Com base no conceito de "educação lingüística", os autores discutem a necessidade de atender às demandas sociais por essa educação lingüística e definem as áreas de reflexão e atuação mais importantes para a implementação de uma política de educação lingüística no Brasil.
O impacto das línguas africanas sobre o português brasileiro foi durante muito tempo minimizado ou mesmo negado, sem dúvida por razões ideológicas advindas do profundo racismo vigente na sociedade brasileira. Investigações recentes, no entanto, comprovam, em bases teóricas consistentes, que muitas características exclusivas da gramática do português brasileiro, que o diferenciam não só do português europeu como de todas as demais línguas do grupo românico, se devem aos intensos contatos linguísticos ocorridos no longo período colonial entre as línguas dos escravos, sobretudo as do grupo banto, e o português.
A diversidade linguística das futuras colônias portuguesas na América do Sul era notável. Segundo especialistas, havia mais de 1.200 línguas indígenas presentes no território do que seria o Brasil no momento do desembarque dos portugueses. Dessas, mais de metade (cerca de 700) seriam faladas na Amazônia, línguas pertencentes a diversas famílias linguísticas não aparentadas. A grande quantidade de línguas diferentes constituía um pesado obstáculo para a conversão dos povos nativos e também para a ocupação e colonização concreta do território pela Coroa portuguesa, também interessada na escravização da força de trabalho indígena. O impasse se resolveu com a adoção de uma língua – o tupinambá – falada num trecho da costa do Pará, próximo à foz do rio Amazonas, a qual se tornou o que veio a se designar como língua geral. O mesmo processo ocorreu na parte sul da América portuguesa, onde emergiu outra língua geral. Durante o período colonial, portanto, houve duas línguas gerais: a língua geral amazônica e a língua geral paulista. Antes que essas línguas gerais se estabelecessem, a tradução e a interpretação tiveram um papel crucial na conquista dos amplos territórios, onde a língua portuguesa era usada apenas por uma pequena minoria, essencialmente europeus e seus descendentes, situação que permaneceu até as primeiras décadas do século XIX.
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