Resumo Decorrente de um processo sócio-histórico, a morte tornou-se um tabu: há uma constrição do tema que o afasta do cotidiano e isola sua vivência. Assim, a formação dos profissionais de saúde em torno da temática é insuficiente em níveis de graduação e pós-graduação, este último na modalidade de residência em saúde, interferindo no cuidado para com pacientes em processo de morte e morrer. Este artigo visa compreender a percepção do profissional de saúde residente diante da atuação na morte e no morrer, e investigar a formação dos residentes sobre essa temática, a experiência de atuação nessas situações e o aparato teórico e técnico obtido. A pesquisa é de natureza qualitativa, fundamentada na hermenêutica fenomenológica, e seus dados foram coletados mediante entrevistas semiestruturadas com 14 médicos residentes de um hospital infantil vinculado à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. Através das categorias de sentido encontradas, demarcou-se a carência de formação dos profissionais a respeito do tema, além dos sentimentos de despreparo, impotência e sofrimento relacionados à atuação diante da morte e do morrer. Destacou-se, ainda, a importância da interdisciplinaridade em saúde no trato com os pacientes nessa situação. Os resultados obtidos indicam o lugar dos programas de residência na tentativa de minimizar as complicações da carência da formação; apontam para a necessidade de espaços de cuidado para os profissionais; e destacam que a dimensão ética do cuidado a esses pacientes se sobrepôs às relações técnicas.
Resumo A Covid-19 provocou número elevado de perdas e mudanças nos processos de cuidado e despedida, fatores que podem dificultar a elaboração do luto. Objetivamos, assim, compreender as particularidades do luto no âmbito da Covid-19, ressaltando a importância da adaptação e da criação de estratégias voltadas ao cuidado da saúde mental nos processos de luto. O ensaio realiza um panorama teórico, indicando elementos presentes na pandemia com potencial para interferir no luto, e apresenta um levantamento de iniciativas adaptadas a tal contexto. A pandemia trouxe mudanças na forma de experienciar o morrer. Evidenciam-se iniciativas na tentativa de mitigar os efeitos emocionais, cognitivos e comportamentais. O momento convoca a repensar conceitos e (re)criar compreensões acerca da morte e do luto, ressaltando-se a importância da Rede de Saúde Mental, com o fortalecimento de ações de base sociocomunitária, reconhecimento de diferentes níveis de complexidade das demandas e acesso organizado à atenção especializada.
O objetivo deste estudo é compreender a experiência de cuidado do trabalhador de limpeza no contato com usuários de um centro de tratamento do câncer infantil. Foi realizada pesquisa qualitativa, da qual participaram seis trabalhadores do serviço de limpeza. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, as quais foram pautadas na hermenêutica fenomenológica para método de análise das falas. Percebeu-se estabelecimento de vínculo entre os usuários e os trabalhadores de limpeza através de trocas afetivas significativas. Ademais, ao vincularem e ofertarem cuidado, os profissionais de limpeza tornavam-se figuras importantes no tratamento dos usuários, atuando como suporte para reestruturação do self nos momentos de crise e vulnerabilidade. Os trabalhadores, a partir do seu cuidado, sofrem quando uma criança falece ou piora, não havendo, entretanto, espaço para vivenciar esse sofrimento. A contribuição deste estudo aponta para a necessidade de perceber as relações existentes entre os profissionais de limpeza e os usuários, pautando-se nesse vínculo construído para o cuidado integral aos usuários.
