A montanha do colégio, C. D de AndradeUm ABC do terror, R. M Rilke N o FINAL DO SEGUNDO capítulo do romance O Ateneu, de Raul Pompéia, o eu-narrador Sérgio condensa as impressões de seu primeiro dia como aluno interno num sonho que parece constituir-se, ao mesmo tempo, em premonição da realidade em que acaba de ingressar: "A minha aula, o colégio inteiro, mil colégios, arrebatados, num pé-de-vento, voavam léguas afora por uma planície sem termo. Gritavam todos, urravam a sabatina de tabuadas, com um entusiasmo de turbilhão. O pó crescia em nuvens do solo; a massa confusa ouriçava-se de gestos, gestos de galho sem folhas em tormenta agoniada de inverno". Um sonho, portanto, de esmagamento, como se patenteia nos trechos finais: "E eu caía, único vencido! E o tropel, de volta, vinha sobre mim, todos sobre mim! Sopeavam-me, calcavam-me, pesados, carregando prêmios, prêmios aos cestos!".Delineando-se assim, nas palavras do próprio narrador, a possibilidade de extrapolação para uma dimensão mais geral de "mil colégios", não seria fora de propósito tomar as imagens crispadas e expressionistas desse pesadelo como emblemáticas para uma série de obras que, direta ou indiretamente, tematizam o embate do adolescente ou pré-adolescente com o meio fechado e adverso da escola. "O tempo da adolescência colegial é por certo um dos grandes dramas da formação do indivíduo e isso atrai os romancistas", observa Mário de Andrade em seu ensaio de 1941 sobre O Ateneu (1), e exemplifica a observação citando José Lins do Rego e Otávio de Faria, assim como os franceses Jules Valles e Gabriel Chevallier. Considerações específicas sobre os vínculos de Pompéia com a cultura francesa faz Leyla Perrone-Moisés num ensaio de aproximação pontual entre O Ateneu e Os cantos de Maldoror, de Lautréamont. A fixação narrativa de um trauma cultural estaria na base de ambas as obras, e embora ressaltando a diferença de tom entre a crônica de saudades de Pompéia e o febril extravasamento de ódio no livro de Lautréamont, em que aliás o tema do internato desponta apenas periféricamente, a autora não deixa de registrar "um clima nitidamente maldoriano" nas imagens pesadelares de Sérgio (2).Mas talvez seja na prosa alemã por volta de 1900 que o tema da escola se configura, com intensidade exemplar, sob as formas ouriçadas de pesadelo esmaga-
Este ensaio enfoca Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister como obra fundadora da mais significativa contribuição alemã à história do romance europeu: o chamado “romance de formação e desenvolvimento” (Bildungs- und Entwicklungsroman). A discussão de algumas especificidades desse subgênero leva também a comentários sobre a influência que a viagem de Goethe pela Itália, entre setembro de 1786 e abril de 1788, exerceu sobre a reelaboração do projeto original, tal como se apresenta no manuscrito da Missão teatral de Wilhelm Meister, redigido de 1777 a 1785. Por fim, são tecidas algumas considerações sobre as subsequente reverberações do paradigma goethiano em romancistas do século XIX e XX.
resumo Este ensaio empreende uma incursão pela correspondência de Goethe, estimada em aproximadamente vinte mil cartas escritas (a cerca de 1.700 destinatários) e 25 mil recebidas. Em primeiro plano estão cartas escritas na velhice, sobretudo as de condolências e as que expõem suas concepções estéticas ou detalhes de seu processo criativo. As duas últimas seções do ensaio enfocam a correspondência de Goethe com o “brasileiro” Martius (como o próprio poeta se referia ao botânico que percorreu onze mil quilômetros de território brasileiro) assim como a posição central que a obra epistolar de Goethe ocupa na antologiaDeutsche Menschen[Homens alemães], publicada por Walter Benjamin em 1936 com o intuito de adensar a resistência ao fascismo.
Este ensaio enfoca o Fausto de Goethe, mais particularmente sua Segunda Parte, à luz da longa tradição de reflexões teóricas sobre a alegoria e o símbolo. Essa tradição - que remonta, pelo menos, a Quintilianus (Institutio Oratoria, 95 a. C.) - tem nas clássicas sentenças publicadas por Goethe no volume Máximas e reflexõesum momento culminante, que servirá de parâmetro a teorizações posteriores, por mais diferentes que possam ser (como ilustram as posições de Walter Benjamin e Georg Lukács). Embora Goethe tenha condenado a alegoria durante o classicismo de Weimar, o Fausto II, "ocupação principal" (Hauptgeschäft) de seus últimos anos de vida, é considerado uma das obras mais alegóricas da literatura alemã. O ensaio busca discutir essa aparente contradição estruturando a argumentação crítica em três passos: o contexto em que Goethe desenvolveu suas concepções de símbolo e alegoria; os momentos da insólita recepção que coube ao Fausto II; a mudança de paradigma que se deu com a interpretação marxista que Heinz Schlaffer dedicou à Segunda Parte do drama enquanto "alegoria do século XIX". O ensaio acena ainda com a possibilidade de superar exegeses fundamentadas na relação antitética entre símbolo e alegoria recorrendo à ideia de "fórmula ético-estética", que Goethe esboçou em sua velhice ao mesmo tempo que abandonava aquela oposição concebida no período de convivência com Schiller. Desse novo ângulo de visão, o Fausto II poderá ser entendido, entre outras possibilidades de leitura, como expressiva "fórmula ético-estética" para epifenômenos da Revolução Industrial, como deixam entrever as cenas do Fausto escritas por volta de 1830.
Editorial da edição de número 29 da revista Literatura e Sociedade
Este ensaio enfoca o mais amplo ciclo lírico de Johann Wolfgang von Goethe sob o ensejo da publicação, em 2020, de sua primeira tradução integral em português, assinada por Daniel Martineschen: Divã ocidento-oriental (Estação Liberdade). Posição de destaque nas considerações sobre os procedimentos mobilizados pelo tradutor ocupam os poemas “Anelo abençoado” (Livro do Cantor”), também traduzido por Manuel Bandeira, e “Gingo biloba” (Livro de Zuleica”). Nesse contexto, o ensaio recorre ainda à tipologia tripartite sobre a arte da tradução que Goethe esboçou no texto em prosa (“Notas e ensaios para uma melhor compreensão do Divã”) que acompanha os 12 livros de poemas. Por fim procurou-se relacionar o Divã à concepção goethiana de Literatura Mundial (Weltliteratur), na qual entraram também canções “brasileiras” em língua tupi.
Editorial da Edição de número 25 da Revista Literatura e Sociedade
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.