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No seu famoso ensaio «Literatura de dois gumes», publicado em 1966, Antonio Candido resume de maneira instigante a sua visão geral com respeito à literatura colonial: Historicamente a literatura do período colonial foi algo imposto, inevitavelmente imposto, como o resto do equipamento cultural dos portugueses. E este fato nada tem de negativo em si, desde que focalizemos a colonização, não pelo que poderia ter sido, mas pelo que realmente foi como processo de criação do país, com todas as suas misérias e grandezas. (Candido 2006a: 213)
De 1897 a 1899, Aluísio Azevedo esteve como vice-cônsul em Yokohama. Nesses anos concebeu e esboçou um livro sobre a cultura e sociedade japonesas no passado e no presente, do qual chegou a escrever somente a primeira parte, dedicada à História do Japão. Este fragmento, publicado em 1984 por Luiz Dantas, possibilita analisar a visão de Azevedo da nação e cultura japonesas, a serem compreendidas dentro do contexto histórico do fim do século XIX e em relação com as conflitividades internas da nação e cultura brasileiras como Azevedo as tratou nos seus romances naturalistas. Aluísio Azevedo, naturalistaAluísio Azevedo, nascido em 1857 em São Luís do Maranhão, é visto como o primeiro e mais importante representante do Naturalismo na história literária brasileira. Inspirado por Émile Zola, mas também pelo português Eça de Queiroz, iniciou a vertente brasileira desse programa literário em 1881 com o romance O mulato, onde criticou e denunciou as injustiças da escravidão como também o racismo 'estrutural' da sociedade brasileira. 2 A percepção da dimensão social do racismo no romance continua atual e reveladora, mostrando que a concreta cor da pele do 'mulato' não é tão relevante como a sua descendência enquanto 'filho de uma escrava', um fato que nunca consegue apagar 1 Doutor em Estudos Latino-americanos, professor de Espanhol e
O romance Rakushisha de Adriana Lisboa trata de diferentes aspetos da experiência da alteridade e se insere numa série de produções literárias recentes em que escritores brasileiros contam histórias situadas fora do país ou representam experiências próprias no estrangeiro. Rita Olivieri-Godet caraterizou esta tendência como ambivalente, no sentido de representar uma escrita voltada para o outro, mas sempre ligada a temáticas brasileiras -originadas, situadas, vigentes no contexto cultural brasileiro: A produção romanesca brasileira […] apresenta-se autocentrada, voltada para o questionamento da formação histórica da nação, expondo as relações de força que determinam a construção de projetos identitários diversos e antagônicos. […] Até mesmo quando a ação do romance está situada em terras estrangeiras, o objetivo primeiro desse olhar cruzado continua sendo as imagens de uma realidade brasileira que se revela através do contato com o Outro, através do olhar do Outro. (Olivieri-Godet 2007: 235)
Devido à sua extraordinária importância cultural e social, o futebol no Brasil é um elemento decisivo para a esfera política que tenta aproveitar o esporte para os seus fins. Ao mesmo tempo, no nível da micropolítica, é a dimensão que articula grande parte das dinâmicas sociais e culturais, da identificação individual e coletiva com um time ou clube até às mais variadas formas de comunicação e codificação midiática. Dentro dessa polaridade, o futebol vem sendo um dos veículos privilegiados e um dos campos mais cobiçados para a concepção e concretização de identidades clubísticas, locais e regionais, culminando nas propostas identitárias nacionais do “país do futebol” e do “melhor futebol do mundo”. Essa dinâmica acompanha, articula, visualiza e até origina as rupturas que vem marcando o Brasil enquanto nação na sua história recente.
Já é um lugar comum constatar que a “nona arte” da narrativa gráfica, da história em quadrinhos ou da banda desenhada vem ganhando cada vez mais em visibilidade e prestígio, vivendo sucesso comercial nas mais variadas áreas e camadas sociais, exercendo uma crescente influência e significância cultural — nos termos de subcultura e cultura popular e também de cultura erudita —, entrando em cânones literários, icônicos e cinematográficos, inclusive estabelecendo e revisando cânones próprios, diferenciando-se internamente em subgêneros e projetos transversais. Os textos escolhidos para este dossiê apresentam um panorama, inevitavelmente incompleto e seletivo, mas amplo e representativo das dinâmicas das HQ brasileiras atuais na sua profundidade e especificidade históricas, enfocando aspectos da sua produção e circulação, da sua recepção nacional e internacional, e da sua transposição ou adaptação entre diferentes mídias, suportes e contextos culturais. É a partir da análise concreta dessas bases materiais das obras e dos discursos ligados a elas que fica visível a riqueza e força da produção de HQs no Brasil, que vem se consolidando no campo nacional e vai ganhando cada vez mais visibilidade, importância e respeito no palco internacional.
A obra de Fábio Moon e Gabriel Bá evidencia de forma particular os conflitos e as tensões existentes entre os diferentes campos culturais envolvidos na produção e circulação de histórias em quadrinhos, inspirando a observar a sua evolução num jogo de forças e dinâmicas parcialmente conflitivas, aparentemente contraditórias, mas que afinal compõem um panorama concludente das caraterísticas do gênero e da sua circulação nos campos nacionais e internacionais.
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