Entrar no campo da psiquiatria e tentar compreendê-lo, em uma perspectiva histórica, é de um lado, penetrar em uma área polêmica, onde há questões não resolvidas, onde o debate tem sido perene e não conclusivo e, por certo, demanda estudos mais profundos para sua melhor compreensão. De outro lado, é reconhecer, como um dos princípios fundamentais, que as práticas psiquiátricas, a doença mental e o saber que a reconhece são contraditórios e estão relacionados ao contexto político, econômico e social de cada sociedade, e que ninguém tem a verdade do conhecimento sobre a loucura, uma vez que sua determinação está ligada a múltiplos fenômenos.Essas idéias são reforçadas por Foucault (1) , que ao escrever a História da loucura, mostrou que ela deve ser entendida como evento político, econômico, social e cultural. Para o autor, o surgimento da instituição psiquiátrica, da doença mental e da psiquiatria são acontecimentos recentes na história da humanidade, datados no início do século XIX. A constituição da psiquiatria como "ciência" médica foi produto da ruptura entre loucura e razão.Este trabalho procura, a partir de uma perspectiva histórica, contribuir para o debate acerca da reforma psiquiátrica brasileira, da desinstitucionalização e dos saberes e práticas de enfermagem em saúde mental. A constituição do saber psiquiátrico e da doença mentalA história da psiquiatria é uma condição fundamental para se pensar os saberes e as práticas no campo da saúde mental.No Renascimento, a loucura foi simbolicamente representada como enunciadora de verdade. Nesse período, o louco vivia solto, fazia parte das paisagens da cidade. A loucura era, para cada um, uma experiência que se procurava mais exaltar do que dominar. Havia uma certa hospitalidade a essa forma de experiência (1,2) . Mas a partir da Idade Clássica (século VII), traçou-se uma linha divisória que tornou impossível aquela experiência tão familiar à Renascença, de uma razão irrazoável, de um razoável desatino. A loucura foi inscrita no universo da desrazão, estabelecendo articulações com o universo da marginalidade social e preparando historicamente as práticas e os saberes psiquiátricos do século XIX (1) . A loucura ao ser inscrita no universo simbólico da desrazão implicou na distinção entre loucura e razão. Essa distinção entre loucura e razão vão-se sobrepor, no século XVII e seguintes, outras distinções, tais como: conhecimento e virtude, saber científico e saber do senso comum, ciência e arte, ciência e filosofia, sujeito e objeto. Inaugurou-se assim, o processo de secularização da consciência, caucionando o lugar do sujeito não apenas como interioridade, como também constituinte do mundo e de seus objetos (3) . O louco, na Idade Clássica, por ter sido agrupado juntamente com vagabundos, libertinos e criminosos estabeleceu um parentesco com as culpas morais e sociais, que parece longe de ser rompido, contribuindo para o processo de sua estigmatização. Portanto, o século XVII marca um tempo de silêncio da loucura, do qual não conseguiu sair por um longo período...
ResumoEste estudo teve como objetivos: identificar os personagens mais significativos no imaginário social e narrar as suas vivências e convivências. É um estudo sócio-histórico. As fontes documentais foram orais (entrevistas semi-estruturadas) e escritas. A interpretação dos achados apoiou-se nos estudos arqueológicos de Foucault sobre a história da loucura, e em autores que estudaram os temas: loucura psiquiatria e reforma psiquiátrica. A loucura narrada no cenário do Crato indica a existência de uma multiplicidade que revela a diversidade, transcendendo o paradigma psiquiátrico tradicional, cujo princípio é a idéia de que o louco deve ser isolado da sociedade. Espera-se que esta pesquisa contribua para o debate sobre a prática dos profissionais de enfermagem no campo da psiquiatria/saúde mental. Considerando tais idéias, procurou-se reconstruir algumas trajetórias de personagens tidos como loucos, por uma população que, ao caracterizá-los, explicita diferentes modalidades de ancoragem da loucura. DescritoresEssas considerações fazem lembrar o estudo magistral sobre a História da Loucura. No Renascimento, na França, o louco vivia solto, fazia parte das paisagens da cidade. A loucura era simbolicamente representada como enunciadora de verdade, havia sabedoria na loucura e loucura na sabedoria. A loucura era uma experiência que se procurava mais exaltar do que dominar; havia uma certa hospitalidade a essa forma de experiência (1) . Neste sentido, este estudo tem o objetivo de reconstruir a história da presença da loucura nos espaços públicos da cidade do Crato -Ceará. Procura-se narrar trajetórias de alguns personagens importantes considerados loucos, diferentes que circulavam livremente pelas ruas, avenidas, praças e igrejas da referida cidade. Entende-se por vivências as formas alternativas de se conviver e se lidar com a loucura, construídas e propagadas para além das fronteiras da Psiquiatria, ou seja, como outras formas possíveis de subjetividades e de verdades, que são consideradas estranhas aos pressupostos do paradigma psiquiátrico tradicional.Tal paradigma se encontra ancorado na idéia de que o isolamento do louco em um hospital psiquiátrico é fundamental para o seu processo de recuperação. De acordo com esse pensamento, o médico detém todo o processo de atendimento, estabelece o diagnóstico, a prescrição e as ações restauradoras, que visam a remissão dos sintomas que motivaram a internação, o que permitiria ao doente um nível de adaptação social. O fundamento para essa concepção encontrase na racionalidade científica constitutiva da ciência moderna, que compreende o sujeito fundado na consciência, na razão (2) . Este trabalho identifica sujeitos considerados loucos no imaginário social, em forma de narrativas, apresentando personagens presentes no cotidiano do cenário das ruas do Crato, com seus estilos, fragilidades, contradições, ansiedades e rebeldias. Procura-se contextualizar o objeto de estudo Rev Bras Enferm, Brasília (DF) 2003 mar/abr;56(2):138-142