A adolescência é um período que traz mudanças a nível corporal e social. É o período em que surgem novas possibilidades e escolhas, mudanças hormonais e a descoberta de impulsos sexuais, sentimentos e novas vivencias em relacionamentos fora do contexto familiar. no entanto, mesmo a adolescência trazendo o sentimento do novo, o adolescente não está imune de um fator que pode desencadear mudanças irreversíveis: o câncer. Sendo assim, o tratamento pode modificar a autoestima e sua forma de lidar com o mundo, além de alterar a rotina e trazer mudanças de sonhos e investimentos. Pautando-se em uma estratégia de fortelecimento da autonomia dos usuários, em 2013 foi iniciado um grupo de apoio aos adolescentes com câncer, com a participação das equipes de Psicologia e Terapia Ocupacional de um centro hospitalar de tratamento oncológico infantojuvenil. o grupo era aberto e tinha caráter educativo e de apoio emocional. o objetivo do presente trabalho é relatar a experiência de atuação no grupo, levantando aspectos significativos à temática e explanando sobre os resultados iniciais dos encontros. a relevância do grupo se deu pela importância de um olhar diferenciado para o adolescente com câncer, reconhecendo que a doença não anula as particularidades dessa fase, observando se existem e quais são as mudanças significativas nesse processo de tratamento, além de prestar apoio ao adolescente com câncer, no que tange a suas demandas relacionadas ao adoecimento e hospitalização, bem como a demandas outras relacionadas ao seu modo próprio de ser e estar no mundo. o grupo de Apoio ao Adolescente com Câncer ocorria semanalmente, pelo período de duas horas no espaço do hospital destinado aos adolescentes, local de apropriação e identificação pelo público-alvo. a faixa etária de frequentadores variou de 11 a 17 anos e teve boa aceitação pelos profissionais, familiares e, principalmente, pelos pacientes. Foram realizados 11 encontros, com participação de, em média, 5 adolescentes por encontro; os temas eram escolhidos por eles e os mais discutidos foram sobre relações sociais: amizades, família, infância; questões de cunho social: regras, preconceito; e questões relativas à doença e ao tratamento. Utilizou-se dinâmicas, letras de músicas e outros recursos que possibilitaram a maior participação dos integrantes e tornaram os encontros mais interativos. Percebeu-se que o grupo promoveu cooperação entre os membros, além de propiciar um suporte acerca da hospitalização e do tratamento; formaram-se vínculos entre os participantes e os mesmos tornaram-se mais solícitos à equipe de saúde. a estratégia do grupo de apoio "deu voz" aos usuários que tornaram os encontros momentos de debate, trocas e vivências; auxiliando na adesão ao tratamento, fortalecendo a autonomia dos integrantes e possibilitando o protagonismo no processo saúde-doença.
Introdução: a Quimioterapia é o recurso mais utilizado no combate ao câncer infanto-juvenil. no entanto, se configura como um processo ambivalente, pois ao mesmo tempo em que possibilita a cura, por outro lado representa sofrimento, haja vista seus efeitos colaterais. Estudos a respeito dessa fase demonstram que a rotina do tratamento quimioterápico altera rapidamente a vida cotidiana dos pacientes e de seus acompanhantes, trazendo consigo fatores ansiogênicos, como: internação intermitente, afastamento dos amigos e da escola, procedimentos invasivos, restrição alimentar, alopécia, dentre outros. Aspectos que podem gerar sérias consequências psicológicas envolvendo fantasias em torno da terapêutica, da doença e de si mesmo, que podem ocasionar prejuízos ao tratamento ou o abandono do mesmo. Objetivos: Caracterizar as demandas psicológicas que surgem em pacientes durante as sessões de quimioterapia seqüencial em um centro de tratamento do câncer infanto-juvenil. Metodologia: Foi realizado um estudo exploratório transversal descritivo, com abordagem qualitativa, a partir dos registros de intervenção psicológica, no setor supracitado, durante nove meses situados entre o período de maio 2012 a abril 2013. Empregou-se estatística descritiva para os dados quantitativos do perfil sócio-assistencial e análise de conteúdo temática para os dados qualitativos dos registros das intervenções. Resultados: Foram realizados 230 atendimentos e verificou-se que 58,4% dos pacientes são do sexo masculino entre 11 e 18 anos (35,1%) e 66,1% são procedentes do interior do estado. no que se refere à demanda dos pacientes, constatou-se que 82% consistiram em estabelecer contato e/ou realizar atividades lúdicas e apenas 18% representaram demanda por atendimento psicológico. Além disso, foi averiguado que 80,3% das intervenções se configuraram como acolhimento e 19,7% como alguma das seguintes intervenções: psicoterapia de apoio, psicoeducação, interconsulta e intervenção lúdica. Conclusões: a unidade de Quimioterapia Sequencial caracteriza-se como um ambiente estressor, consequentemente, os pacientes sentem-se mais ansiosos devido aos fatores citados acima e, principalmente à ociosidade. Essa situação pode justificar a predominância da demanda por estabelecimento de contato e/ou intervenção lúdica, constatada no estudo. Os resultados suscitam discussão a respeito de uma postura mais humanizada e menos patologizante dos profissionais que convivem com esses pacientes, uma vez que, diferente do que pode-se imaginar diante do ambiente aversivo da unidade referida, os pacientes apresentaram, em sua maioria, estabilidade emocional, justificando a predominância do acolhimento sobre os outros tipos de intervenção, uma vez que através do acolhimento pode-se mediar estratégias de enfrentamento e adaptação do paciente ao câncer e a essa fase do tratamento, além de fortalecer o vínculo entre o paciente e o profissional do serviço, o que pode ampliar a rede de apoio do sujeito.
