The article critically reviews the recent publications in the field of social sciences regarding the themes of ‘Southern theories’, ‘theories from the South’ and ‘epistemologies of the South’ seeking to understand the limits and perspectives of this current wave of critique to the social sciences establishment. Analyzing the works of Boaventura Santos, Raewyn Connell and Jean and John Comaroff the article defines the use of the term ‘South’ as a circumstantial project under which different notions of theory are in a dispute for legitimacy. Such disputes are bringing to the center of the sociological debate the very notion of ‘theory’ and its production in a geopolitical context where Southern social scientists are actively participating in the international debates.
D esde os anos 1980, centenas de milhares de indivíduos têm ocupado terras no Brasil. Nelas montam acampamentos e passam a reivindicar sua redistribuição. Tais ocupações distinguem-se das que, ao longo da história do país, foram e ainda são feitas em áreas desocupadas por interessados em formar lavouras. Enquanto naquelas a entrada nas terras era diluída no tempo, agora elas são realizadas de uma só vez e em grupo, implicando a formação de um acampamento. Se antes as ocupações não necessariamente vinham acompanhadas de reivindicações ao Estado, atualmente se apresentam como demandas de reforma agrária e são assim interpretadas pelas autoridades da República que as têm acolhido e redistribuído as terras entre os acampados.Até recentemente, as ocupações com acampamentos não atraíam a atenção dos estudiosos do mundo rural. A maioria deles, preocupada em examinar o que ocorria após a redistribuição das terras, interessou-se pelos assentamentos implantados pelo Estado nas áreas que haviam sido ocupadas (Medeiros e Leite, 1999;Martins, 2003;Spavorek, 2003;Leite et alii, 2004) e não se interrogou a respeito das ocupações que lhes haviam dado origem. Outros centraram o olhar nos movimen- 107
Resumo: Este texto é resultado de pesquisas realizadas com o Landless People´s Movement, na África do Sul, e tem como tema a relação histórica estabelecida entre os trabalhadores rurais moradores de fazendas de brancos (denominados farm dwellers, em inglês, ou abahlali basimapulazini, em Zulu) e as terras em que vivem. A partir de dados bibliográficos, fontes documentais e pesquisa de campo, defendemos a hipótese de que essas pessoas compõem uma categoria fluida, do ponto de vista das políticas de restituição, de reforma e de direito à terra. Tratar-se-ia de uma categoria em que estariam entremeadas as consequências do apartheid, as transformações na agricultura, as religiões e as leis costumeiras. Trama e fluidez que constituem um problema para antropólogos e sociólogos que se aventuram a lidar com a questão, assim como para os próprios movimentos e ONGs que a representam. Tanto do ângulo das políticas, como dos textos de ciências sociais, esses trabalhadores encarnariam os dilemas de não serem vistos nem como suficientemente modernos, tampouco como tradicionais a ponto de garantirem status teórico no escaninho dos estudos sobre o campesinato e trabalhadores rurais ou no da Etnologia africana clássica Palavras-chave: Trabalhadores Rurais, África do Sul, Lutas por Terra, Sem Terras, Apartheid.Introdução 2 O programa de "reforma da terra" foi um elemento central na transição do apartheid para o regime democrático na África do Sul e visava reparar o processo que concentrou cerca de 87% das terras rurais do país na mão da população branca (correspondente a menos de 10% da população total), ao longo do século XX (HALL & NTEBEZA, 2007).
