O trabalho propõe uma reflexão sobre algumas das características do gesto testemunhal enfatizando as aporias que o marcam. Partindo da idéia de que o testemunho de certo modo só existe sob o signo de seu colapso e de sua impossibilidade, o texto enfatiza os dilemas nascidos da confluência entre a tarefa individual da narrativa do trauma e de sua componente coletiva. Nas "catástrofes históricas", como nos genocídios ou nas perseguições violentas em massa de determinadas parcelas da população, a memória do trauma é sempre uma busca de compromisso entre o trabalho de memória individual e outro construído pela sociedade. O testemunho é analisado como parte de uma complexa "política da memória".
Resumo: Este ensaio apresenta uma reflexão sobre o fenômeno dos "antimonumentos" que surgiram no final do século XX como uma forma de lidar, pelo viés das artes, com a violência de Estado, como nos casos do nazismo e das ditaduras latino-americanas. Este texto faz inicialmente uma retomada da mnemotécnica, ou seja, da antiga "arte da memória", que tem como seu pai mítico Simônides de Ceos, para em seguida apresentar a cena moderna da "arte da memória" sob a rubrica dos antimonumentos. O trabalho apresenta e discute obras de, entre outros artistas, Jochen Gerz, Horst Hoheisel, Andreas Knitz, Marcelo Brodsky e Fulvia Molina.Palavras-chave: Antimonumentos, arte da memória, mnemotécnica, Simônides de Ceos, arte e violência. 49Existe uma vasta e interessante história da teoria da memória, que vem sendo reatualizada nos últimos anos, em função da revolução cibernética e da construção do universo da Internet. É como se um novo continente tivesse sido descoberto. Não apenas imperativos tecnológicos determinam nossa nova visão de ser humano e revolucionam nossa memória. Devemos destacar, também, questões de ordem política e histórica. O século XX foi uma era de extremos. Se, pela primeira vez em muitos séculos, pôde surgir mais de uma geração de homens que não foram à guerra e nunca pegaram uma arma de fogo, por outro lado, nunca se exterminaram tantas vidas em uma escala tal, em contextos nacionalistas e de "limpeza étnica", como nesse período. Além disso -e como consequência dessas catás-trofes -o fim das ideologias e interpretações universais para a "história da humanidade" fez a articulação de nossa autoimagem abandonar qualquer esperança em relação a uma utopia "coletivista" e migrar cada vez mais para os limites estreitos de nosso corpo. A teoria sociológica clás-sica foi substituída por uma reflexão de base antropológica, psicanalítica e biológica. Mais do que nunca, o universal é visto agora como resultado do individual: não se trata apenas da "virada linguística" no conhecimento, porém de uma crise muito mais profunda que corrói os seus fundamentos como um todo e o lança sobre um patamar em que a questão da memória é incontornável. No que segue, partindo de alguns pressupostos da tradição da arte da memória, por mim formulados mais detalhadamente em outro trabalho (Silva, 2006), apresento os antimonumentos, uma nova modalidade de lidar com o novo papel da memória. A arte da memóriaA arte da memória tem como figura originária (histórica e mítica) Simônides de Ceos (556-468 a.C.). Três anedotas cercam a figura desse poeta e mostram em que medida a arte da memória deve muito ao seu cultivo ligado ao louvor aos grandes feitos (e aqui deveríamos pensar evidentemente no conceito de "fama"), ao culto dos mortos (lembremos a noção de "piedade") e, por fim, paradoxalmente, ao desejo de poder selecionar o que queremos lembrar e, portanto, também de poder determinar de quais dados preferiríamos nos esquecer.A primeira dessas anedotas é a mais conhecida e constitui um lugar-comum em qualquer estudo sobre a arte da memória. ...
Leo Spitzer, em um pequeno artigo sobre o termo «témoin», publicado em 1938, já destacara que com este termo Nous sommes donc en présence d'un des nombreux cas ou celui qui exerce une fonction est confundu avec celle-ci (cf. esp. un cura, fr. guide [...]). Peut-être pourrait-on inférer de la coexistence des deux sens, qu'il s'agit pas à proprement dire de deux sens, mais que le personnage et son rôle ne sont pas distincts dans la conscience de l'individu parlant. (1938: 374)
Resumo Este trabalho apresenta como a teoria das imagens técnicas culmina, no filósofo Vilém Flusser, em uma teoria da cidade como Gesamtkunstwerk (obra de arte total). Esse conceito, que tem uma origem romântica e ficou conhecido sobretudo por conta da ópera de Wagner, descrita como uma tal obra de arte total, é radicalmente modificado por Flusser, que imagina uma sociedade cibernética na qual todos se transformaram em artistas. A arte voltou a ser técnica, numa sociedade totalmente artificial na qual tudo também é arte e a população de artistas constrói suas obras máximas, que são as próprias cidades.
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