ResumoProcuro, neste artigo, articular as formas de torcer que historicamente engendraram a sociabilidade em torno do futebol. Para tanto, discuto as transformações na sensibilidade torcedora que, acossada pelas experiências tecnológicas, mercadológicas e subjetivas do individualismo, tendeu a esvaziar algumas das experiências públicas e coletivizadoras responsáveis pela alta projeção do futebol como mediador das relações lúdicas cotidianas nos centros urbanos brasileiros. Palavras-chave
Apresentação -O mundo torcido e (des)organizado por um vírus 1 O ano de 2020 ficará marcado na história como um evento crítico, quando uma pandemia assolou, quase que subitamente, todos os continentes, trazendo mortes e caos por onde passou. Com um enredo digno das narrativas distópicas da literatura e do cinema, a COVID-19, popularmente conhecido como o novo coronavírus -ou simplesmente coronavírus 1 -, foi responsável por induzir um confinamento em massa, alocando pessoas por todo o mundo em suas casas em regime de isolamento, provocando assim a paralisação de serviços considerados não essenciais e nos apresentando a realidade compulsória do home-office e do desemprego em massa. 2Entre os meses de março e abril e em meio à avalanche de estatísticas vindas das redes mundiais e locais de saúde, que revelaram o agravamento da pandemia pelo nomeado novo coronavírus (COVID-19), um vórtice de informações e contrainformações espalhadas como o próprio vírus ocupou os noticiários políticos, econômicos, religiosos Redes populares de proteção: Torcidas Organizadas de futebol no contexto da p...
M OVIMENTAÇÕES R E C E N T E S E M TOR NO DO FUTE-BOL BRASILEIROEstamos há meses da realização da segunda Copa do Mundo sediada no Brasil, e a avalanche de informações quase diárias que nos capturam tenta manter a opinião pública próxima aos andamentos e preparativos daquele que é reconhecidamente o maior megaevento esportivo do planeta 1 . Curiosamente as notícias sobre a Copa parecem rivalizar com o cotidiano esportivo nacional, que segue com seus campeonatos 2 , mobilizando emoções parciais e locais e engendrando os dramas e as alegrias torcedoras ainda um tanto alheias ao espetáculo globalizado que se avizinha. nesta segunda Copa do Mundo -evento cada vez mais personificado na entidade esportiva que o viabiliza politicamente, a Fifa -reencontramos um Brasil social, político e economicamente mais complexo e robusto se comparado àquele que deixamos para trás na ocasião da primeira Copa aqui realizada. Promessa em 1950,o Brasil ostenta hoje, no âmbito internacional, o lugar mais alto entre as chamadas potências futebolísticas, em que pesem as estatísticas oficiais da Fifa e a ciranda que promove entre seleções em seu ranking.Mas aquele mesmo país que flertava com a utopia civilizatória convertida em projeto modernizador celebrava na aventura da primeira Copa todo um clima cujo marco político e arquitetônico comparativo se daria logo em seguida com a monumentalidade de Brasília. A construção do Maracanã e a posterior inauguração de Brasília serviriam como palcos ou arquibancadas ruidosas de um nacionalismo que logo seria ressignificado pela ditadura, matizando seus propósi-tos, porém ciosa das conquistas esportivas internacionais a partir de 1958. Em meio aos processos de globalização, revoluções tecnológicas e protestos vindos de tantas demandas, o mundo hoje é capturado por novas dinâmicas de participação política e esportiva e, no âmbito do futebol, a Fifa reencontrou um Brasil mais cético, mais inquiridor pelas vozes e corpos táticos vindos das ruas, um Brasil aparentemente mais participativo, até mesmo em função das garantias constitucionais que mantêm as estruturas formais de representação desde o pós-ditadura, porém em franca ebulição em relação aos valores claudicantes que sustentam essa mesma moldura político-jurídica formal, que essencializamos e nomeamos por democracia.Se tradicionalmente países mobilizavam suas forças políticas e econômicas, grupos empresariais e investidores, esferas pública e privada para viabilizarem suas candidaturas à Copa, a escolha do Brasil passou por costuras que fizeram desse ritual um momento quase que privado dentro da Fifa, sem a empolgaçãode outros tempos 3 .Esse momento de escolha do país como anfitrião de outra Copa do Mundo se apresenta na forma de uma conjuntura oportuna para que as pesquisas acadêmicas atentem, mais uma vez e com novas abordagens, para o fenômeno do futebol. Se em outros momentos a relação entre futebol e identidade nacional motivou pesquisadores de muitas searas acadêmicas, tais como antropólogos, sociólogos, historiadores, geógrafos, entre outros...
