Excertos do livro de James Mill "Éléments d'économie politique" Karl Marx Na compensação do dinheiro e do valor em metal, como na apresentação dos custos de produção como o único momento na determinação do valor, Mill comete-assim como a escola de Ricardo em geral-o erro de enunciar a lei abstrata sem a mudança ou sem a constante suspensão (Aufhebung) dessa lei-unicamente por meio da qual ela vem a ser. Se é uma lei constante que, por exemplo, os custos de produção em última instância-ou, antes, na coincidência de demanda e oferta que se cumpre de forma esporádica, contingente 1-determinam o preço (valor) 2 , então é igualmente uma lei constante que essa relação não coincida, isto é, que o valor e os custos de produção não estejam em nenhuma relação necessária. De fato, demanda e oferta coincidem tão-somente de maneira momentânea através das oscilações precedentes de demanda e oferta, através da desproporção entre custos de produção e valor de troca, assim como essa oscilação e essa desproporção se seguem novamente à coincidência momentânea. Esse movimento efetivo, do qual aquela lei é apenas um momento abstrato, ocasional e unilateral, a mais recente Economia Política o torna um acidente, algo não essencial. Por quê? Porque nas fórmulas exatas e precisas às quais a Economia Política a reduz, a fórmula fundamental, caso eles queiram enunciar aquele movimento abstratamente, deveria ser: a lei, na Economia Política, é determinada pelo seu contrário, a ausência de lei. A verdadeira lei da Economia Política é o acaso, de cujo movimento nós, os científicos, fixamos arbitrariamente alguns momentos na forma de leis. A essência da coisa é alcançada, e muito bem, em um conceito quando Mill designa o dinheiro como o mediador da troca. A essência do dinheiro não consiste, em primeiro lugar, em que nele a propriedade é alienada, 3 mas em que o movimento ou a atividade de mediação, o ato humano, social, mediante o qual os produtos dos homens se complementam mutuamente, é alienado* e se torna a característica de uma coisa material exterior ao homem, o dinheiro. Na medida em que o homem 1 No manuscrito, "contingente" encontra-se acima de "esporádica". (N.E.A.-Nota do editor alemão). 2 No manuscrito, "(valor)" encontra-se acima de "preço". (N.E.A.). 3 Onde o verbo "alienar" e seus adjetivos e substantivos derivados forem seguidos de um asterisco ("trabalho alienado*"), trata-se, no original, do alemão entfremden; na ausência do asterisco, de entäußern. (N.T.-Nota do tradutor.).
Buscamos explorar os desdobramentos da intuição básica de Roberto Schwarz em seu ensaio “As ideias fora do lugar” na obra do filósofo Paulo Arantes. O ponto de vista da periferia do capitalismo (que supera a si mesmo enquanto ponto de vista) não apenas fornece uma visada privilegiada para a compreensão do funcionamento ideológico das sociedades que se desenvolvem à margem do centro orgânico do capital, como também revela a verdade do próprio centro. Esse modelo de crítica se desdobra nos estudos de Arantes sobre a ideologia e em sua tese sobre a periferização do centro no momento do colapso. Investigamos assim se os pressupostos materiais e categoriais daquilo que dava sentido a “Ideias fora do lugar” persistem no instante em que a formação nacional se apresenta como terminada.
Referindo-se à sua tentativa de renovação da teoria crítica da sociedade a partir de uma teoria do reconhecimento, os mais precipitados críticos de Axel Honneth costumam caricaturá-lo como um teórico que, em face do sempre crescente enrijecimento das relações sociais de dominação no mundo contemporâneo e da imensa dificuldade de retomar de maneira promissora a sua crítica, prescreve tão somente que deveríamos "nos reconhecer mais". Ocorre que cada nova obra de Honneth parece jogar mais água no moinho de tais críticos e tornar essa caricatura cada vez mais realista.Em outubro de 2015, foi publicado pela Suhrkamp seu mais recente opúsculo, "Die Idee des Sozialismus", uma tentativa, como reza o subtítulo, de atualização da ideia de socialismo, ideia envelhecida, para Honneth, desde o momento em que perdeu o amparo histórico que encontrava nas sociedades ocidentais de economia industrial do século XIX. Honneth esforça-se por mostrar que a ideia é velha, por certo, mas não caduca. Para isso, no entanto, precisa retraçar seus contornos com tal inventividade que, ao cabo, não lhe assusta que poucos dos "partidários" do socialismo estariam prontos para reconhecê-lo em sua nova imagem (p. 163). Mas Honneth não acredita estar desfigurando, mas apenas depurando de contingências históricas e trazendo a ideia a um nível de abstração mais elevado. A expectativa, por paradoxal que pareça, é que, nessa nova forma altamente abstrata e quiçá irreconhecível, a ideia ganhe força motivacional, alcance novamente a "virulência" que teria perdido (p. 20).
O artigo sustenta as seguintes teses interpretativas acercado ensaio “Estado autoritário”, de Max Horkheimer: a) que há, nestetexto, uma particular tensão, de difícil resolução, entre uma posturapessimista e uma otimista por parte do autor, que remonta a um modotenso de compreender a separação entre teoria e práxis; b) que essastensões podem ser melhor compreendidas à luz da máxima horkheimerianado “pessimismo teórico” e do “otimismo prático” e também,paralelamente, às influências contextuais e, em certo sentido, contraditórias,de Friedrich Pollock e Walter Benjamin. Assim, busca-se exploraressas influências a fim de melhor compreender como os pólosdaquelas tensões puderam encontrar uma articulação dialética emHorkheimer naquele singular momento histórico.
