RESUMO Neste artigo, compreende-se a trajetória das Fábrica de Chapéus Mangueira (FCM) nas condições históricas e sociais da nova ordem republicana, nos anos de 1898 a 1920. Analisa-se o lugar dessa experiência histórica situada no contexto e na região do subúrbio da Mangueira, no Rio de Janeiro. Discorre-se sobre a projeção da FCM no cenário industrial e comercial juntamente com as greves que afetaram o setor chapeleiro, identificando-se os conflitos que se deram, dentro das condições do mundo do trabalho carioca. Por fim, discute-se o sentido construído de uma fábrica portadora de uma missão, sendo orgânica no nascente mundo protestante por meio do seu proprietário, José Luiz Fernandes Braga, demarcando, assim, a sua singularidade como missionária. Desse modo, aborda-se como uma unidade fabril esteve historicamente enredada aos mundos da produção, do trabalho e da religião, dentro da nova e conflituosa ordem republicana em construção.
This article is a social and historical narrative of the hats and the hat makers in Brazil in the 19th century and presents aspects of the production, the use and the social representations connect to clothing and fashion. It talks about the labor world and the hat market world in a set of social transformations in the urban context of Rio de Janeiro. On one hand, a network of importers, auctioneers, milliners and hat makers provided distinctive models for consumption; on the other hand, workers and employees were responsible for conflicts due to the conditions which were imposed to this labor force, which included slaves and free wage workers. As a part of this scene, the article shows the existing connections between the cities of Braga and Rio de Janeiro through the lives of Portuguese immigrant hat makers who were the protagonists of the raising of an important hat factory in the central region of Rio de Janeiro and in Mangueira region in the republican period.
IntroduçãoMuito mais do que a simples proteção da cabeça, o chapéu serviu, no Brasil oitocentista, para a identificação e a distinção social, adaptado às diferentes situações sociais, estações, ambientes, tempo e clima. Havia uma simbologia política nos idos de 1831, quando quem usava o chapéu nacional era considerado liberal exaltado e usar o importado, sobretudo inglês, "levava seu dono a ser alcunhado de absolutista, rendido ao estrangeiro e não patriota" (Beloch; Fagundes, 1997, p.69-70).Já na república proclamada, seu significado associou-se à modernidade do novo regime, como depreendemos nesta propaganda:Viva a
O artigo objetiva analisar o mundo do trabalho carioca e chapeleiro tal como se configurou na experiência da Fábrica de Chapéus Mangueira, nas três décadas seguintes após a morte do seu fundador, inserido no contexto das transformações políticas, econômicas e sociais, da “Era Vargas”. Utilizamos como fontes as listagens de empregados da FCM entre 1931 e 1954, impressos, jornais, inventários, testamentos, e um livro de instrução para mestres, publicado pela fábrica em 1947, além de fotografias e de depoimentos orais. Com base nesse acervo documental, intento compreender as suas vivências mais concretas no ambiente do cotidiano da fábrica, onde se reproduziram complexas relações sociais, étnicas, de poder e de gênero. Chapeleiras e chapeleiros foram, a seu modo, protagonistas de um processo que lhes fora avassalador em termos de exigências, cobranças, ameaças e lutas pela conquista, garantia e preservação dos seus direitos.
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