A combinação entre sexualidade e educação é um tema que remonta aos primórdios da instituição escolar brasileira. Muitos projetos e iniciativas de educação sexual pontuaram a história da educação no Brasil e o encontro com a perspectiva de gênero sempre foi problemática. Nos anos de 1990, com o aparecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a sexualidade e o gênero passaram a habitar os discursos e as práticas educacionais brasileiros de forma mais bem instalada, mas não menos conflituosa. Este texto analisa os principais caminhos "epistemológicos" que os discursos sobre a sexualidade e o gênero percorreram na instituição escolar ao longo de quase um século. A partir de uma perspectiva ancorada nos conceitos de Michel Foucault, especialmente as noções de dispositivo da sexualidade e biopolítica, analisou-se essa produção discursiva e institucional acerca da sexualidade. Mais contemporaneamente, procurou-se demonstrar as (in) compreensões sobre a diversidade sexual por meio de questionamentos oriundos da teoria queer, tomada como referência decisiva para a discussão da fala docente e de documentos oficiais presentes na escola a respeito de gênero e sexualidade.
Resumo: O texto se desenvolve em três etapas complementares: primeiro, discutimos a estratégia da negação da política, com a qual Bolsonaro afrontou valores democráticos sem romper definitivamente com a democracia, tanto na campanha presidencial como na pandemia. No segundo momento, discutimos a estratégia do negacionismo como política, importante para a compreensão do modo como Bolsonaro empreendeu sua gestão da pandemia. No terceiro momento, argumentamos que durante a pandemia aquelas duas estratégias se conjugaram, produzindo fenômenos sócio-políticos que corroem a democracia, como a banalização das mortes e a naturalização da clivagem entre vidas valiosas, vidas submetidas a processos de menos-valia e vidas descartáveis.
RESUMO Esse texto questiona as disputas contemporâneas em torno da sexualidade e do gênero nas discussões dos planos nacional, estadual e municipal de educação. Abordam-se, sobretudo, as batalhas narrativas em torno da presença dos conteúdos da igualdade de gênero e da diversidade sexual na educação brasileira, aspectos que se tornaram o centro de uma disputa pelo estabelecimento de novas formas de governamento do corpo e do desejo. Tendo em vista as noções de governo e governamentalidade de Michel Foucault, esse texto empreende uma análise genealógica daquilo que Gayle Rubin denominou de pânico moral, instaurado com o programa “escola sem homofobia” e suas repercussões no debate para a formulação dos planos de educação.
Este artigo problematiza os sistemas normativos que aprisionam o corpo, o gênero e a sexualidade. Quatro personagens são chamados a intervir na discussão: Thomas Beatie, Brendan Teena, Bree Osbourn e Agrado, pois compõem narrativas que fazem transbordar o sistema corpo-sexo-gênero. Interrogam-se aqui os processos de captura, tais como patologização, medicalização, exclusão e violência, tendo em vista o dispositivo da sexualidade discutido por Foucault e os processos de naturalização do corpo, do sexo e do gênero. Tendo em vista que a narrativa curricular há tempos flerta com os temas da sexualidade e do gênero, na tentativa de produzir novos processos de captura, pensamos que o cruzamento entre a discussão do currículo e das quatro narrativas contribui para instaurar a diferença, no sentido dado por Deleuze. Novas perguntas, oriundas das teorizações queer ou pedagogia queer, produzem a diferença nas práticas escolares, ao demonstrar os limites do nosso sistema de inteligibilidade quanto aos corpos, ao sexo e às relações de gênero. As quatro personagens/intervenções contêm um potencial reflexivo capaz de afetar a escola pelo (des)conhecimento, fazendo-a experimentar o não saber por meio de novas perguntas, capazes de colocar em xeque os sistemas normativos prevalecentes.