O artigo oferece uma interpretação do conceito adorniano de carência, foco do primeiro capítulo da primeira parte da Dialética Negativa. Pretende provar a centralidade desse conceito para a compreensão, não só da crítica de Adorno à ontologia fundamental heideggeriana, mas também, da sua noção de crítica imanente em geral. Para alcançar esse objetivo, o artigo reconstrói o tratamento do conceito de carência em Kant, Hegel e no jovem Marx, indicando como esse tratamento viria a exercer influência em Adorno. Em seguida, mostra-se como tal conceito é atualizado por ele a partir do diagnóstico de tempo do capitalismo tardio, e quais as consequências dessa reconfiguração para a formulação de uma dialética negativa.
RESUMOO artigo sintetiza as revisões que Axel Honneth impôs a sua obra após a recepção crítica de Luta por reconhecimento (1992), propondo compreendê-las como passos intermediários em direção ao novo modelo crítico apresentado em O direito da liberdade (2011), chamado por Honneth de reconstrução normativa. O objetivo não é examinar as determinações de método da reconstrução normativa, mas percorrer o caminho intelectual de Honneth entre suas duas obras principais, explicitando as revisões e os novos pressupostos da obra "madura" do autor. Essas revisões, concentradas ao redor de uma compreensão considerada por Honneth como mais adequada da intersubjetividade e da ontologia social, escoram e justificam as decisões de método do último livro. Desde o início de sua elaboração teórica, Honneth teve de lidar com a objeção de cometer sistematicamente uma falácia naturalista ao buscar o fulcro de uma teoria crítica da sociedade na experiência concreta do sofrimento. Mesmo Luta por reconhecimento ainda esteve justificadamente sujeito à mesma crítica, como Honneth viria a admitir. Argumento que o objetivo das revisões levadas a cabo na década de 2000 foi sanar essa lacuna, encontrando, por um lado, um índice de racionalidade interno ao próprio ato de reconhecimento, e, por outro, um índice de racionalidade presente nas normas e práticas sociais sedimentadas historicamente por relações de reconhecimento. Palavras-chave: Teoria Crítica da Sociedade. Reconhecimento. Reconstrução. ABSTRACTThe article synthesizes the revisions Axel Honneth imposed to his work after the critical reception of The Struggle for Recognition (1992) and proposes to unterstand them as intermediate steps towards the new critical model stabilized in Freedom's Right (2011), which Honneth calls normative reconstruction. The purpose is not to examine the methodical determinations of normative reconstruction, but to go through the intellectual path taken by Honneth between his two main books, making explicit the revisions and the new presuppositions of his "mature" work. These revisions, focused in an unterstanding of intersubjectivity and social ontology considered by Honneth as more adequate, sustain and justify the decisions of method of that latter book. Since the beginning of his theoretical work, Honneth had to deal with the objection of systematically commiting a kind of naturalistic fallacy as he sought the basis for a critical theory of society in the concrete experience of suffering. Even The Struggle for Recognition was still justifiably subjected to that same criticism, as Honneth himself admitted. I argue that the aim of the revisions carried out in the decade of 2000 was to solve that gap finding, on the one hand, an index of rationality internal to the very act of recognition and, on the other hand, an index of rationality present in the social norms and practices historically sedimented through relations of recognition.
ResumoO artigo busca inserir a obra Como nasce o novo no contexto mais largo da produção teórica de Marcos Nobre, formulando a partir daí três objeções. A primeira delas tenta deixar à mostra uma contradição entre a ideia de uma “atualização” da Fenomenologia do espírito e o par de conceitos de “diagnóstico” e “modelo” de Nobre. A segunda contesta a ideia de uma diferença radical entre o “projeto moderno” do Hegel autor da Fenomenologia e do autor da Enciclopédia, considerando, junto do aspecto temporal da ideia de modernidade, também seu aspecto espacial. Por fim, a terceira questiona o caráter crítico da redução da ideia de fenomenologia em Nobre à ideia de uma “visadada subjetivação da dominação” e a tentativa de desvincular “reconstrução” e “intersubjetividade”. AbstractThe essay aims at inserting the book Como nasce o novo in the broader context of Marcos Nobre’s theoretical production, and then at formulating three objections. The first one tries to expose a contradiction between the idea of an “actualization” of the Phenomenology of Spirit and Nobre’s pair of concepts “diagnosis” and “model”. The second one contests the idea of a radical difference between the “project of modernity” of Hegel, the author of the Phenomenology, and Hegel, the author of the Encyclopedia, considering along the temporal aspect of the idea ofmodernity also its spatial aspect. Finally, the third one puts in question the critical character of the reduction of the idea of phenomenology to the idea of a “point of view of subjectivation of domination” and the attempt to detach “reconstruction” and “intersubjectivity” from each other.
PUCCIARELLI, Daniel. Materialismus und Kritik: Konzept, Aussichten und Grenzen des Materialismus um Ausgang von der Negativen Dialektik Theodor W. Adornos. Würzburg: Königshausen & Neumann, 2019.
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