A permanente incidência de reformas no campo educacional brasileiro fez com que uma pesquisa sobre as memórias da língua francesa entre as décadas de 1960 e 1970, no então Instituto de Educação Caetano de Campos (IECC), pudesse se conectar ao contexto imediato dessa investigação iniciada em 2016. Tendo como referência as coincidências, sobretudo entre a lei nº 5692 (BRASIL, 1971), a Medida Provisória nº 746 (BRASIL, 2016) e a lei nº 13.415 (BRASIL, 2017), este artigo visa discutir as políticas linguísticas no Brasil em perspectiva, partindo de registros que perpassam o período entre aquelas lembranças do IECC no contexto da ditadura militar e o momento mais recente de publicação da Base Nacional Comum Curricular (MEC, 2018), bem como de tramitação do Projeto de Lei Escola sem Partido. Nesse percurso, destacaremos o recorrente silenciamento do discurso (ORLANDI, 2007) de estudantes e professores em seus territórios de aprendizagem (de outrora e de agora) e o relacionaremos à negligência programática de políticas comprometidas com o plurilinguismo nos currículos brasileiros. Em meio a tal movimento de retrocessos, problematizaremos o apagamento de práticas e saberes relacionados a experiências com línguas na escola, para apontarmos, como possibilidade de resistência nesse cenário, o ensino-aprendizagem desses conteúdos sob a uma perspectiva crítica e decolonial (PARDO, 2018).
Entre documents et mémoires de l'école paulistana: les dernières années de la langue française dans le réseau public / Entre documentos e memórias da escola paulistana: os últimos anos da língua francesa na rede pública
Este artigo tem como objetivo revisitar uma atividade com o jongo Pisei na Pedra (2014) que figura no guia Nossa Casinha (no prelo), material destinado a educadores/as para a mediação de sequências didáticas (SD) de língua portuguesa com crianças em situação de migração/ refúgio. Avaliamos tal proposta de trabalho como uma forma de expressão afro-brasileira caracterizada pela integração de cantos, sons de tambores, dança coletiva e elementos de espiritualidade (Rufino, 2014). O cruzamento dessa assemblagem (Pennycook, 2017) com uma pedagogia enativo-performativa, que une as raízes biológicas e as raízes estéticas das linguagens poéticas (Maturana & Varela, 1987; Lecoq, 1997 apud Aden & Eschenauer, 2020), permitiu a criação de um quadro teórico-analítico translíngue, por meio do qual o jongo possa ser vivenciado e reverenciado como manifestação afro-diaspórica em práticas educativas antirracistas, na potência de sua composição estética, emergente, experiencial, corporificada e transformativa. Além disso, o confronto à compartimentalização, ao assimilacionismo e ao monolinguismo escriturístico, características que atravessam as práticas de linguagem do guia em análise, permite a expansão de possibilidades de trabalho no campo do português como língua adicional, ao proporcionar um olhar que acata a complexidade, a relacionalidade e a afetividade como elementos constitutivos de nossas vivências em educação linguística transformadora.
O Bulletin de Français Instrumental (1988-1991) teve como núcleo editorial o Departamento de Francês da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em momento crucial da oferta de cursos de leitura instrumental de textos em francês nas universidades brasileiras. Tratava-se de um material de difusão dessas formações, bem como de integração dos pesquisadores da área no Brasil. Por meio da análise temática dos artigos do Bulletin, nosso intuito é destacar a leitura como mediadora do processo de legitimação de uma disciplina, nesse caso, da língua francesa no campo universitário. Além desse destaque, será possível, por fim, vislumbrar que a atuação do grupo de colaboradores daquela publicação foi a de precursores de outras experiências dessa língua no meio acadêmico, como o recente Français sur Objectif Universitaire (FOU).
O presente trabalho tem como referência dois contextos de imposição de reformas sobre a educação básica brasileira: o primeiro decorrente da lei federal 5.692 (BRASIL, 1971) e o segundo, da Medida Provisória (MP) 746 (BRASIL, 2016), seguida da lei 13.415 (BRASIL, 2017). Ao investigar esses dois momentos, esta tese visa demonstrar a potência do trabalho de memória (BOSI, 2012) e de registro (ZABALZA, 2004; MELLO; BARBOSA; FARIA, 2017) para a discussão sobre o ensinoaprendizagem de língua francesa nas escolas do Brasil. Por meio de uma investigação sobre documentos e lembranças que apontam práticas daquela disciplina no Instituto Caetano de Campos entre 1960 e 1970, constatam-se silenciamentos (ORLANDI, 2007) de vozes docentes, bem como retrocessos políticos que ecoam permanentemente em nossos currículos. Ao longo do primeiro semestre letivo de 2018, buscamos ressignificar tal constatação, realizando uma pesquisa autoetnográfica em Escola de Ensino Fundamental onde o francês foi inserido como componente curricular. Como resultado dessa experiência de ressignificação e de conexão entre o passado e o futuro, emerge o protagonismo da documentação pedagógica (REGGIO EMILIA, 2014), para tornarem visíveis e possíveis a constituição e a resistência de corpos pedagógicos (TELLIER, CADET, 2014) que, a despeito de ciclos recessivos, ousam ensinar línguas estrangeiras, notadamente, o francês, em comunidades de aprendizagem do país. Palavras-chave: Língua francesa. Educação básica. Memória. Documentação pedagógica. Corpos pedagógicos.
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