabalho apresenta um relato de experiência de uma aula interdisciplinar sobre “Saúde e Qualidade de Vida” dirigida a estudantes do Ensino Médio. A construção da aula foi realizada com professores da educação básica, da área Ciências da Natureza, abrangendo conhecimentos relativos às disciplinas Biologia, Física e Química em interface com a temática saúde, considerando a interdisciplinaridade como princípio orientador. A aula foi destinada a um programa da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, o qual oferta ensino remoto a estudantes residentes em regiões de difícil acesso do Estado, envolveu quinze professores e alcançou cerca de quinze mil estudantes do Ensino Médio. Na aula, além de conteúdos formais correlatos à saúde, foram também apontadas as interfaces dos conceitos de saúde e discussões em torno do direito à saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS). Ressalta-se que uma abordagem ampla sobre saúde é possível e necessária no contexto do Ensino de Ciências, e que os aspectos relacionados à organização e ao funcionamento do SUS despertaram curiosidades e interesses por parte dos docentes e dos estudantes, contribuindo para um processo de ensino e de aprendizagem dinâmico, interativo e elucidativo. É necessário e relevante abordar questões sociopolíticas no ensino, como é o caso da saúde e o seu viés enquanto política pública. Este relato se situa no contexto de uma pesquisa mais ampla sobre concepções de saúde subjacentes ao Ensino de Ciências, e a realização da aula interdisciplinar correspondeu à etapa final da pesquisa.
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