um centro de tratamento do câncer infanto-juvenil, as intervenções psicológicas têm o objetivo de prestar assistência a pacientes que serão submetidos a exames invasivos, tais como: Biópsia Óssea, Mielograma e Punção Lombar; assim como aos seus acompanhantes. em sua maioria, a díade apresenta sinais claros de ansiedade e medo devido às situações que permeiam a realização e o resultado dos procedimentos. Tal fato se deve, em parte, pelo desconhecimento sobre o que se passa no centro cirúrgico. Assim, a realização dos exames é carregada de fantasias e medos que geram grande ansiedade e dificultam a realização dos procedimentos. por esses motivos, decidiu-se construir um álbum seriado lúdico que mostra diretamente, por meio de fotografias reais editadas, todo o ambiente do centro cirúrgico e as características particulares de cada exame. Dessa maneira, as díades têm a oportunidade de abandonar as explicações mágicas e egocêntricas e pode compreender a doença de uma forma mais lógica. Objetivos: Identificar dados sócio demográficos e assistenciais dos sujeitos envolvidos; verificar e comparar o conhecimento dos sujeitos da pesquisa acerca dos exames, bem como conhecer/analisar o estado emocional desses frente aos exames, antes e depois da apresentação do álbum seriado. Metodologia: Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e prospectivo, com metodologia qualitativa. o estudo teve início em Julho 2013 com previsão de término em Junho 2014. a coleta de dados foi realizada de 01 de setembro a 30 de novembro de 2013, tendo como público-alvo pacientes, a partir de sete anos de idade, de ambos os sexos, em fase diagnóstica ou em tratamento do câncer e acompanhantes acima de 18 anos que consentiram livre e esclarecidamente com tal colaboração. Resultados: Foram coletados 45 protocolos, durante o período citado, e verificou-se em relação aos dados sociodemográficos que 86% dos pacientes eram adolescentes, 72% com ensino fundamental incompleto e 86% estavam realizando o exame para controle da doença, ou seja, já o tinham realizado mais de uma vez. no que se refere aos acompanhantes, 87% eram mães e adultas, e 35% tinham ensino médio completo, além disso, constatou-se que em 52% dessa população, o paciente já havia realizado o exame anteriormente. a análise qualitativa encontra-se em andamento. Conclusões: Considera-se, através dos dados iniciais, que o álbum se mostrou como um importante recurso de mediação entre a equipe de Psicologia e os pacientes, e configurou-se como um instrumento para a realização de intervenções psicoeducativas que podem ajudar no conhecimento sobre a doença, no ajustamento emocional, na criação de estratégias de enfrentamento, na colaboração e adesão ao tratamento e, principalmente, na melhoria da qualidade de vida do paciente, que se sente mais autônomo, implicado e participante desse processo.
