Resumo: Introdução: Embora a educação médica esteja pautada, hegemonicamente, por princípios universalistas e igualitários, este artigo pretende tensionar tais concepções ao considerar a heterogeneidade e a multiplicidade imbricadas no saber-fazer médico ante as determinações históricas, sociais e locorregionais de saúde. Para compreender a medicina nesse panorama complexo, é preciso que a produção de conhecimento, desde a construção de projetos pedagógicos e currículos de graduação, privilegie a equidade em saúde, abrangendo, sobretudo, o cuidado destinado às minorias sociais. Nesse substrato, encontra-se a população negra, coletivo majoritário no Brasil, principalmente na Região Nordeste, que enfrenta diversas fragilidades no alcance de uma atenção à saúde integral. Objetivo: Este estudo teve como objetivo analisar os projetos pedagógicos dos cursos (PPC) de graduação em Medicina, do Nordeste brasileiro, e suas interfaces com conteúdos que contribuam para a formação médica no enfrentamento das iniquidades da saúde da população negra. Método: Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e transversal, com análise de 23 PPC de graduação em Medicina de 13 universidades públicas federais da Região Nordeste. Realizou-se também a correlação dos dados com achados científicos e referenciais teóricos que abordam a temática de saúde da população negra e formação médica. Resultado: Identificou-se a presença de disciplinas obrigatórias e optativas sobre a contextualização de raça na saúde em seus aspectos essenciais, o que permite proporcionar aos estudantes de Medicina a compreensão histórica e sociocultural da negritude. Entretanto, é imperioso enfatizar o déficit na abordagem prática com escassez de temas transversais, propostas de internato ou estágio e fomento de programas de extensão, bem como de políticas institucionais de incentivo ao assunto, o que sinaliza o pouco valor atribuído ao campo da experiência para a compreensão da saúde racializada e fortalece o esvaziamento de práticas específicas à saúde da população negra, diminuindo a capacidade médica de interpretar situações, práticas e condutas de maneira efetiva. Conclusão: Este artigo evidencia, portanto, que o fomento de uma educação médica antirracista exige uma formação pautada na práxis dialógica, humanista e crítico-reflexiva da saúde da população negra, sendo necessário correlacionar teorias com habilidades, competências e atitudes assistenciais pautadas no conhecimento racializado para a construção de PCC dos cursos de Medicina.
Introdução: o acolhimento, visto como paradigma em saúde coletiva, deve ter início na recepção do serviço e em todo o processo de tratamento, incluindo a relação dos trabalhadores com os usuários. Deste modo, acolhimento implica no processo de responsabilização, na intervenção resolutiva e a humanização do atendimento, através da escuta qualificada dos problemas de saúde dos usuários. Sendo assim, humanizar na atenção à saúde é compreender cada pessoa em sua singularidade, tendo necessidades específicas, levando em conta seus valores e vivências como únicos, evitando quaisquer formas de discriminação negativa, de perda da autonomia, preservando a dignidade do ser humano. a humanização no serviço de saúde possibilita uma transformação cultural da gestão e das práticas desenvolvida nos estabelecimentos de saúde, assumindo uma postura ética entre os trabalhadores e o respeito ao usuário. Todavia, na rede básica de saúde o modo de assistência da equipe nem sempre favorece a integralidade, devido as várias dificuldades de tais equipes em desenvolver um trabalho mais coeso, que privilegie uma atenção psicossocial, afastando-se do modelo biomédico e na fragmentação dos saberes. Objetivo: Compreender e analisar a percepção dos usuários sobre humanização no acolhimento em saúde mental. Metodologia: Trata-se de um estudo que faz parte de uma pesquisa ampla denominada "Organização da rede regional de saúde e sua interface com a saúde mental no estado do ceará: dimensão política, econômica, social, organizacional, tecnológica e simbólica", com financiamento do CNPq/MS. É uma pesquisa qualitativa realizada com trabalhadores da ESF e do CAPS, bem como usuários em tratamento e seus familiares nos municípios de Fortaleza e Eusébio. para a coleta de dados utilizou-se a entrevista semiestruturada e a análise dos dados seguiu a orientação da Análise de Conteúdo. o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Resultados: na percepção dos usuários, o acolhimento humanizado pode ser alcançado por meio de um atendimento acolhedor, mediante responsabilização das equipes, com atitudes éticas e flexíveis. Considera-se que o serviço de saúde apresenta falta de profissionais preparados para a realização do acolhimento. Outro aspecto destacado pelos usuários é que o profissional de saúde não só compreenda exclusivamente a cura de doenças, mas também o alívio ou minimização do sofrimento, promoção e manutenção da saúde. Conclusão: Ressalta-se, por fim, que para garantir um atendimento humanizado é necessário uma equipe qualificada e capacitada, uma quantidade suficiente de profissionais, estrutura física adequada e comprometimento com a atenção integral da saúde dos cidadãos.
