Estas notas são uma condensação da produção de autores brasileiros sobre a vida intelectual no país. Condensação no sentido de espessamento, já que toma as contribuições estabelecidas e as organiza sob uma perspectiva determinada, tensionando-as a partir de questões que não necessariamente estiveram presentes no horizonte de preocupações de seus autores. Não é, por isso, uma resenha, menos ainda um panorama completo da bibliografia concernente ao tema, cuja seleção deixou de lado trabalhos relevantes, em nome da economia do modelo narrativo proposto. Há, pois, perdas registráveis na extensão e no aprofundamento dos argumentos mobilizados. Contudo, a compactação de idéias já amplamente assentadas nessa área de estudos permite ver mais claramente suas propostas e implicações, rearticulando-as no contexto de um debate sobre a inteligência brasileira que, se não é novo, tem sido extraordinariamente refrescado pelas mudanças estruturais em curso.A perspectiva que sustenta, como alicerce oculto, a concepção deste artigo refere-se à dimensão pública da atividade intelectual no Brasil, o que o põe em diálogo, e, ao mesmo tempo, o diferencia de trabalhos que costumam apontar o declí-nio do intelectual público em contextos de forte institucionalização universitária (Posner, 2001;Jacoby, 1990). Assim, o foco nas questões relativas às formas de organização do exercício intelectual no Brasil ao longo da sua trajetória de moderniza-
RESUMOA principal sugestão deste ensaio é a de que a questão da abertura, da incompletude do Brasil foi construída no âmbito dos debates sobre a crise estrutural do império brasileiro, como crítica assistemática, porém pertinaz, à ordem burguesa que se impunha. Naquele contexto, foram portadores dessa crítica André Rebouças, Cruz e Sousa e Lima Barreto, cuja inscrição marginal em seus respectivos contextos de atuação lhes conferiu ângulos privilegiados para a figuração de outros Brasis possíveis. Contudo, o desfecho trágico de suas vidas -o suicídio, a tuberculose famélica e o alcoolismo -ocultou a radicalidade presente em sua obra. Palavras-chave: André Rebouças; Cruz e Sousa; Lima Barreto; intelectuais negros. ABSTRACT This paper's key proposition is that the issue of openness, of incompleteness of Brazil was built within the debates about the Brazilian Empire's structural crisis as an asystematic though persistent criticism to the imposed bourgeois order. In that context, André Rebouças, Cruz e Sousa, and Lima Barreto were the bearers of such criticism, but their marginal inscription in their respective contexts conferred them privileged angles to figure out other possible Brazils. However, the tragic outcome of their lives -suicide, starving tuberculosis, and alcoholism -hid their works' radicality.
Este artigo fez parte do colóquio “A Sociologia Brasileira: contrafogos”, organizado pela SBS no âmbito do 43º Encontro Anual da ANPOCS. Discute a feição assumida pela sociologia nas democracias contemporâneas; sobre a universidade, entendida como rede material de atores e recursos, capaz de alcançar e articular públicos muito diversos; e sobre as mediações sociotécnicas como dispositivo de organização e autonomização social.AbstractThis article was part of the colloquium “A Sociologia Brasileira: contrafogos”, organized by SBS as part of the 43rd Annual Meeting of ANPOCS. It discusses the aspect assumed by sociology in contemporary democracies; about the university, understood as a material network of actors and resources, capable of reaching and articulating very diverse audiences; and on socio-technical mediations as a device for organization and social autonomy.
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