OBJETIVO: Este artigo analisa e compara os dados de consumo alimentar de duas populações ribeirinhas da Amazônia vivendo em ecossistemas contrastantes de floresta tropical: a várzea estacional e a floresta de terra firme. MÉTODOS: Foi estudado o consumo alimentar de 11 unidades domésticas na várzea (Ilha de Ituqui, Município de Santarém) e 17 na terra firme (Floresta Nacional de Caxiuanã, Municípios de Melgaço e Portel). O método utilizado foi o recordatório de 24 horas. As análises estatísticas foram executadas com o auxílio do programa Statistical Package for Social Sciences 12.0. RESULTADOS: Em ambos os ecossistemas, os resultados confirmam a centralidade do pescado e da mandioca na dieta local. Porém, a contribuição de outros itens alimentares secundários, tais como o açaí (em Caxiuanã) e o leite in natura (em Ituqui), também foi significante. Além disso, o açúcar revelou ser uma fonte de energia confiável para enfrentar as flutuações sazonais dos recursos naturais. Parece haver ainda uma maior contribuição energética dos peixes para a dieta de Ituqui, provavelmente em função da maior produtividade dos rios e lagos da várzea em relação à terra firme. Por fim, Ituqui revelou uma maior dependência de itens alimentares comprados, enquanto Caxiuanã mostrou estar ainda bastante vinculada à agricultura e às redes locais de troca. CONCLUSÃO: Além dos resultados confirmarem a importância do pescado e da mandioca, também mostraram que produtos industrializados, como o açúcar, têm um papel importante nas dietas, podendo apontar para tendências no consumo alimentar relacionadas com a atual transição nutricional e com a erosão, em diferentes níveis, dos sistemas de subsistência locais.
Desde a retomada do pensamento ecológico-evolutivo na antropologia, com a Ecologia Cultural proposta por Steward (1949), a Amazônia tem sido palco de inúmeras discussões sobre o papel que o meio ambiente desempenha na estruturação das sociedades humanas, bem como na dinâmica evolutiva dessas populações (Stewardtrabalhos desenvolvidos sobre a adaptabilidade humana na região foram dominados por um conjunto de idéias que se originaram no paradigma determinista ecológico das décadas de 1960 e 1970 (Murrieta e Dufour, 2004).Como conseqüência dessa orientação teórica, na maior parte das discussões sobre a natureza das limitações ambientais na Amazônia, identifica-se uma tendência à escolha de fatores limitantes únicos (Moran, 1991). Um exemplo disso é que a planície amazônica é classicamente dividida em dois grandes ecossistemas, com base na produtividade de suas terras: a várzea e a terra firme (Moran, 1993).Betty Meggers, inspirada nas idéias de Steward, propôs que a terra firme e a várzea, imporiam distintas limitações ambientais às culturas humanas (Meggers, 1958). Nessa classificação, as populações das várzeas, diferentemente das de terra firme, ocupavam áreas de melhor potencial agrícola, o que teria possibilitado uma população mais densa e sedentária, bem como alguma forma de estratificação social (Meggers, 1958). Alguns autores se opuseram a essa visão (Carneiro, 1970;Gross, 1975), defendendo diversos outro fatores responsáveis pela limitação à complexificação social na Amazônia. A proposição que gerou maior repercussão foi a de que a escassez de proteína animal seria o fator limitante à ocupação humana na região (Gross, 1975). Novamente, diversos pesquisadores levantaram críticas pertinentes a esse modelo, as quais incorporavam elementos como: a possibilidade de acesso à proteína vegetal da Floresta Tropical (Beckerman, 1979); a abundância de recursos aquáticos que poderiam fornecer quantidades suficientes de proteínas (Carneiro, 1995); a diversidade e complexidade dos ambientes Amazônicos (Sponsel, 1986); a complementaridade da várzea e da terra firme (Denevan, 1996); e a habilidade das populações humanas locais em usar a grande diversidade de recursos e microambientes de maneira eficiente (Moran
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