Este artigo se insere em uma pesquisa mais ampla sobre a trajetória político-científica da conhecida líder feminista Bertha Lutz. Comenta aspectos de suas inúmeras atividades científicas, para apontar a importância de se considerar, nas discussões sobre história das ciências e história das mulheres no Brasil, também a dimensão das análises de gênero e ciências. Inicia reflexões sobre a construção historiográfica da invisibilidade das mulheres na ciência, também no caso brasileiro.
Este artigo é fruto de uma ampla pesquisa que analisou a participação feminina em atividades científicas no início do século XX, no Brasil, baseando-se principalmente na análise da atuação da naturalista Bertha Lutz (1894-1976) como representante do Museu Nacional do Rio de Janeiro no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil, entre 1939 e 1951. Bertha envolveu-se em discussões importantes sobre o desenvolvimento das ciências e a preservação do meio ambiente brasileiro, e contribuiu com a definição de políticas científicas nacionais, consolidando uma participação importante em um grupo formado principalmente por cientistas e intelectuais que, entre as décadas de 1930 e 1940, mobilizavam- se contra a degradação do meio ambiente e a favor da viabilização de recursos para a realização de pesquisas científicas no país.
This paper analyses the presence of women in scientific expeditions in Brazil in the mid-twentieth century and the several ways gender implications influenced these experiences. The research was conducted primarily through the documents of the Brazilian Inspection Council on Artistic and Scientific Expeditions, the federal organization responsible for inspecting and licensing expeditions into the country between the years of 1933 and 1968. The purpose of this article is to present this study, to reflect about women participation in scientific practices and reveal women scientists' experiences in Brazil at that time.
Este artigo retoma aspectos das trajetórias profissionais de algumas pesquisadoras, brasileiras e estrangeiras, que atuaram no campo dos estudos etnológicos em meados do século XX, no Brasil, e se relacionaram de formas diversas com museus do país, reunindo coleções e produzindo estudos abrigadas por essas instituições. A análise dessas experiências poderá contribuir com uma maior compreensão sobre as formas de participação de diferentes mulheres em instituições e disciplinas e sobre o próprio desenvolvimento de práticas científicas no país.
(1894-1976) é um ícone da historiografia feminista no Brasil. O seu feminismo dos anos 20-30, já foi rotulado como de elite, conservador, bem comportado, jurídico-institucional, senão mais do que isso. Sem a preocupação de rotulá-lo, temos lido e relido a trajetória indissociavelmente feminista / científica / política de Bertha, imersa na cultura de sua época. Uma época de valorização no país das atividades científicas, educacionais, de institucionalização das profissões acadêmicas e de progressiva busca por sua maior internacionalização, com forte referência aos Estados Unidos. Temos interpretado Bertha Lutz sabendo que as leituras mais sensíveis de um texto são também argumentos situados sobre campos de significado e de poder. 1 E como entrar criticamente em competição por interpretações é uma prática também fundamental para os estudos das mulheres, nossa leitura * Trabalho realizado no âmbito do projeto temático "Gênero, Corporalidades" (FAPESP, processo n° 03/13691-0) coordenado por Mariza Corrêa. ** Lia Gomes P. Sousa é historiadora e bolsista CNPq do PAGU-Unicamp; Mariana M.O. Sombrio é historiadora mestranda pelo DPCT-IG-Unicamp, e Maria Margaret Lopes é professora livre-docente do IG-Unicamp e pesquisadora do PAGU-Unicamp, Campinas-SP, Brasil. Agradecemos à bolsista de Iniciação Científica (CNPq/SAE-Unicamp), Carla Mecia P. Moraes, que durante o 2° semestre de 2004 foi responsável pelo início do tratamento e análise da documentação jurídica de Bertha Lutz.
Os trabalhos de Betty Jane Meggers (1921-2012) tiveram importância fundamental nos estudos sobre arqueologia amazônica e impulsionaram o desenvolvimento de novos estudos no Brasil. Sua primeira viagem ao país foi a expedição que realizou na região do Baixo Amazonas, acompanhada por seu marido e parceiro de trabalho, Clifford Evans (1920-1981), em colaboração com o Museu Paraense Emílio Goeldi e com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, entre os anos de 1948 e 1949. Neste artigo, essa viagem é retratada a partir dos diários de campo de Betty Meggers, cuja leitura permitiu mapear a rede de colaboradores que a apoiou, em toda sua diversidade, além de revelar aspectos subjetivos e pessoais envolvidos em seu trabalho de campo. São abordadas também as coleções que o casal formou e a distribuição desses conjuntos cerâmicos entre museus diversos. As descrições detalhadas redigidas por Meggers em seus cadernos de campo incluem notas diárias sobre os períodos que passou no Rio de Janeiro e em Belém, sobre as incursões às Ilhas de Marajó, Caviana, Mexiana e ao território do Amapá, e um curto período em que esteve em Belo Horizonte. Incluem também os diversos nomes de brasileiros que aparecem na narrativa, revelando toda uma estrutura de trabalho coletivo em torno do casal de pesquisadores para que a produção daquele conhecimento fosse possível.
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