A partir da leitura das teorias freudianas sobre a fantasia, buscaremos apontar a importância desta dimensão para a adesão do sujeito pós-moderno ao computador. A atual experiência desse sujeito na internet baseia-se nos novos roteiros para a aventura fantasística, o que inaugura novo locus para o laço social e para a ação da subjetividade. Em Freud, a fantasia complementa, ao lado do desejo inconsciente, a realidade psíquica, ambas fundamentais para a psicanálise. No cruzamento entre a realidade virtual e a psíquica, vislumbramos novos roteiros para esta última, quando o sujeito depara-se com substitutos do desejo, na experiência do prazer on-line.
Este artigo examina a conversação psicanalítica e seu lugar no Outro contemporâneo a partir da experiência de um projeto de pesquisa e extensão com grupos de adolescentes em escolas. Apresenta-se um extrato de conversação a fim de demonstrar a instalação de um espaço de transmissão de narrativas que produz efeitos subjetivos nos participantes. Investiga-se como esse dispositivo opera num mundo em que as faculdades de narrar e de escutar estão enfraquecidas. Nesse sentido, propõe-se um diálogo da psicanálise de orientação lacaniana com o pensamento filosófico de Walter Benjamin e suas considerações sobre a transmissão da experiência e também com outros autores da filosofia e das ciências sociais que abordam as mutações discursivas desde a modernidade à hipermodernidade.
The article is the result of research carried out with groups of adolescents in which the offer of listening through the psychoanalytic conversation methodology opens space for the resumption of the word's place. Through this collectivized free association, young people can question themselves about the different symptomatic modes assumed by the malaise caused by excesses in the use of technologies, especially in the face of an imaginary increasingly inflated by the present digital culture. For psychoanalysis, adolescence can be understood as a symptomatic response to pubertal bodily changes and the consequent encounter of the subject with the real of sex. In this sense, it consists of a logical time of intense work and of formulating a response to not knowing about these phenomena. Hence responses that are marked by excess, resulting from this impasse to be resolved one by one. The work brings some reflections on a conversation process carried out with a group of adolescents in which excess was pointed out as a striking feature by the young people themselves. Thus, it was through the word that allowed to deal with the real symbolic way that it was possible for young people to find a certain order for jouissance, since the imaginary way is insufficient to account for such excesses.
A pandemia de covid-19 alterou drasticamente o cenário social, impactando todos os setores da vida. No campo educacional, a rápida transição para o ensino remoto imposta pelo isolamento social, afetou a vida de estudantes, educadores e familiares, incidindo sobre o processo ensino-aprendizagem. Além dos efeitos psíquicos decorrentes do isolamento social, a substituição do ensino presencial no contexto pandêmico acentuou o desinteresse dos jovens pela escola, que já vinha perdendo sentidos políticos e existenciais para eles, tornando patente o menor engajamento pelo ensino remoto. Além disso, as reduzidas condições econômicas de grande parte da população também foram aprofundadas, corroborando as dificuldades de acesso à internet e às mídias necessárias para essa adaptação. Se a escola já não era capaz de atraí-los, no contexto da pandemia ela parece ainda mais distante e incapaz de ajudá-los a lidar com os impasses atuais. Neste sentido, realizamos uma pesquisa qualitativa buscando escutar os jovens sobre seus sentimentos e vivências no contexto da pandemia, bem como sobre os sentidos que atribuem à escola, especialmente em momento de transição no retorno às aulas presenciais. A pesquisa buscou investigar, sobretudo, que escola eles gostariam de ajudar a construir no novo contexto, considerando que adaptações serão exigidas por parte de todos os agentes envolvidos na educação.
A política pública do Programa de Proteção a Testemunhas Ameaçadas (Provita) visa manter a integridade física e psicológica de testemunhas e vítimas da violência e do crime organizado no Brasil. O seu modelo, altamente sigiloso e restritivo para o exercício da vida social dos protegidos, impõe grande complexidade à relação que se estabelece entre os usuários e os operadores da rede protetiva. Com foco nos impasses daí resultantes, a presente leitura busca problematizar e refletir sobre os elementos que incidem em tais vínculos, vislumbrando possíveis soluções para os conflitos a eles inerentes. Os dados analisados decorrem de fragmentos de casos resultantes da experiência de seis anos de trabalho de um dos autores como psicólogo do Provita. Na metodologia empregada, os dados receberam uma leitura sob a perspectiva psicossocial, cujo foco volta-se para as dimensões histórico-sociais da vida dos usuários protegidos. Os resultados reforçam a relevância dessa perspectiva tanto para o Provita, quanto para programas semelhantes.
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