IntroduçãoA primeira vez que encontrei Mangaliso Kubheka foi em 2005. Naquela ocasião, ele recebia a visita de dois militantes brasileiros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) -acompanhados por mim -na sede do Landless Peoples Movement (LPM) em Johanesburgo, África do Sul, na condição de national organizer do movimento. A partir daí, tive a oportunidade de encontrá-lo e acompanhá-lo em sete períodos distintos entre março de 2006 e janeiro de 2011. Durante todo esse período, Mangaliso foi minha porta de entrada para a pesquisa sobre o movimento que organizava e, ao mesmo tempo, um guia privilegiado para a compreensão da complexa questão da reforma da terra no pós-apartheid.1 Por ser um porta-voz, as atividades desempenhadas por ele soavam, para neófitos no país e seus problemas, como típicas ideias de um militante sem-terra sul-africano. Por um longo tempo, procurei associar a ele traços gerais que contribuíssem para a caracterização do movimento, de um tipo social, de uma identidade, entre outros rótulos que comumente usamos para falar de movimentos e militantes. 2O problema que este texto coloca, no sentido sociológico da palavra, é o de que, a cada novo encontro, a relação que ele mantinha com o LPM mostrava-se um pouco diferente. Apresentava um precedente nas palavras de Stengers (2002:36). Quanto mais tempo passávamos juntos, mais nos afastávamos do espaço físico da sede do movimento e do tempo dedicado à sua militância como sem-terra. Fora da atmosfera do movimento, passávamos a conversar sobre sua história pessoal, sua família, o local de moradia, sua paixão pelo futebol, sua religião e o que chama de sua cultura.3 Encontrá-lo por várias vezes, em situações distintas, permitia ainda interagir com outras pessoas com as quais ele se relacionava e que tinham também observações
A história das mobilizações por terra no Brasil contemporâ-neo tem sido trabalhada por diversos autores e autoras que tendem a enfatizar primordialmente dois polos: (i) as formas de organização coletiva das populações rurais em movimentos como: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Ligas Camponesas, entre tantos outros (Carter, 2010;Deere, 2003;Martins, 2000); e (ii) os processos de oportunidades políticas que se abriram em determinados governos ou contextos, como a ditadura e a abertura política (Wolford, 2010;Sabourin, 2008). Entre uma abordagem e outra, surge a pergunta sobre como as demandas por terra, os aparatos legais e as políticas públicas que surgiram nesses contextos são elaborados, processados e redistribuídos para sem-terras, trabalhadores rurais e populações tradicionais na forma de programas de assentamento, extensão rural, educação e comercialização, por exemplo.* Este artigo é produto de pesquisas realizadas pelo Laboratório de Sociologia Não Exemplar (
introdução Nos últimos 25 anos, sempre que mencionamos ou ouvimos a expressão "sem-terra" tendemos a associá-la a um movimento social, principalmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra -MST. Tal relação constitui um senso comum que se espalha por meios de comunicação e que não reflete exatamente a gama de grupos organizados no Brasil que reivindicam a representação dessa categoria social 1 . Apesar disso, não podemos desconhecer que foi este movimento que consagrou a categoria social "sem-terra" como uma forma social de reconhecimento público ao ocupar não apenas fazendas consideradas improdutivas, mas também prédios e espaços públicos em quase todo o * As pesquisas que deram origem a este artigo foram realizadas em um projeto conjunto com Lygia Sigaud e Marcelo Ernandez Macedo, aos quais agradeço pela troca de ideias e pelo apoio financeiro. Agradeço também a Bernard Alves e Isabel Palmeira, que trabalharam como bolsistas de iniciação científica em parte da pesquisa. As posições do artigo, no entanto, refletem minha própria elaboração em torno das ideias coletivas. 1 Apenas para citar um exemplo, em 2003 havia apenas no estado de Pernambuco 14 movimentos distintos que organizavam ocupações de terra. Para mais informações sobre esses movimentos, ver Rosa (2004).
O artigo busca, por meio da análise da atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (no Brasil) e do Landless People's Movement (na África do Sul), analisar as formas emergentes que o Estado adquire nesses dois contextos sociais. O objetivo central é mostrar que nesses países, chamados aqui de não exemplares, é preciso que se desenvolva uma teoria complexa que rompa com o dualismo sociológico Estado/Sociedade civil. Romper com os esquemas analíticos tradicionais, voltados para o caso europeu, significa necessariamente ter que trilhar novos, e menos preconceituosos, caminhos para compreender as formas políticas de pertencimento social nos países do sul.
Este artigo analisa a contribuição das chamadas “lutas por terra” para a produção de novas formas de identidade e de significação social na região da Zona da Mata de Pernambuco. Por meio da análise de entrevistas com militantes dos diversos movimentos que organizam ocupações de terra na região, foi possível compreender que, além da posse de um pedaço de lote, tais organizações criam condições inéditas para a transformação dos seus líderes em figuras de destaque nas instâncias políticas dos pequenos municípios da região, contribuindo assim para a modificação das estruturas tradicionais de poder nos territórios em que operam. Palavras-chave: movimentos sociais; ocupações de terra; impactos regionais. Abstract: The article analyzes the role of the land struggles on the creation of new forms of identity and social meanings in the sugar-cane plantation region, state of Pernambuco, Brazil. Analyzing interviews with militants engaged in various movements, we can perceive that beyond providing land ownership, these organizations are creating new conditions to transform their leader’s lives and to modify the power structures in the regions where they act. Keywords: social movements; land struggles; regional impacts.
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