ResumoA sociedade contemporânea caracteriza-se por uma relação temporal fluida, onde a rapidez e a simultaneidade operam através de formas cada vez mais sofisticadas. O outro, na lógica dessa liquidez, é considerado um instrumento de satisfação dos desejos pessoais, pondo em xeque a dimensão ética do seu lugar nesses fenômenos. Este artigo pretende confrontar, a partir do método hermenêutico de Gadamer, as discussões sobre os relacionamentos contemporâneos em Bauman, Giddens e Jean Paul Sartre, subsidiando a discussão através de uma leitura ética desses fenômenos pela perspectiva da alteridade radicalizada de Lévinas. Nesse sentido, buscamos o lugar do outro na relação amorosa e discutimos as possibilidades de uma escuta desse outro marcada não pelas demandas narcísicas de um modelo hedonista de sociedade, mas pela exigência ética inexcedível -ser pelo e para o outro. Nessa perspectiva ética, não encontramos o lugar do outro nas relações amorosas contemporâneas. Palavras-chave: Ética; Amor; Relações Contemporâneas. THE OTHER'S PLACE IN THE CONTEMPORARY RELATIONS: A LEVINASIAN ETHIC READING AbstractContemporary society is characterized by a temporal fluid relationship where speed and concurrency operate increasingly through sophisticated ways. The other, in this logic, is considered an instrument of satisfaction of personal desires, putting into the question the ethical dimension of their place in those phenomena. This article aims to confront, through hermeneutic method of Gadamer, the propositions about the love relationships with Bauman, Giddens and Jean Paul Sartre; at the same time, this article will make an ethical reading of the phenomenon through radicalized otherness proposed by the philosopher Lévinas. Therefore, we sought the place of the other in loving relationships and we discussed the possibilities of a listening of this other, not by narcissistic demands of a hedonistic model of society, but by surpassing ethical requirement -to be by and for the other. In this ethical perspective, we did not find the place of another in contemporary love relationships.
A Perícia Médica tem como função, dentre outras, avaliar o estado de saúde e a capacidade do servidor para o trabalho. Pesquisa realizada na instituição pericial revela que os transtornos mentais e comportamentais entre os servidores públicos estaduais tem sido a principal causa de afastamentos do trabalho. Considerando como premissa, que os atos periciais devem alinhar-se aos paradigmas pactuados entre a administração pública e sociedade, com foco na humanização, na área da saúde e do cuidado ao servidor, na vigilância em saúde ambiental no trabalho e no controle e prevenção das violências e acidentes de trabalho; foi criado o Serviço de Apoio Psicossocial da Perícia Médica. Objetiva-se, neste trabalho, apresentar a experiência da atuação da equipe psicossocial na humanização dos processos periciais, ultrapassando o objetivo primordial da Perícia em avaliar e tornando-a também um setor de assistência e cuidado ao trabalhador. o Serviço existe desde 2008 e é formado por profissionais e estagiários de Psicologia, Serviço Social e Fisioterapia. Desenvolvem-se atendimentos e avaliações com os servidores que se encontram em licença por apresentar transtorno mental e, após adesão destes ao serviço, é traçado um plano individual, mantendo um diálogo com as instituições e profissionais de apoio; realizando-se também visitas domiciliares e ao local de trabalho e; ofertando-se um grupo aberto, de carácter psicoeducativo e de apoio, aos servidores que desejem trabalhar questões referentes à saúde ocupacional. Além das atividades de assistência e avaliação, são realizados grupos de estudo e capacitações com os profissionais e estagiários da equipe para o aprimoramento e planejamento das ações. a atuação do Serviço tem favorecido ações de assistência integral ao servidor, combatendo intervenções pontuais, fragmentadas e desarticuladas que desconsideram outras esferas da vida dos trabalhadores e avaliam apenas aspectos patológicos e limitantes. como indicativos das intervenções da equipe, observam-se aumento do número de processos de readaptação das funções laborais, permanência de vínculos sociais no trabalho e sensibilização da gestão pública para uma adaptação e convivência com as particularidades do portador de transtorno mental. Os resultados geram impacto positivo e suscitam questões sobre a necessidade de humanização dos processos periciais e dos modelos de gestão pública.
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