<p class="Corpo">A partir de um comentário à “Anedota das Antilhas” interpretada por Claude Lévi-Strauss em <em>Tristes trópicos</em>, o presente ensaio procurar investigar a relação entre humanidade e estrangeiridade. Para tanto, ele segue dois caminhos. O primeiro, desenvolvendo-se a partir da antropologia lévi-straussiana, tem espaço e tempo como variáveis para as formas daquela relação, em um exercício de antropologia como xenologia humana. O segundo caminho, feito com base na ficção científica de Philip K. Dick, Ursula K. Le Guin, Orson Scott Card e Octavia E. Butler, toma a relação entre humanidade e estrangeiridade segundo espécie e mundo, em um experimento de xenologia como contra-antropologia. A especulação almeja abrir uma passagem entre antropologia e xenologia: mais precisamente, do conceito de humanidade enquanto grau zero da estrangeiridade humana (coespecífica) ao conceito de humanidade enquanto grau zero da estranheza extra-humana (transespecífica).</p>
Este breve ensaio toma como ponto de partida a hipótese de que há um vínculo constitutivo do discurso filosófico moderno com o etnocídio, exemplificado pelo cosmopolitismo kantiano enquanto paradigma do “racismo europeu” (Deleuze & Guattari). Buscam-se os fundamentos metafísicos desse vínculo com apoio no diagnóstico do processo colonial produzido por Lévi-Strauss e, sobretudo, por Fanon e Césaire. Sustenta-se que, de um ponto de vista metafísico, colonização e descolonização se caracterizam por modos divergentes de realizar a diferença ontológica de mundo entre povos distintos. O ensaio esboça, por fim, uma problematização do papel histórico da filosofia na instituição da colonialidade.
Pretendo oferecer uma interpretação do conceito yanomami de imagem tendo por foco sua exegese xamânica por Davi Kopenawa em A queda do céu. Para tanto, proponho três níveis sucessivos de consideração: uma exposição do conceito de imagem; a interpretação da imagem como forma espectral; uma comparação, de significado político, da conceitualidade xamânica com outras imagens filosóficas do conceito. Veremos que o conceito incorporado por Kopenawa implica uma modalidade inteiramente outra de imaginação conceitual, “outro modo de criação de conceitos que não o ‘filosófico’, no sentido histórico-acadêmico do termo” (Viveiros de Castro). Afinal, a ontocosmologia em questão é, sobretudo, “uma experiência corporal dos xamãs” (Albert).
O presente artigo procura examinar a problemática do cosmopolitismo à luz da catástrofe socioambiental em curso, batizada por muitos de Antropoceno. Para tanto, discutem-se as relações entre ciência e política com base nas considerações entropológicas de Lévi-Strauss e Prigogine & Stengers, entre outros. Desenvolve- se a hipótese segundo a qual a política humana é essencialmente caracterizada por um potencial termodinâmico, capaz de conduzir a sociedade, junto com o ambiente, ao colapso catastrófico. Nesse sentido, conclui-se que o princípio transcendental da conformidade a fins da natureza, tomado a partir de Kant e Bergson, enseja uma espécie de fascismo cósmico.
Pretendemos investigar o conceito cartesiano de substância, tendo em vista o seu caráter controverso testemunhado por diferentes interpretações. Lendo a Definição V das Segundas Respostas, constatamos que Descartes define substância por contraposição ao ser dos objetos nas idéias do entendimento humano. De acordo com isso, procuramos então esclarecer o estatuto ontológico dos atributos, objetivamente dados, em sua relação real de dependência à substância. Disso concluímos em favor de uma distinção real entre substância e atributo. Na seqüência, discutimos a tese, explicitamente afirmada por Descartes nos Artigos LXII e LXIII da primeira parte dos Princípios da filosofia, segundo a qual a distinção entre a substância e o seu atributo essencial é uma distinção de razão. Numa tentativa de conciliar aquela conclusão com essa tese, interpretamos uma carta de Descartes (a***, de 1645 ou 1646) na qual a teoria das distinções desenvolvida nos Princípios é submetida a uma espécie de revisão para o esclarecimento da distinção entre essência e existência como uma distinção entre modos de ser. AbstractWe intend to investigate the cartesian concept of substance, considering its controversial character attested by different interpretations. Reading the Definition V of the Second Replies, we notice that Descartes defines substance in opposition to the being of the objects in the ideas of the human understanding. According to this, we try to make clear the ontological status of the attributes, objectively given, in their real relation of dependence to the substance. From this we assume that there is a real distinction between substance and attribute. Then we discuss the thesis, explicitly affirmed by Descartes in the Articles LXII and LXIII of the first part of the Principles of Philosophy, according to which the distinction between substance and attribute is a distinction of reason. Trying to conciliate that assumption with this thesis, we interpret a Descartes' letter (to ***, from 1645 or 1646) in which the theory of distinctions developed in the Principles is submitted to a kind of revision in order to clarify the distinction between essence and existence as a distinction between modes of being.Recebido em 08/2009Aprovado em 12/200
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