Resumo O material que aqui apresento constituiu parte de minha pesquisa junto à Comunidade Kilombola Morada da Paz, situada em Triunfo/RS, formada majoritariamente por mulheres negras. As pessoas que lá residem são consideradas filhas de uma preta velha, Mãe Preta, e de um exu, Seu Sete, que guiam e orientam os caminhos da comunidade e de suas integrantes. Tudo o que ocorre no mundo faz parte do que chamam espiritualidade e participa do que chamam guerra cósmica. Minha presença no local e a escrita da tese não foram percebidas como externas a isso. Dessa forma, tanto o trabalho de campo quanto a escrita foram acompanhados minuciosamente pelas cinco mais velhas e fundadoras da comunidade, conhecidas como as Yas (as mães) e o Baba (o pai). Na medida em que entendem que “a palavra é magia”, o processo de escrita da tese produzia efeitos na comunidade que, por sua vez, interferia diretamente nele. Nesse processo, produziu-se um intercessor ao clássico recurso textual ‘nós e outros’ da Antropologia. Criou-se um outro “nós e outros” no texto, a convite das Yas, tendo em vista a “guerra cósmica” em curso. Coube a mim traduzir, para a Antropologia, os efeitos experimentais dessa criação.
A partir das provocações do feminismo descolonial a cerca de outras formas de relação que não pautados pelos sistemas de gênero e de sexo, trago a cosmopolítica desenvolvida na comunidade kilombola Morada da Paz, a partir do trabalho de campo que realizei durante o doutorado. Descrevo que o feminino concebido na comunidade se apresenta como força, ou seja, como algo que tem poder de ação no mundo. Essa ação é produzida principalmente através do cuidado e da cura, o que faz da Morada da Paz uma curandeira, que são elaborados a partir de uma perspectiva ecológica. Através da cura e do cuidado uma guerra cósmica é travada.
Esse artigo recupera alguns dados da minha dissertação de mestrado para apresentar um jogo singular, chamado “guerra”, que acontece na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, protagonizado pelas tribos carnavalescas, que existem desde a década de 1950 e eram as principais atrações do carnaval da cidade. Hoje, contudo, existem apenas duas, “Os Comanches” e “Os Guaianazes”. O trabalho etnográfico que aqui apresento acompanha os processos criativos da tribo “Os Comanches” durante o carnaval de 2012. Pretendo apresentar como o jogo, a guerra, funciona enquanto um dispositivo de invenção de elementos considerados “afro” e “indígenas”, elementos esses que só existem em relação entre si.
Esse artigo apresenta parte do material de pesquisa oriundo da minha tese de doutorado, desenvolvido junto à comunidade kilombola Morada da Paz, também conhecida como Território de Mãe Preta. A comunidade está localizada na zona rural do município de Triunfo/RS e é formada majoritariamente por mulheres negras. Caracteriza-se por ser uma comunidade espiritual que segue as orientações de uma preta-velha, Mãe Preta, e um exu, Seu Sete. Foi com as mais velhas da comunidade, reconhecidas como Yas e Baba, que aprendi sobre o conceito de ocupação. O intuito aqui é recuperar esse conceito, apresentando suas singularidades na relação com outros entendimentos de ocupação. Argumento, por fim, que, assim como as “retomadas” indígenas e a “reativação” das bruxas neopagãs estadunidenses, a ocupação elaborada pela Morada, é também uma “receita de resistência” contra as investidas coloniais e capitalistas.
Professora do Departamento de Antropologia (DAN/UFAM) e do Programa de pós graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFAM). Doutora em Antropologia Social (MN/UFRJ) e Mestra em Antropologia (IFCS/ UFRJ). Professora do Departamento de Antropologia (DAN/UFAM) e do Programa de pós graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFAM). Desenvolve pesquisa sobre Antropologias das populações afro-brasileiras e Estudos Feministas.
En Amazonie, l’une des régions du Brésil les plus touchées par l’épidémie de COVID-19, les statistiques épidémiologiques publiées par les autorités brossent un tableau de la crise sanitaire qui interroge, car il ne considère pas ou trop partiellement le sort des populations issues des minorités ethniques et culturelles qui habitent la région. Au cours de la première vague épidémique (de février à juillet 2020), une équipe de 11 chercheurs a recensé et analysé la mobilisation des populations autochtones et quilombolas, et leur appropriation de l’outil statistique, pour apparaître dans les chiffres officiels. En réaction à ces mobilisations, les bulletins épidémiologiques publiés par les États et les communes amazoniennes ont fortement évolué d’un mois sur l’autre, faisant apparaître différentes lectures de la crise sanitaire, ancrées dans les imaginaires et les enjeux de pouvoir des régions amazoniennes. L’analyse met en évidence ce combat, discret mais essentiel, des minorités ethniques du pays, pour que soient actées, par les chiffres et dans les discours, les conséquences de l’épidémie sur leurs populations.
Esse artigo pretende recuperar o material etnográfico produzido em minha dissertação de mestrado junto à Tribo Carnavalesca Os Comanches, em Porto Alegre. As tribos são grupos que se apresentam no carnaval da cidade, cuja performance denominam guerra. Para a elaboração deste ritual, articulam os conceitos de índio, negro e branco. Gostaria aqui de descrever como os meus interlocutores produzem a guerra comancheira, e como criam os conceitos supracitados, na tentativa de pôr em relação o conceito de guerra com o clássico conceito de mestiçagem. Desenvolvo uma aposta analítica na ideia de ‘fluxo afroindígena’ para essa descrição, um modo de relacionar diferenças sem submetê-las a uma unidade, tal como ocorre com a ideia de mestiço.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.