RESUMOEste artigo trata da relação intrínseca entre a definição de adolescência e a idéia de delinqüência juvenil pré-existente, tomada de empréstimo da filantropia e dos tratados jurídicos do século XIX, a partir da qual delineou-se a figura do adolescente "ideal". Resulta da análise de livros e textos da (psico)pedagogia -produzidos entre a primeira década do século XX até os anos setenta -, os quais, por meio de um discurso próprio, traçaram definições e problemáticas, caracterizando cientificamente o surgimento de uma nova subjetividade, a adolescência. Essa pesquisa demonstra ainda alguns deslocamentos posteriores da definição de adolescência -como o rebelde sem causa e o jovem revolucionário -e que, ainda com a criação desses novos personagens, a imagem do adolescente transgressor permaneceu vigente no imaginário social, definindo e determinando os destinos deste sujeito. Palavras-chave: adolescência, delinqüência, (psico)pedagogia. ABSTRACTThis paper deals with the intrinsic relationship between adoslence definition and juveline delinquence, based upon philanthropy, and Judicial Treaties from the XIX century, from where the "ideal" adolescent was borrowed . It results from an analysis of (Psycho) Pedagogy books and texts from the first decades of the XX century until the seventieswhich by using their jargons, designed definitions which led to problematic situations, and so scientifically identified a new ADOLESCENCE. This paper explains why there are late phases of adolescence -as the rebel without a cause and the revolutionary young man -and consequently new characters are created, and the image of the criminal juveline remained in the social imaginary,thus defining and procastinating his/her fate. Key-words: adolescence, delinquence, (psycho)pedagogy. IntroduçãoEste trabalho tem como objetivo investigar os discursos que constituíram a adolescência como objeto de investigação e intervenção, a partir de textos produzidos por psicólogos e pedagogos desde o início do século XX. Desde o princípio, observou-se uma estreita relação entre adolescência e delinqüência juvenil, conceito proveniente dos movimentos de filantropia e dos discursos jurídicos do século XIX. Na tentativa de definir uma nova subjetividade, a adolescência, o discurso competente foi buscar seus elementos em definições de juventude e adolescência provenientes de temporalidades distintas, alinhavando artificialmente uma suposta continuidade histórica, muito embora as principais fontes de referência tenham se mantido, ou seja, a biologia, o higienismo e o eugenismo do século XIX. Na Europa do século XIX e no Brasil das primeiras décadas do século XX, a implantação das reformas higienistas nos centros urbanos foi responsável pelo aparecimento de personagens que se encontravam à margem da ordem burguesa. Entre essas figuras marginais estavam a família disfuncional, a jovem prostituta e o delinqüente juvenil. O alvo das práticas intervencionistas e disciplinadoras, provenientes dos movimentos filantrópicos e, posteriormente, das instituições públ...
Dividido em três etapas complementares, o presente artigo discute a reflexão de Hannah Arendt sobre a crise da educação no mundo contemporâneo. Na primeira parte se estabelecem algumas conexões teóricas gerais entre as teses de Arendt a respeito da crise da educação e sua reflexão filosófico-política sobre a crise política da modernidade. Na segunda parte do texto, discute-se a hipótese arendtiana de que a crise da educação também está relacionada à introdução de abordagens educacionais de caráter psicopedagógico, as quais, em vez contribuir para educar os jovens para a responsabilidade pelo mundo e para a ação política, os mantêm numa condição infantilizada que se estende até a idade adulta, trazendo, em consequência, novos problemas políticos. Finalmente, na terceira parte do texto, propõe-se a hipótese de que uma das principais contribuições do pensamento arendtiano para pensar a crise contemporânea da educação se encontra em sua interessante discussão do binômio "crítica" e "crise", o qual põe em questão o binômio tradicional "crise/reforma". Arendt, assim como Foucault e Deleuze, nos ensina que crítica e crise são fenômenos modernos indissociáveis e nos convida a enxergar a crise como momento privilegiado para o exercício da atividade da crítica. Para Arendt, a crise na educação deve ser entendida como oportunidade crucial para reflexões críticas a respeito do próprio processo educativo.
Resumo: O artigo investiga o processo de criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, por parte do governo Federal, através da lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008, demonstrando o interesse recente pela educação profissionalizante como um segmento fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. Para tanto, são utilizados conceitos criados e empregados por Michel Foucault em suas obras da segunda metade dos anos de 1970, como biopolítica e governamentalidade neoliberal. A análise deve mostrar que a reformulação das instituições destinadas ao ensino profissionalizante em nosso país requer novas maneiras de pensar a educação técnica no que concerne aos diversos níveis de ensino destinados atualmente a essa instituição. O que se pretende é analisar criticamente a formação do profissional técnico, atualmente imerso nas regras da economia de mercado neoliberal, por meio dos conceitos de empreendedorismo e empregabilidade. Palavras-chave: governamentalidade neoliberal. biopolítica. políticas públicas. ensino profissionalizante. VOCATIONAL EDUCATION AND ITS ARTS OF GOVERNMENTS: THE FEDERAL INSTITUTES OF EDUCATION, SCIENCE AND TECHNOLOGY Abstract: The text investigates the foundation of the Federal Institutes of Education, Science and Technology by the Brazilian Government through the law 11.802, publish on December 29th, 2008. It’s a recent movement concerning professionalizing education, understood as a fundamental dimension for the country’s economic and social development. The analysis employs Foucauldian concepts from the second half of the 1970’s, such as biopolitics and neoliberal governmentality. We point out that this reframing of Brazil’s professionalizing education calls for a new understanding of technical education in the different levels in which it is implemented in such Institutes. We shall also critically investigate the technical professional formation, nowadays immersed in the neoliberal market’s economy, thru the concepts of entrepreneurism and empregability. Keywords: Governmentality. Biopolitics. Public policies. Professionalizing teaching.
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