O reconhecimento da função formadora da literatura respalda sua defesa enquanto direito humano (CANDIDO, 2011). Tendo em vista as restrições a esse direito dentre grande parcela da população, a escola torna-se, por excelência, centro de difusão cultural, que deve fomentar o desenvolvimento de leitores críticos e competentes, capazes de estenderem seu protagonismo na interpretação de textos à participação social. Esse propósito motiva a realização do presente trabalho, que visa a discutir reflexos da abordagem escolar do texto literário na (de)formação de leitores no Ensino Médio e a indicar, como possibilidade pedagógica, os roteiros de leitura, propostos por Juracy Assmann Saraiva et al (2001, 2006, 2011, 2015). Parte-se do pressuposto, expresso por pensadores como Ligia Cademartori (2012), Marisa Lajolo (2001, 2002), Teresa Colomer (2007) e Vincent Jouve (2012), de que é necessário oferecer aos alunos uma variedade de textos com potencial simbólico, cuja leitura esteja inscrita em um processo de análise e de reflexão textual, capaz de deflagrar o exercício interpretativo em que dialogam horizontes de expectativa do leitor e da obra (JAUSS, 1978). Nessa perspectiva, os roteiros de leitura orientam a trajetória do aluno em sua interação textual, conforme exemplificado por resultados da aplicação do roteiro sobre Harry Potter e a pedra filosofal em duas turmas de Ensino Médio. A experiência possibilitou a alunos posicionar-se a respeito da qualidade da narrativa e comparar seus elementos com outras obras lidas. Além disso, os estudantes problematizaram o conceito escolar de literatura e assumiram sua voz no debate cultural provocado pela leitura.
A transposição de narrativas verbais para a linguagem fílmica pode atualizar obras e provocar novas interpretações. André Klotzel, em Memórias Póstumas (2001), uma recriação da obra de Machado de Assis, concebe uma narração instigante para a narrativa post mortem, dividindo esse processo entre os dois narradores, o grande imagista e o subnarrador. No presente artigo, analisa-se o modo como ambos estão inscritos na narrativa cinematográfica a partir dos enquadramentos e dos planos fílmicos, bem como a instalação de significados provenientes de tal escolha. Para isso, adota-se um método indutivo, com uma revisão bibliográfica que conta com os estudos de André Gaudreault e François Jost (2009), Juracy Assmann Saraiva (2003), René Gardies (2006) e Jacques Aumont e Michel Marie (2013), a respeito da narrativa fílmica e, em especial, a respeito dos planos e dos enquadramentos da imagem fílmica. A partir de uma análise do filme de André Klotzel, calcada nesses pressupostos, foi possível perceber que os enquadramentos e os planos fílmicos fazem parte da construção dos significados e que o grande imagista e o subnarrador conduzem, de modo compartilhado, a narrativa em Memórias Póstumas (2001).
A obra Machado de Assis: permanências, impressa em parceria pela Fundação Casa de Rui Barbosa e editora 7Letras e organizada pelos pesquisadores Hélio de Seixas Guimarães e Marta de Senna, reúne 17 ensaios desenvolvidos por estudiosos da obra machadiana.
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