Resumo Garantir cuidado integral à saúde de mulheres com câncer cérvico-uterino ainda é um desafio para a Saúde Coletiva, embora se evidencie o enraizamento de políticas, práticas e saberes na conformação de redes oncológicas de cuidado. Este estudo apostou na necessidade de mergulhar nas experimentações da micropolítica do cuidado para conhecer as nuances do fenômeno investigado. Ao fundamentar-se no aporte teórico-metodológico de Deleuze e Guattari, objetivou-se cartografar linhas de composição da produção de cuidado oncológico, na cidade de São Luís-MA, tendo como dispositivo a rede da usuária-guia Luiza. Investigaram-se 28 participantes através de entrevistas em profundidade e rodas de conversas. Como resultado, desenhou-se uma rede vulnerável, fragmentada e centralizada no cuidado biomédico, tendo um hospital que acolhe demandas da doença e uma atenção primária que abandona prevenção e promoção de saúde. Destaca-se a importância de conhecer a mulher com câncer atrelada à comunidade, à religiosidade e aos vínculos familiares. Ter câncer mudou a vida de Luiza e demandou conexões para além do biomédico. Essa cartografia convoca à percepção dos gargalos existentes na produção de redes oncológicas, convidando a quebrar muros tecnoassistenciais e criar enfrentamentos centrados na promoção de saúde e qualidade de vida.
Introdução: A pandemia da COVID-19 tem feito inúmeras vítimas fatais em todo o mundo. Ela não apenas ameaça a esfera física do indivíduo, como também pode gerar importante adoecimento psicológico na população, principalmente por conta do medo de contrair a doença. Objetivo: Avaliar a relação do medo da COVID-19 com sintomas ansiosos e depressivos dos residentes de Medicina de Família e Comunidade da região metropolitana de Fortaleza. Métodos: Realizou-se um estudo quantitativo analítico, correlacional e transversal, no qual os participantes responderam a um formulário eletrônico que continha um questionário elaborado pelos autores e os instrumentos Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) e Escala de Medo do COVID-19 (EMC-19). Resultados: A pesquisa contou com 50 participantes. Verificou-se que 52% dos residentes apresentavam sintomas de ansiedade, 36% sintomas depressivos e 22% possuíam medo da doença de moderado a intenso. As maiores médias de medo foram dos residentes que já tratavam ansiedade ou depressão e dos residentes que iniciaram tratamento durante a pandemia. Conclusões: O estudo demonstrou que uma porcentagem relevante dos pesquisados apresentou sintomas de ansiedade e depressão, além de mostrar associação direta entre esses sintomas e o medo da COVID-19. Conclui-se enfatizando que o contexto pandêmico exige maior atenção às circunstâncias da saúde mental dos residentes de Medicina de Família para propor medidas de enfrentamento mais resolutivas à problemática.
as diretrizes do SUS. Isso pressupõe a articulação e a transversalidade do cuidado integral ao usuário do serviço de saúde nos três principais pontos da rede: atenção primária, especializada e terciária. em relação à atenção especializada da rede de assistência à saúde mental, tem-se a necessidade de construir uma assistência que privilegie serviços de atenção psicossocial, com base nas dimensões comunitárias, territoriais e na aproximação ética, social e solidária entre profissionais e usuários, em busca de articular os vários dispositivos da região de saúde. Objetivo: Compreender o processo de regionalização em saúde na perspectiva da humanização do cuidado ao usuário de saúde mental. Metodologia: o estudo faz parte de uma pesquisa ampla denominada "Organização da rede regional de saúde e sua interface com a saúde mental no estado do ceará: dimensão política, econômica, social, organizacional, tecnológica e simbólica", com financiamento do CNPq/MS. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, crítica e reflexiva, realizada com trabalhadores da ESF e do CAPS, bem como usuários em tratamento nos municípios de Fortaleza e Eusébio. para a coleta de dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada e a análise dos dados seguiu a orientação da Análise de Conteúdo. o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Resultados: do processo de regionalização, destaca-se a importância da atenção primária no cuidado aos usuários de saúde mental, reconhecendo -os em seus territórios e em suas condições biopsicossociais e, só a partir disso, propor promoção e prevenção de saúde, além de encaminhamentos desses usuários ao Caps ou outros serviços da rede social de apoio. para os profissionais, a assistência regionalizada permite que as equipes de saúde conheçam a realidade do usuário em seu cotidiano comunitário, sendo esta, uma condição fundamental para planejar, encaminhar ou resolver a situação demandadas naquele serviço. Já os usuários consideram que o acesso está ampliado. Se antes eles só conheciam o hospital mental em forma de emergência agora percebem que saúde mental está imbricada à saúde básica e secundária. Conclusão: Aponta-se, como égide da temática, a importância do serviço de saúde em rede como fomentador e facilitador de um cuidado embasado no conhecimento das dimensões sócio-espaciais e antropológicas dos usuários, se aproximando de uma assistência humanizada e se distanciando, cada vez mais, do modelo de assistência à saúde mental isolada, excludente de direito, desumana e violenta, muito demarcada na história da saúde mental.
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