As relações de poder em municípios do Alto Sertão Paraibano, no que concerne ao exercício do poder político local, têm sido historicamente analisadas como relações "tradicionais" ou de "apadrinhamento" e dominação. Na contemporaneidade, o "poder" tem sido pensado enquanto uma rede de relações entre forças distintas e conflitantes, a partir do entendimento foucaultiano de que não há relação de poder sem a constituição de um campo de saber. Neste texto defendemos a relevância da problematização da presença ou não dessas relações tradicionais e da existência de continuidades e descontinuidades no quadro atual. No campo discursivo, mudanças de concepções, atitudes e procedimentos de agentes tais como os políticos, a mídia, partidos, associações civis organizados, movimentos sociais etc., representam uma interessante trilha para o entendimento de como são (re)significadas as vivências e as concepções sobre poder local. O objetivo deste artigo é contribuir com esse debate, discutindo o caso dos jogos político-eleitorais nas eleições de 2012 no município de Cajazeiras -PB. A discussão será permeada pelo entendimento do poder como um conjunto de relações de forças e estratégias específicas que instituem uma cultura política, questionando até que ponto, nesse contexto, o poder é pensado como extensão de domínios privados, em suas dinâmicas sutis e microscópicas.Palavras Chave: Relações de poder; Poder local, Jogo político.Power relations in the municipalities of sertão of Paraiba State, regarding to the exercise of local political power have historically been considered as traditional "relationships", "sponsorship" and domination relations. Recently Power has been thought as a relations network among distinct and conflicting forces, inspired in the Foucauldian understanding that there is no relationship of power without the constitution of a correspondent knowledge field. We argue here that is relevant to put in questioning the presence or not of these traditional relations and the existence of continuities and discontinuities in the contemporary scenarios. In the discursive field, changes of conceptions, attitudes and agents built by actors such as politicians, media, political parties, civil associations, social movements etc. represent an interesting track to understand how have been (re) meant the experiences and conceptions of local power. This text aims to contribute to this debate, discussing the political games played at 2012 elections in the municipality of Cajazeiras-PB. In our discussion is pervasive the understanding of power as a set of relationships of forces and specific strategies that establish a political culture, questioning to what extent, in this context, the power is thought as an extension of private domains, taking it into account in its subtle and microscopic dynamics.
RESUMO:O debate sobre a convivência com o semiárido tem como um dos seus principais pressupostos a sustentabilidade, fundamentada em práticas e alternativas de desenvolvimento harmonioso e integrado das esferas econômica, política e social e no protagonismo dos habitantes do Semiárido. Este debate tem sido referenciado como essencial para a (re)elaboração de relações de poder-saber que, deslocando-se do tradicional discurso da dependência, gestem novas possibilidades para este "território", ancoradas na reflexão de questões como: respeito à diversidade, solidariedade, coletividade, articulação em redes, autogestão etc. Este artigo tece algumas considerações sobre as articulações que temos estabelecido entre as atividades de pesquisa e extensão que desenvolvemos nos últimos anos e os fundamentos teórico-metodológico da análise de discurso, na perspectiva de Michel Foucault. Tais atividades buscam apreender a elaboração de visibilidades e dizibilidades das relações de poder/saber das políticas públicas de educação, da educação do campo, do protagonismo de jovens assentados, de mulheres apenadas etc. Interessa-nos problematizar como a elaboração da ideia de convivência com o semiárido institui posições de sujeitos, regimes de verdade e/ou positividade de discursos/saberes, na perspectiva da diversidade e das múltiplas subjetividades. Para tanto, emerge como relevante aprofundar o debate sobre as formas como, nas relações de poder-saber exercitadas e positivadas acerca desse "território", tais questões são enunciadas e se interpõem na instituição da ideia de convivência com o semiárido. Neste sentido, pensamos o Semiárido por meio da utilização e apropriação gestadas por discursos e exercitadas nas relações de poder, através de estratégias e correlações de forças, positivadas nas relações políticas e socioculturais.Palavras-chave: Discurso, convivência; Semiárido. SEMIARID: A GENEALOGICAL PERSPECTIVE ABSTRACT:The debate on living with the semi-arid region has as one of its main assumptions sustainability, based on practices and alternatives for harmonious and integrated development of the economic, political and social spheres and on the protagonism of the inhabitants of the semi-arid region. This debate has been referred to as essential for the (re) elaboration of power-knowledge relations that, moving from the traditional discourse of dependence, create new possibilities for this "territory", anchored in the reflection of issues such as respect for diversity, solidarity, collectivity, networking, self-management, etc. This article presents some considerations about research and extension activities that we have developed in recent years about these issues, having as a theoretical and methodological basis the analysis of discourse, in the perspective of Michel Foucault. These activities seek to capture the visibility and tellability of the power / knowledge relations of public education policies, rural education, the protagonism of young settlers, women in distress, and so on. We are interested in problematizing ho...
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.