This essay explores the symbolic dimensions of soccer in Brazilian society from the perspective of sports anthropology. It discusses how the founding of the game was handled, in terms of stylization and standardization of rules. This, as the essay argues, would effect amplified representations in emotional regimes and adhesion to the game, thus making it a singular sports modality for understanding societies such as Brazil. IntroductionProfessional soccer, whose rules and institutionalization were brought into being by a group of professionals, diffused by media specialists and incorporated into urban sociability among so-called fans, has multiplied all over the world in specific cultural configurations. This essay aims at understanding part of the symbolic dynamics of soccer from the point of view of sports anthropology. In the context of this essay, the category professional incorporates all of those interfering directly into the game, whether on the field, such as players, coaches and referees guided by the imperatives of competitiveness, or off the field, in preparing athletes, thus highlighting another group of professionals, especially physiologists, trainers, psychologists, or still, managers, team owners and publicity agents, who are ever more involved in the organizational complex administrating the soccer spectacle. The professionals are predominantly engaged in seeking results, characteristic of the competitive dimension which makes this game a sport.Even though fans would never relinquish their teams' winning, the meanings attributed to the games go beyond mere material benefits acquired with the soccer ball. The relationship established is less determined by immediate material gain coming from scores and profits since what actually predominates is the sociability dimension of the game, resulting in differences regarding the professionals. Media discourse, on the other hand, seeks to occupy its own place, far from both professionals as well as fans, but these agents obviously fall into the professional category, albeit as specialists 'on' sports and not 'from' sports (i.e. participating in the game), hence farther away from directly disputing symbolic or material capital. This distance is enhanced by the legitimized media's pretensions of neutral and informative narrative. Here, then, are all of those who make the games possible: the professionals, who weigh sports ritual with participative and ritualistic emotions; the fans; and, finally, the media specialists, who seek to translate and ordinate in a supposedly
Resumo O artigo problematiza a categoria nativa de antijogo, circunscrita em princípio aos domínios esportivos, embora seja sabido que se está diante de uma daquelas metáforas que facilmente escapam da seara originária para se converter em noção geral do simbolismo acomodado em múltiplas práticas. Antijogo como má conduta, comumente tipificada como ação individual, está correlacionado à ideia de estabilidade normativa que ampara as relações e práticas esportivas, mas também pode remeter ao domínio da sociabilidade em contextos mais amplos em que aparece significando burla e contrafação. Neste artigo procuro não apenas rever criticamente a noção de antijogo como suposta antítese daquilo que ao longo do tempo se estabeleceu como substrato dos esportes, isto é, os jogos e passatempos desdobrados no interior dos Estados nacionais, tomando o futebol como exemplo, mas também enfrentar uma questão metodológica que assume o regime da diferença e não necessariamente o da identidade como fundamento das conceitualizações repostas em noções correntes que amparam algumas definições de jogo e, por simples inércia antagônica, as de antijogo.
O futebol, entre inúmeras práticas lúdicas historicamente esportivizadas, manteve-se hegemônico a partir de múltiplas projeções e experiências valorativas, políticas, estéticas e sensoriais, tornando-se paulatinamente uma espécie de “índice canônico” para se pensar, de modo geral, formas de sociabilidade na contemporaneidade. Em seus desdobramentos simbólicos, ele não apenas se expandiu territorialmente, como tem oferecido um conjunto de metáforas aos “modos de existência” de indivíduos e grupos. Partindo desta ideia de senso comum sobre dada “hegemonia” do futebol, mas partilhada academicamente, propomos perceber que tais “modos” se materializam e se disseminam em “múltiplos futebóis” que alcançaram expressões politizadas e que podem ser explorados “de dentro” deste fenômeno global. Para tanto, trazemos um caso ocorrido durante a Copa do Mundo da Rússia-2018 e refletimos sobre a sexualização de corpos no contexto futebolístico midiatizado, pensando o futebol pela relativização de seus modos simbólicos de impor suas regras e sociabilidade esportivas, tomadas tacitamente como universais.
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